O governo britânico enfrenta pressão do parlamento, da Anistia Internacional, da imprensa e do Itamaraty para explicar a detenção do brasileiro David Miranda, parceiro do jornalista Glenn Greenwald, autor das reportagens sobre as revelações do ex-consultor de inteligência Edward Snowden, publicadas pelo jornal The Guardian.
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O Ministério do Interior britânico se recusou a fazer qualquer tipo de declaração, mas as autoridades serão alvo de investigação aberta pelo ouvidor independente David Anderson, fiscal da legislação antiterrorismo do país.
O ouvidor irá averiguar se houve abuso na aplicação das leis antiterrorismo, que dão poderes especiais às autoridades desde 2000. Se concluir que o brasileiro foi detido ilegalmente, ele deve enviar um relatório especial ao parlamento e sugerir mudanças imediatas na legislação.
Miranda ficou retido quase 9 horas numa sala com seis agentes da Scotland Yard, quando fazia escala no país para voltar de Berlim ao Rio de Janeiro, onde o casal vive. A viagem de Miranda à Alemanha foi financiada pelo jornal britânico. Lá, visitou Laura Poitras, documentarista americana que auxilia Greenwald na divulgação dos documentos repassados por Snowden.
O brasileiro embarcou após a libertação em Londres e chegou ao Rio na manhã de ontem.
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– Havia seis agentes diferentes, entrando e saindo, falando comigo. Fizeram perguntas sobre a minha vida inteira, sobre tudo, levaram o meu computador, videogame, celular, meus memory cards, tudo – contou ele, que afirmou ter sido interrogado intensamente sobre as atividades da Agência de Segurança Nacional americana (NSA, em inglês).
A oposição trabalhista no parlamento britânico critica a detenção de Miranda. No entanto, o gabinete do primeiro-ministro David Cameron saiu em defesa das leis antiterror e disse que caberá à própria polícia examinar se houve abuso em sua aplicação.
Greenwald promete revelações “radicais” em reportagens
Ontem, Greenwald declarou que a detenção de seu companheiro foi tentativa de intimidação.
– Agora vou ser mais radical em minhas reportagens, tudo isso foi uma clara tentativa de intimidação. (…)Vou publicar muitas coisas sobre a Inglaterra também. (…) E acho que eles vão se arrepender do que fizeram.
Após uma conversa por telefone entre o chanceler brasileiro, Antonio Patriota e o ministro das Relações Exteriores britânico, William Hague, a embaixada britânica emitiu um comunicado ressaltando que o assunto é responsabilidade da polícia londrina.
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A polícia londrina, por sua vez, afirmou que não divulgará mais informações sobre o caso. A instituição se recusou a responder por que o brasileiro foi detido e o que será feito com os bens dele que foram confiscados.