Um pedacinho da charmosa e romântica Veneza vive no Sul de Santa Catarina. Lucille chegou ao Estado em 2006 aos 13 anos e foi recebida com muita comemoração. Hoje, aos 21, ela já é parte de Nova Veneza e marca a memória da colonização italiana na região. Lucille não é uma garota qualquer: é uma gôndola dada como presente ao Brasil.
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Mas o carinho da população de Nova Veneza não foi suficiente para amenizar a ação do tempo, que deixou cicatrizes nas madeiras da embarcação.
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Devolver a gôndola à água é a missão do marceneiro Edson dos Santos Antônio, 48 anos, que traz na família o histórico de trabalho com carpintaria naval. Há dois meses ele trabalha incansavelmente para deixar Lucille mais jovem. Ela passou ainda por uma restauração completa em 2009 e por uma parcial em 2012. A embarcação duraria entre 25 e 30 anos, mas Edson se empenha em dar sobrevida ao orgulho de Nova Veneza.

Restauração de Lucille é um trabalho artesanal e exige dedicação.
Foto: Caio Marcelo/ Agência RBS
Se tudo der certo, Lucille volta à rotina a tempo de poder participar da Festa da Gastronomia, realizada entre 19 e 22 de junho. Nada melhor do que comemorar o maior símbolo dessa imigração no Estado, que é a gastronomia, junto com um objeto tipicamente italiano.
O marceneiro Antônio vai travar mais uma vez uma guerra contra o tempo para garantir o restauro.
– Entre os principais problemas estão o clima e a água, que não é salinizada. O que se faz é utilizar produtos que aumentam a resistência da madeira e substituir os pedaços deteriorados por madeiras de qualidade igual ou superior. Para isso, nós utilizamos o cedro, que é macio – diz.
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Em cada passo, Antônio sabe que não é somente o seu conhecimento técnico que devolverá Lucille à vida. Além disso, o marceneiro recebeu treinamento do restaurador italiano Mario Martinotti, que veio em 2009 ao Brasil especialmente para ensinar como trabalhar com os detalhes de uma gôndola.
É uma verdadeira arte poder devolver a juventude a uma embarcação com 11 metros de comprimento e que não tem nem uma peça igual à outra. É lixar o casco, arredondar, preencher as frestas para uni-las artesanalmente.
– As pessoas perguntam: “se está apodrecendo, não é mais fácil jogar essa fora e construir outra?”. Mas não é, eu posso construir e ela não funcionar. A gôndola é fabricada até hoje de forma muito artesanal. Por exemplo, para unir uma peça a outra, é utilizado o calafeto de algodão, processo milenar. É um fio de algodão que preenche a fresta e dá maior flexibilidade à embarcação – conta.
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Lucille é tão especial porque é única no Brasil. Há apenas quatro gôndolas fora de Veneza. Além da brasileira, há uma nos Estados Unidos, uma na Rússia e outra no Canadá.
Colonização
Gôndola Lucille é restaurada para a Festa da Gastronomia de Nova Veneza
