Na capital financeira do mundo, o programa brasileiro de concessões em infraestrutura, que prevê US$ 235 bilhões nos próximos anos, passou pelos olhos atentos de centenas de investidores estrangeiros. Em Nova York, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, tenta resgatar a imagem do Brasil de “queridinho” dos investidores externos após crescimento baixo e intervenções governamentais terem arranhado a confiança do país lá fora.
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O fórum de infraestrutura sobre o Brasil e as oportunidades de investimento no país reuniu ontem representantes de bancos de investimentos, fundos soberanos, gestoras de recursos e empresas de consultoria, além de toda a imprensa internacional. Para esta quarta-feira, estão previstas reuniões fechadas da equipe do governo com os investidores interessados no Brasil.
Com rendimento estimado em 10% ao ano, o governo brasileiro, segundo Mantega, prevê a construção de 7,5 mil quilômetros de rodovias, 10 mil quilômetros de ferrovias, um trem de alta velocidade e dois grandes aeroportos internacionais, além de concessões nas áreas de gás e eletricidade.
– Hoje o Brasil precisa de investidores com dinheiro e com coragem. Além do custo de transação, o emaranhado burocrático e jurídico acaba gerando receio lá fora – avalia Alexandre Barros, especialista em risco político.
A estabilidade das regras é considerada fundamental para o Brasil diminuir a aversão ao risco e voltar a ser a “bola da vez” no mercado financeiro.
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– É preciso garantir aos investidores que as regras ficarão estáveis – defende Rubens Barbosa, ex-embaixador do Brasil em Washington e consultor de relações exteriores.
Apesar das incertezas quanto ao ambiente econômico, o Brasil ainda é visto como país de oportunidades. Para o economista Antonio Corrêa de Lacerda, professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), não há razão para pessimismo:
– O burburinho esconde um lobby fortíssimo. A queda dos juros desagradou a especuladores estrangeiros, que ganhavam dinheiro fácil aqui. Mas o foco são os investidores de longo prazo – afirma Lacerda, lembrando que em 2012 o país recebeu US$ 65 bilhões em investimento estrangeiro.
Em busca de segurança e oportunidade
Entusiastas da política econômica brasileira até pouco tempo atrás, agentes do mercado e a imprensa internacional mudaram o tom das abordagens no último ano. Depois de ser considerado estrela do momento, o Brasil enfrentou uma mudança de humor com redução dos juros brasileiros, flutuações cambiais, intervenções governamentais e a confirmação de um “pibinho”.
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– Esses fatores, baixo crescimento aliado à alta da inflação, criaram um cenário nebuloso que fez o Brasil perder espaço para países como o México, por exemplo – compara o especialista em mercado de capitais Roberto Teixeira da Costa, ex-presidente do Conselho de Empresários da América Latina e integrante do conselho de administração da Sul América.
Apesar disso, o especialista avalia que é plenamente factível recuperar a imagem brasileira de porto seguro para investidores externos.
– O dinheiro vai para onde se sentir mais seguro, com mais oportunidade de crescer. O capital gosta de uma palavra: previsibilidade, onde vale o escrito – explica.
Para tanto, apesar de um certo nível de incerteza, se os projetos brasileiros em infraestrutura fizerem sentido e apresentarem segurança jurídica, têm todos os ingredientes para sair do papel com capital externo.
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Onde o Brasil…
Decolou
O Brasil conseguiu manter as menores taxas de desemprego de sua história. A renda da população teve significativa melhora nos últimos anos, elevando o poder de consumo. A mão de obra brasileira foi qualificada por meio de programas e incentivos governamentais, preparando trabalhadores para atender a um mercado interno crescente.
Quase decolou
Embora tenha crescido abaixo da projeção no ano passado, o Brasil aposta numa recuperação da economia em 2013. A previsão é de que o Produto Interno Bruto (PIB) ultrapasse a casa dos 3% neste ano. O otimismo é depositado no setor de serviços, na retomada da indústria e na expectativa de aumento dos investimentos – tanto público quanto privado.
Não decolou
O crescimento do país em 2012 ficou muito aquém do esperado. Classificada como “piada” por Guido Mantega, a projeção de 1,5% ficou bem próxima da realidade. Mantega disse que a inflação em 2013 não seria uma preocupação, avaliação alterada pelo próprio ministro, sinalizando que o Banco Central pode subir o juro para controlar a pressão nos preços.