Já faz mais de 40 dias que a aposentada Vera Lúcia da Silva está acamada no sexto andar do Hospital Celso Ramos (HGCR), em Florianópolis, tratando uma falência renal. A paciente de 53 anos sofre de rins policísticos e precisou tirar um deles.

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Agora entrará numa fila de transplantes e não sabe se vai levar um ou 10 anos para receber um novo órgão. E possivelmente ela tenha que viajar algumas centenas de quilômetros para realizar o procedimento, já que desde novembro de 2017 o hospital não realiza mais transplantes renais.

— Estou aqui nesse forno cozinhando, contando os dias para ir embora. Mas ainda tenho que aguardar o resultado dos exames — se queixa a paciente.

A filha da dona Vera, Ana Caroline da Luz, designer de 23 anos, é quem está cuidando da mãe. Ela levou ventilador e televisão para os dias de internação "passarem mais rápido". As duas viram os fogos do Réveillon pela janela do Hospital. Como a doença é genética, nem a Ana e outros familiares podem doar um de seus rins pra ela.

— A população tem que se unir para conseguir termos de volta os transplantes aqui. Seria tão mais fácil — deseja a menina.

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Reformas e treinamento

O serviço era considerado de alta qualidade e já foi destaque inclusive em reportagem do Profissão Repórter, da Rede Globo, em 2012. No entanto, segundo a Secretaria Estadual de Saúde, o Celso Ramos não obteve o credenciamento para continuar as cirurgias por falta de um alvará sanitário.

O governo garante, porém, que nenhum paciente ficou sem atendimento pleno, desde então, na rede pública de saúde. A direção do HGCR informou que está realizando reformas e treinamentos para a obtenção de um novo alvará sanitário. A previsão é de seis meses para este novo alvará e a reabertura das cirurgias.

Atualmente os transplantes estão sendo realizados no hospitais Santa Isabel (Blumenau), São José (Joinville) e Caridade (Florianópolis). A rede estadual conta ainda com transplantes renais nos hospitais e maternidades Marieta Konder Bornhausen, de Itajaí, e São José, de Jaraguá do Sul, além do Hospital Regional do Oeste, de Chapecó.

Hoje os pacientes que estão na fila de espera precisam ir toda a semana até a Unidade do Rim do HGCR para fazer hemodiálise. É o que a dona Vera vai começar a fazer assim que receber alta. E o que já faz o seu Valtair Nilo da Cruz, de 70 anos. O idoso já era transplantado, mas sofreu um AVC há um mês, e o novo rim parou de funcionar. Só que ele não vai esperar por um novo órgão.

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— Ele diz que já tirou um rim da irmã e agora não quer tirar o de mais ninguém. Pra ele está ok vir aqui duas vezes na semana — contou o filho, o comerciante Jaison da Cruz, de 32 anos.