Um dia de praia rende histórias para encher um livro. Eu sei que é clichê, mas não tem como deixar de repetir: não existe espaço mais democrático no mundo do que a beira do mar. Na praia, todo mundo é igual, com exceção daquelas mulheres sem noção que desfilam pela areia equilibrando-se num salto alto, cheias de maquiagem, joias e um cheiro de perfume doce, deixando atrás de si um rastro de cafonice. Ah, e os caras de sunga branca e transparente também. Tirando estas figuras, os outros todos se parecem.

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Um biquíni de R$ 5 mil comprado na loja mais chique do Rio de Janeiro e o mais baratinho, saído do cesto de saldão da lojinha popular do Centro são bem parecidos, pelo menos para quem não se liga muito em moda. As bermudas dos homens, idem. Grandes e coloridas, tanto faz o local onde compraram. Ou, então, as sungas. Quase sempre azuis ou pretas. Quem é rico? Quem é pobre?

Domingo de sol, no verão. Você vê um homem sentado numa cadeirinha de alumínio, com uma latinha de cerveja na mão. Tanto pode ser o zelador do seu prédio quanto o dono daquele Porsche que você viu lá no estacionamento, e que nem trabalhando mais de 100 anos seguidos terá dinheiro para comprar um igual. E aquela moça que está devorando um milho ali na frente? Sabia que ela é uma modelo muito famosa? Não, não sabia. Assim, de vestidinho, chinelos de dedo e cabelo preso num rabo de cavalo, ela pode exercer a alegria do anonimato numa manhã de verão, aproveitando a tranquilidade da praia.

Despidos de roupas e de tudo o que simboliza poder e status, somos todos iguais. Opa, estou exagerando. Quem me dera ser igual àquela morena de corpo escultural que está sentada sobre a canga ali na frente, com um grupo de amigas. A menina é linda, perfeita. As outras são “normais”: duas, bem magrinhas, quase anoréxicas. Outra, bem gordinha, e não está nem aí: é a que usa o biquíni menorzinho, e parece muito feliz com seu corpo. Completando o grupo, uma loura turbinada, com enormes peitos siliconados. Esta sim, chama a atenção. Todo mundo olha, só tenho dúvidas se os olhares são de admiração. Uma turma de meninos senta perto das garotas. Isso ainda vai render muitas histórias…

Eu me divirto só de olhar o movimento, conversar com os vendedores, ver a alegria das crianças… Fico imaginando de onde vem toda aquela gente, o que fazem da vida, no que trabalham… Gosto de ver pobres e ricos, jovens e velhos, brancos e pretos, avaianos e figueirenses, gordos e magros, brasileiros e estrangeiros, tudo junto e misturado, ali, disputando espaço na areia. Pelo menos na praia não há diferença, ou, se há, ela é menos gritante do que no asfalto. A cervejinha é a mesma – seja a servida pelo garçom ou a retirada do isopor cheio de gelo, trazido de casa. O mar, quentinho ou gelado, calmo ou agitado, também. O sol doura o corpo de todos, sem distinção.

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No fim do dia, todo mundo volta feliz e cansado para casa, seja de carro ou de ônibus. Depois de uma noite de sono, a segunda-feira começa. Aí sim, a realidade mostra sua cara. E cada um segue sua sina.