O governo federal irá criar uma cartilha com orientações para ajudar brasileiros que vivem no exterior e desejam encontrar suas famílias biológicas. A decisão foi tomada na tarde desta segunda-feira, em Brasília, na primeira reunião entre uma comissão formada para debater futuros programas de auxílio aos jovens que, no passado, foram vítimas do tráfico internacional de pessoas e levados ilegalmente para Israel.

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Levados ainda bebês para o exterior, eles têm hoje apenas documentos, a maioria falsos, como fonte para busca da família biológica no Brasil. A iniciativa, porém, pretende ampliar o auxílio a todas as pessoas, em qualquer parte do mundo, que estejam nesta mesma situação. Depois de pronto, o documento será distribuído a todos os consulados brasileiros dos outros países. O trabalho será coordenado pela Secretaria de Direitos Humanos e pelo Ministério das Relações Exteriores.

Antes, porém, o governo precisa encontrar um meio jurídico de ter acesso a documentos originais que possam levar esses jovens a descobrir dados como o nome verdadeiro e os locais de origem e de moradia dos pais biológicos no Brasil. Hoje, eles têm apenas acesso a certidões e documentos, sujeitos a falsificações. Já foram identificados 12 jovens levados ilegalmente para o Exterior e criados por famílias adotivas.

– O que o Estado brasileiro vai fazer é criar um canal que reduza dificuldades. Eles não falam português e, em alguns casos, não têm condições de constituir um advogado no Brasil, até por desconhecer o sistema jurídico brasileiro. Moram em Israel há anos – esclarece George Lima, chefe de gabinete da Secretaria de Direitos Humanos.

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A saga de meninos e meninas na busca pelos pais biológicos é acompanhada pelo Diário Catarinense desde agosto passado. O jornal denunciou os casos de tráficos de bebês enviados para Israel na década de 1980 na série de reportagens Órfãos do Brasil, finalista do Prêmio Esso de Jornalismo 2012.

Confira a série especial Órfãos do Brasil

A próxima reunião do grupo está marcada para 2 de abril _ dia que a comissão irá fazer a primeira análise da cartilha que será elaborada para o encontro.

Jovens querem acesso aos documentos

George Lima, chefe de gabinete da Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente, responsável pela ponte entre os jovens em Israel e o governo brasileiro, tem recebido os pedidos de ajuda. Ele lembra que um dos pedidos veio diretamente do gabinete da presidente Dilma Roussef, após a chegada de um e-mail de um jovem, em Israel. Cada caso está sendo avaliado pela Comissão formada para definir os caminhos a serem tomados.

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Segundo Lima, o apelo dos jovens é para que possam ter acesso aos dados de origem.

– Como não temos precedentes destes casos, estamos construindo um fluxo de atenção. Temos várias complicações como questões jurídicas e o próprio idioma, que dificulta a comunicação com o Brasil – observa.

As histórias mostradas durante a série provocaram reações em toda a sociedade. Após serem levados de maneira ilegal para o exterior, os jovens cresceram sem poder conhecer a origem. Com os documentos falsos, não conseguem meios para localizar as famílias biológicas. Após as reportagens, mães entraram em contato com o jornal e reviveram um passado de mágoas e arrependimento, nunca esquecido.

Em Joinville uma das mães conseguiu reencontrar a filha entregue com poucos dias de vida. Uma covinha no queixo foi o sinal que trouxe a filha Yael Stein de volta ao círculo familiar. Com a repercussão nacional, quatro dos doze jovens exibidos durante a série, vieram ao Brasil a convite da Rede Globo, pelo programa Domingão do Faustão. No palco, dois deles conheceram as famílias pessoalmente e outros dois fizeram o apelo para encontrar as mães.

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A série também serviu de fonte de informação e pesquisa para autora Glória Perez que trabalha na novela Salve Jorge, o tema tráfico de pessoas.