Meus colegas de RBS e os leitores deste espaço dominical conhecem minha postura em defesa das boas causas catarinenses. Nos últimos dias, porém, a minha paixão pelas bandeiras locais sofreu um forte revés com os gols contras marcados por alguns administradores públicos. Sempre é melhor ressaltar a qualidade de vida de SC, os indicadores em várias áreas que nos enchem de orgulho, mas como manter essa postura diante da imprevidência – e descaso – de organismos cuja existência é a da prestação de serviço público?
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Os estragos feitos pelas Centrais Elétricas de Santa Catarina S.A (Celesc) e especialmente pela Companhia Catarinense de Águas e Saneamento (Casan) são gigantescos e se propagarão. São danos que apagam o trabalho que consome, às vezes, milhares de reais usados para exibir uma boa imagem do Estado, para dentro e para fora. Sei que este domingo, 5 de janeiro, é a melhor data para alguns gestores públicos: é o dia que, segundo um calendário apequenado, milhares de turistas vão embora. Lotação igual somente nos dias que antecederem o Réveillon 2014, quando o litoral – especialmente o corredor Balneário Camboriú-Florianópolis – estará repleto de visitantes mais uma vez, dispostos a passar aqui a simbólica virada de ano, um momento especial na vida de todos, uma trégua de reflexão, balanços e projeções.
Entre o Natal e a última sexta-feira li e ouvi de tudo sobre a falta de energia e de água, bens básicos. Vi gente pregando o fim do turismo, pregando um ‘fora turista’. Vi gestor público usando outros maus exemplos, inclusive de fora do Estado, para tentar justificar as incompetências de sua seara, como se a grama ruim alheia servisse de consolo para uma família que fica cinco ou seis dias com as torneiras secas e se banhando com água da chuva.
Sugiro que o governo do Estado e as prefeituras das principais cidades afetadas pela má gestão usem a próxima semana para um diagnóstico sério – em vez de culpar São Pedro pela onda de calor ou os visitantes, atraídos entre outros motivos pela própria propaganda oficial.
Também chegou a hora de a iniciativa privada colocar o dedo na consciência: está se preparando como devia para a alta temporada? Há visíveis casos de incompetência, como hotéis e pousadas se prontificando a receber muito além de sua capacidade de estrutura. Vão deixar só para o Estado resolver os problemas? Entidades representativas do trade turístico, sempre ágeis para colocar o dedo em riste, por exemplo, em ações contra seus interesses, não teriam de se unir diante do dilema que se avizinha: Santa Catarina está praticando um turismo predatório, com prazo de validade. A galinha dos ovos da beleza natural um dia poderá acabar. O modelo informal de aluguéis não deveria ter regulamentação? Até quando permitiremos que ‘corretores’ de pés descalços e sem camisa, com placas escritas à mão, ofereçam nas ruas imóveis sem a mínima estrutura de caixa d’água, por exemplo?
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Você que chegou até aqui neste texto também não tem a colaborar? Acredito que sim, e o que me diz isso é a sujeira deixada em pontos como a charmosa Beira-Mar Norte de Florianópolis, ou ao longo das areias de Jurerê ou de Governador Celso Ramos, logo após a meia-noite do dia 31: por que não levou copos e garrafas para casa após a celebração? Sei que na nossa cabeça sempre há um serviçal para nos consertar. É mais fácil viver assim.