O governo turco iniciou nesta sexta-feira uma caça aos signatários de uma petição que pede o fim das operações militares contra a rebelião curda e despertou a ira do presidente Recep Tayyip Erdogan, reavivando as preocupações sobre seu viés autoritário.
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Por ordem da justiça, a polícia prendeu vinte universitários que assinaram esta “chamada para a paz” e realizou operações de busca e apreensão em suas casas em Kocaeli e Bursa (noroeste), informou a agência de notícias Dogan.
Em toda a Turquia, investigações foram abertas por “propaganda terrorista”, “insulto às instituições e a República turca” e “incitamento a violar a lei” contra os signatários da petição, que podem ser condenados de um a cinco anos prisão.
Uma dúzia de universidades iniciaram procedimentos disciplinares contra mais de sessenta professores ou pesquisadores.
Esta reação é uma resposta a uma “iniciativa dos universitários para a paz” divulgada na segunda-feira por 1.200 intelectuais para exigir o fim da intervenção enérgica das forças de segurança turcas contra os partidários do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) no sudeste da Turquia de maioria curda.
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Nela, eles denunciaram “um massacre deliberado e planejado em total violação das leis turcas e tratados internacionais assinados pela Turquia”.
A petição, assinada igualmente por intelectuais estrangeiros, como o linguista americano Noam Chomsky, provocou a fúria dos líderes turcos.
Pela terceira vez esta semana, nesta sexta-feira Erdogan acusou os signatários de serem cúmplices “terroristas” do PKK e tentou justificar as acusações contra eles.
“Aqueles que se juntam ao campo dos cruéis são eles próprios cruéis e aqueles que apoiam os autores de massacres são cúmplices em seus crimes”, disse ele.
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Seu primeiro-ministro, Ahmet Davutoglu, criticou por sua vez aqueles que “legitimam as ações dos terroristas e demonizam nossas forças de segurança”.
Sob ameaça, vários intelectuais retiraram seus nomes da petição como Kemal Inal, da Universidade Gazi de Ancara. Apesar de reiterar seu compromisso “em favor da paz, da fraternidade e da amizade”, ele apontou algumas passagens da petição “um pouco duras”.
Este atmosfera de caça às bruxas provocou críticas contra Erdogan, novamente acusado de querer sufocar a liberdade de expressão.
“Expressar a sua preocupação com a violência não significa apoiar o terrorismo. Criticar o governo não é uma traição”, considerou o embaixador dos Estados Unidos em Ancara, John Bass, em declarações publicadas no Twitter.
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A oposição turca também denunciou a repressão aos curdos. Essas operações policiais “são muito perigosas e inaceitáveis”, respondeu o Partido Republicano do Povo (CHP).
“Mergulham a Turquia na escuridão”, acrescentou o Partido Democrático Popular (HDP, pró-curdo).
Depois de mais de dois anos de cessar-fogo, os combates recomeçaram no verão passado entre as forças de segurança turcas e o PKK.
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