O governo sírio aceitou nesta terça-feira a proposta de Estados Unidos e Rússia de um cessar-fogo, mas continuará combatendo os “grupos terroristas” excluídos do acordo, como o Estado Islâmico (EI).
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O anúncio foi recebido com ceticismo pelos rebeldes.
A trégua entrará em vigor no sábado à meia-noite de Damasco (19h de sexta-feira em Brasília) e exclui o grupo Estado Islâmico (EI) e a Frente Al-Nosra, braço sírio da Al-Qaeda. Ambos controlam grande parte do território sírio.
“A República Árabe síria anuncia que aceita o fim das hostilidades”, indicou nesta terça-feira o Ministério sírio das Relações Exteriores em um comunicado enviado à AFP.
Indica, porém, que continuará as “operações militares para lutar contra o terrorismo do Daesh (acrônimo do EI em árabe), da Frente al-Nosra e dos outros grupos terroristas associados, em conformidade com o anúncio russo-americano”.
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“Para garantir o êxito deste cessar-fogo, o governo sírio está disposto a se coordenar com a Rússia para determinar quais são as regiões e os grupos armados incluídos nesta trégua”, acrescenta o Ministério.
Desde o início, em 2011, da guerra na Síria, que deixou mais de 260.000 mortos, o governo não faz qualquer distinção entre ativistas, rebeldes e extremistas, considerando que todos são terroristas.
O principal grupo da oposição síria, o Alto Comitê de Negociações (HCN), anunciou na segunda-feira que aceita o cessar das hostilidades desde que seja respeitada a resolução 2254 da ONU. Adotada em dezembro passado, ela inclui a entrega de ajuda humanitária e o acesso às zonas sitiadas.
Kerry já fala em ‘plano B’
Nesta terça, o secretário de Estado americano, John Kerry, referiu-se a um eventual “plano B” para a Síria, caso o diálogo fracasse.
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“Em um, ou dois meses, saberemos se esse processo de transição é realmente sério. (O presidente sírio, Bashar al) Assad deverá tomar importantes decisões sobre a formação de um governo de transição”, declarou perante uma comissão do Senado americano.
“E, se isso não acontecer (…) evidentemente há opções, um plano B, que serão examinadas”, acrescentou Kerry, sem dar detalhes.
O presidente francês, François Hollande, afirmou nesta terça que o cessar-fogo “deve ser absolutamente respeitado”.
“O acordo de cessar-fogo é um sinal de esperança para a população síria”, estimou o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.
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“Contribui para criar um ambiente propício para retomar as negociações políticas sobre a Síria”, interrompidas em Genebra no início de fevereiro, indicou Ban.
Em declarações na segunda-feira, o presidente russo, Vladimir Putin, garantiu que Moscou, aliado militar do governo sírio, “fará o necessário” para que Damasco respeite o fim dos combates. Ele também disse esperar que os Estados Unidos façam o mesmo com os grupos rebeldes.
“Embora a proposta tenha sido recebida com ceticismo, há uma coordenação mais estreita entre Rússia e Estados Unidos, que parecem estar dispostos a ser fiadores desta trégua e a influenciar seus respectivos aliados”, explica à AFP o pesquisador Karim Bitar, do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas (IRIS).
No terreno, rebeldes e civis manifestaram, porém, suas dúvidas sobre a aplicação deste acordo.
“É uma perda de tempo. Este acordo dificilmente é aplicável”, disse à AFP Abou Ibrahim, chefe de uma facção rebelde.
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“Quem pode garantir que o regime vai parar seus bombardeios (contra os rebeldes)?”, questionou.
Para alguns ativistas, o maior obstáculo é a exclusão da Frente al-Nosra, aliada de grupos rebeldes em várias regiões da Síria.
“Este acordo é uma farsa”, estimou o ativista Zein el-Basha, proveniente de Damasco, em sua página no Facebook.
“As milícias aliadas do regime (…) estarão isentas de qualquer ato hostil, mas têm o direito de atacar as zonas controladas pela Al-Nosra e pelo EI”, alegou.
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“A Al-Nosra é um elemento essencial da oposição (armada). Ela não aceitará que a Al-Nosra seja bombardeada e, se aceitar, perderá uma força importante em terra”, comentou a farmacêutica Rama, que vive em Damasco.
O acordo foi alcançado em um momento em que a rebelião perdeu força, após uma importante ofensiva do Exército sírio, com o apoio da Aviação russa, na província de Aleppo (norte do país).
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