O relógio não parou um segundo sequer. Na rua os carros continuam a ir e vir, e às vezes param em uma fila ou sob um sinal vermelho. O sol nasceu e morreu 365 vezes e a vida parece seguir normalmente em Brusque, no Médio Vale do Itajaí, desde que a Justiça determinou a troca do prefeito pelo presidente da Câmara de Vereadores. Mas sob a regência de um governo interino, a normalidade segue perseguida pela sensação de incerteza no dia de amanhã.
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O então presidente da Câmara de Vereadores, Roberto Prudêncio Neto (PSD), assumiu o comando da cidade depois de o prefeito Paulo Eccel (PT) e o vice Evandro de Farias (PP) terem sido afastados pela cassação dos mandatos. Após uma série de recursos, o Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina (TRE-SC) determinou que o petista deixasse o cargo. Eccel ainda luta para retomar a cadeira do Executivo municipal. Há dois recursos no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), cuja votação já foi adiada seis vezes. Não se sabe quando haverá uma solução definitiva para o caso.
TRE cassa mandato do prefeito de Brusque, Paulo Eccel
O governo provisório completou um ano nesta quinta-feira. Não houve fogos de artifício para comemorar. Prudêncio optou por marcar a data com uma entrevista coletiva em que destacou as ações de 2015 e as metas da gestão para este ano. Várias das ações apresentadas são continuações do que já estava sendo tocado pelo governo anterior, assim como muitas das metas projetadas já eram situações encaminhadas. Mas também há ações e objetivos criados pela nova administração, numa espécie de plano de governo que o prefeito interino prefere chamar de “metas para 2016”.
Prefeitura de Brusque decide demitir todos secretários e cargos comissionados
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– Assumimos a prefeitura com R$ 9 milhões de déficit e conseguimos equilibrar as contas no final de 2015 – diz, antes de começar a contar o que fez e o que pretende fazer em cada área de atuação do governo municipal.
Reclamações na voz das ruas
Para Prudêncio, o último ano foi de mudanças, financeiramente difícil e agravado pela crise política do país, mas ele destaca que não houve interrupção de serviços e que a administração busca continuar e ampliar o que tem sido feito. O prefeito interino fala lentamente e demonstra controle da situação com o plano de governo pronto para o último ano do mandato inesperado que cumpre.
TSE mantém cassação do prefeito de Brusque
Apesar da confiança do prefeito interino, a insegurança se reflete na opinião de quem precisa do atendimento do governo municipal. A aposentada Carmelita Trainotti Martins, 60 anos, revela dificuldades para conseguir remédios e conta que é preciso monitorar quando a medicação chega na unidade de saúde ou na farmácia básica, porque logo acaba. Além disso, a longa espera pelas consultas é um dos problemas que ela acredita que já poderia ter sido resolvido:
– A consulta no postinho é rápida, quando tem médico demora só uns 15 dias. Mas quando precisa de especialista ou um exame específico já esperei até seis meses.
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TRE-SC determina afastamento do prefeito de Brusque, Paulo Eccel, e do vice
Em outro ponto da cidade, a costureira Ana Maria Haacke Branco sofre com um problema conhecido dos brusquenses, mas que não tinha passado em seus 58 anos de vida: a invasão da água das chuvas à sua casa. Moradora de uma transversal da Rua Nova Trento, no bairro Primeiro de Maio, ela credita o problema à obra na via principal que trocou a tubulação por onde a água deveria escoar. A falta de bocas de lobo faz com que a chuva crie um rio sobre o calçamento e invada as casas:
– Só entrou (água na casa) depois dessa obra. Eles dizem que está terminada, mas pra mim foi só problema.