O governo Jair Bolsonaro quer ampliar o acesso de empresas a milhares de currículos de pessoas desempregadas que estão no Sistema Nacional de Emprego (Sine). A ideia foi batizada de "Open Sine" no Ministério da Economia e tem o objetivo abrir os dados dos trabalhadores, de maneira voluntária, a fim de aumentar a chance de pareamento entre vagas e potenciais empregados.

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O descasamento é um dos fatores que contribuem para o desemprego, segundo economistas especializados em mercado de trabalho. Embora tenha uma rede de alcance nacional, o Sine não é utilizado por muitas empresas, que preferem desenvolver programas próprios de recrutamento ou contratar agências de emprego de privadas.

O governo quer que essas agências e as empresas tenham acesso aos dados que são coletados pelo Sine, por exemplo, quando o trabalhador faz o registro no seguro-desemprego. E também os currículos dos que vão às agências estaduais em busca de vagas.

Com isso, espera fomentar um mercado de empresas interessadas em fazer o "match" (pareamento), por meio de aplicativos e novas tecnologias, uma espécie de Tinder do mercado de trabalho.

Os estudos começaram a ser desenvolvidos na nova secretaria especial de Produtividade, Emprego e Competitividade, do Ministério da Economia. Chefiada pelo economista Carlos da Costa, a secretaria herdou parte das atribuições do antigo Ministério do Trabalho, que foi extinto na gestão do presidente Jair Bolsonaro.

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A avaliação é que o atual sistema não vem conseguindo cumprir o objetivo de reduzir o desemprego. Essa é uma das agendas que o secretário considera emergencial, uma vez que o número de desempregados e subocupados chega a 27 milhões.

Em alguns Estados, diz Costa, a efetividade do Sine é baixíssima, com uma taxa de sucesso (em parear trabalhador e vaga) inferior a 0,5%.

— Precisamos entender quais são os dados (dos trabalhadores) que facilitam o "match". Mas não seremos nós, o Estado, que vamos ter estrutura para captar as vagas de empresas e fazer este "match". Deixa startups fazerem isso, deixa o mercado se encarregar — afirma Costa. — Essas empresas não fizeram isso até hoje porque não tinham acesso aos dados e porque não viam oportunidade, com o governo querendo fazer tudo, querendo captar a vaga, ir na empresa. Temos que facilitar em vez de atrapalhar.

Sistema de segurança e proteção das informações

O secretário argumenta que a liberação dos dados pelo governo para o setor privado contará com um sistema de segurança e proteção das informações.

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Segundo o economista Bruno Ottoni, do Ibre/FGV e da consultoria iDados, países que investiram na melhora do sistema de intermediação, como o Sine, obtiveram respostas positivas na redução do desemprego, como foi o caso da Alemanha.

Em países como o Brasil, em que a rotatividade do trabalhador é elevada, a intermediação é ainda mais relevante para reduzir o desemprego, afirma ele. Isso porque o mecanismo reduz o tempo de espera entre um trabalho e outro pelo empregado.

Mas, segundo Ottoni, o maior desafio para a plataforma brasileira é aumentar o seu uso, tanto por desempregados quanto por empresas. Vagas mais bem remuneradas, por exemplo, não costumam passar pelo sistema.

— Sites semelhantes em outros países, como nos EUA, trazem não apenas dados sobre a vaga, mas também informações sobre o mercado, os salários pagos e o tempo de espera na área. É uma forma de guiar as pessoas sobre que tipo de emprego está mais demandado até para que escolham no que deveriam investir — diz.

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Em outra frente, Costa afirmou que estuda refazer o programa nacional de qualificação. A avaliação é que o Pronatec, criado no governo Dilma Rousseff (PT), é um "desperdício de recursos", salvas algumas exceções, como no caso de cursos feitos em parceria com a indústria.

Costa disse que a orientação é que sejam oferecidos cursos de capacitação mais associados à demanda do setor produtivo.

— Estamos desenhando ainda, vamos começar com um piloto. O novo Sine é emergencial, porque temos 26 milhões de pessoas sofrendo com o desemprego. A qualificação é algo mais complexo, não tem solução simples.

Parte dos recursos seguirão vindo do Sistema S, disse ele, apesar do intuito do ministro Paulo Guedes em reduzir a cobrança da contribuição da folha de pagamentos das empresas.

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— Não é só desonerar, é também usar melhor os recursos que estão lá. Ainda que corte 50% da contribuição, vão sobrar mais de R$ 10 bilhões para serem usados.