Líderes de cinco partidos governistas confirmaram que o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM-RS), ofereceu destinar um extra de R$ 40 milhões em emendas parlamentares até 2022 a cada deputado federal que votar a favor da reforma da Previdência no plenário da Câmara. A proposta foi realizada na casa do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), na semana passada.
Continua depois da publicidade
A estratégia do governo representaria um acréscimo de 65% no valor que cada deputado pode manejar no Orçamento federal de 2019 para obras e investimentos de infraestrutura em seus redutos eleitorais. Atualmente, os congressistas têm direito a R$ 15,4 milhões em emendas parlamentares. Com a proposta do ministro, seriam R$ 10 milhões extras por ano, totalizando R$ 25 milhões.
Os deputados têm direito a emendas impositivas e, caso seja aprovada a proposta de emenda à Constituição (PEC) do Orçamento impositivo, a partir de 2020, também passarão a ser de execução obrigatória os recursos de bancada. Os valores propostos por Onyx, porém, não estão dentro desses recursos e, de acordo com os deputados, o ministro não entrou em detalhes sobre a fonte.
Segundo técnicos, não existe a previsão legal de "emendas extraorçamentárias", mas a prática é recorrente entre políticos.
A reportagem confirmou a existência da proposta com deputados de DEM, PP, PSD, PR, PRB e Solidariedade. Todos passaram a informação mediante a condição de que não tivessem o nome publicado.
Continua depois da publicidade
Segundo os parlamentares ouvidos, apesar da proposta de Onyx, não foi firmado um acordo. Alguns deles dizem desconfiar da palavra do Planalto, afirmando que nada garante que o governo irá cumprir a promessa pelos próximos quatro anos.
Uma ala defende a liberação dos recursos e vê com bons olhos a iniciativa de negociação do governo. Segundo eles, é natural que parlamentares busquem contrapartidas para seus estados e cidades em aprovação de temas difíceis.
A reportagem enviou questionamentos no fim da tarde e início da noite desta terça-feira (23) ao presidente da Câmara e ao ministro da Casa Civil do governo Jair Bolsonaro, contudo não obteve resposta.
Uma das principais promessas de campanha de Bolsonaro foi colocar fim no chamado "toma lá dá cá", que é a antiga prática de governos obterem apoio no Congresso em troca de cargos federais, verbas do Orçamento ou outras benesses da máquina pública.
Continua depois da publicidade
Reforma da Previdência
A reforma da Previdência é a principal proposta deste início de gestão. O texto foi apresentado ao Congresso no dia 20 de fevereiro. A proposta elaborada pela equipe econômica do ministro Paulo Guedes promete uma economia de mais de R$ 1 trilhão aos cofres públicos nos próximos 10 anos.
O texto foi à votação na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) na noite de terça-feira (23) e aprovado após nove horas de discussão, com sessão marcada por diversas tentativas de obstrução por parte da oposição.
Agora, a PEC precisa passar ainda por uma comissão especial, na qual terá o mérito de toda a proposta analisado. Lá, a expectativa é que o texto seja ainda mais desidratado: já há consenso entre líderes da maioria dos partidos para que sejam alterados os pontos referentes à aposentadoria rural e ao Benefício de Prestação Continuada (BPC), pago a idosos miseráveis.
O centrão — formado por partidos como PP, PR, PTB, PSD, PRB, entre outros — deve ficar com o comando dessa comissão especial que vai analisar a reforma da Previdência na Câmara. Aliados de Rodrigo Maia articulam para que o PR — um dos partidos mais insatisfeitos com o governo — assuma a presidência da comissão. O deputado Marcelo Ramos (PR-AM) é cotado ao cargo.
Continua depois da publicidade
É durante os trabalhos dessa comissão especial que a equipe econômica promete exibir dados detalhados do impacto de cada item do projeto, já que os estudos feitos para a reforma ainda estão em sigilo.
A previsão de aliados de Maia é que a reforma seja votada no plenário da Casa apenas no segundo semestre.
*Colaboraram Angela Boldrini, Camila Mattoso, Thiago Resende e Ranier Braga