O aumento de compras virtuais por causa da pandemia de coronavírus e o surgimento de novas táticas usadas pelos estelionatários têm elevado o número de golpes pela internet em Santa Catarina. Segundo informações da Polícia Civil, os casos ocorrem com mais frequência em negociações por sites de compra e venda ou com dados de cartões e acesso a aplicativos de conversa do celular da vítima.
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Entre janeiro e abril de 2021, o Estado registrou 20,6 mil casos de estelionato, 91% a mais do que nos quatro primeiros meses de 2020. Até a metade de maio, o Estado já registrou quase metade do total desses crimes ocorridos ao longo de todo o ano passado (48,1 mil).
Os dados são da Secretaria de Segurança Pública (SSP-SC) e consideram casos de estelionato em geral, não apenas os cometidos na internet. O delegado da 7ª Delegacia de Polícia de Florianópolis, Alber Rosa de Figueiredo, no entanto, confirma que houve “uma explosão de casos” de golpes virtuais no último ano.
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Entre os motivos apontados pelo delegado estariam a pandemia, que fez com que a maioria das compras e transações ocorresse pela internet, e também o surgimento do Pix, meio de pagamento eletrônico lançado pelo Banco Central em outubro de 2020.
– Com a transferência bancária, o Doc ou a Ted, há uma janela de tempo para a compensação. Às vezes esse período dificultava a confirmação do golpe, a pessoa tinha tempo para evitar um prejuízo maior. Com o Pix, criou um problema porque é automático. Para conseguir rastrear, reverter o prejuízo, é uma dificuldade maior. Foi uma avalanche de casos – avalia o delegado.
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Golpistas tiveram mudança de padrão
O delegado também aponta uma mudança de padrão na ação de golpistas nos últimos anos. Os criminosos teriam migrado de plataformas em que hoje há intermediação da venda e do pagamento, que adotaram protocolos de segurança mais rígidos, para sites em que o contato é direto entre vendedor e comprador, como OLX e o Marketplace do Facebook.
– A mudança ocorre porque não há intermediário nesse processo. A pessoa faz negócio de uma ponta para a outra. Isso criou um problema sério porque não tem intermediador e as pessoas que colocam os dados não passam por certificação dessas informações – avalia Figueiredo.
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Somente em um caso registrado na unidade em que o delegado atua em Florianópolis, um golpe aplicado na compra de uma caminhonete causou prejuízo de R$ 60 mil. Em alguns dos casos, nem mesmo os chips de telefone celular usados pelos bandidos têm registro nas operadoras, o que dificulta ainda mais o rastreamento.
Quando é informada de casos dessa natureza, a Polícia Civil busca identificar os criminosos e tentar reverter o prejuízo, ou ao menos evitar novos casos.
– O que a gente tenta fazer é identificar um padrão. Via de regra, percebemos que o grupo que aplica é o mesmo. Nessa forma de agir, a gente tenta identificar as pessoas que recebem, os terceiros, laranjas, até chegar a quem está efetivamente dando o golpe – afirma.
Alguns suspeitos desses golpes já tiveram pedidos de prisão feitos pela polícia recentemente.
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Casos de estelionato em SC
Janeiro a abr de 2020: 10.816
Janeiro a abril de 2021: 20.684
Variação: 91,2%
Fonte: Secretaria de Segurança Pública (SSP-SC)
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Alguns tipos de golpes
Anúncio falso

É o tipo de golpe mais “antigo”. O golpista anuncia um objeto que não possui, geralmente a um preço muito baixo e com apelo que apresse o comprador, como a iminência de acabar o estoque ou até ser a “última peça”. O comprador confia no perfil e na oferta, faz o pagamento e não recebe o produto comprador. É mais comum em sites de compra e venda onde não há intermediação da plataforma – o contato é feito diretamente entre vendedor e comprador.
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Golpe do intermediário
O golpista identifica alguém vendendo um carro em um site de compra e venda. Ele faz contato, diz que tem interesse no veículo e pega os dados do vendedor. A partir daí, ele publica um novo anúncio com os mesmos dados do produto, como se o carro fosse dele. É o chamado anúncio clonado.
Quando algum interessado faz contato interessado no carro, o golpista diz que o automóvel está em determinado lugar, mas que outra pessoa lhe mostrará o carro, geralmente sugerindo que não se fale sobre pagamento. O comprador vai até a casa do verdadeiro dono do veículo, mas não fala que tem um intermediário nessa transação. Depois disso, na hora de fechar a venda, o golpista faz com que o comprador transfira o dinheiro para uma conta ligada a ele, e não ao verdadeiro dono do carro.
– Alguns vão até o cartório para fazer a transferência do veículo aguardando o depósito ou o repasse pelo Pix. Isso às vezes até dá briga porque uma vítima pensa que o outro está dando golpe nele. Esse tipo de golpe está sendo muito frequente na nossa região – conta o delegado Alber Rosa de Figueiredo, da 7ª Delegacia de Polícia Civil da Capital.
Cartão clonado
Outro tipo de golpe em alta no Estado segundo o delegado da Polícia Civil é o do cartão clonado. Um golpista telefona para uma pessoa dizendo ser funcionário da Caixa Econômica Federal e que o cartão do cliente foi clonado. Por isso, na narrativa do golpista, uma pessoa passará na residência da vítima para “recolher” o cartão. Em seguida, a pessoa é orientada a telefonar para um número, que durante a ligação pede dados da vítima – incluindo a senha do cartão. Após um intervalo de tempo, uma pessoa, geralmente de moto, vai até a casa da vítima para retirar o cartão, e com isso os golpistas podem sacar valores da vítima.
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Falso sequestro
O golpe do falso sequestro já é conhecido de longa data, mas ainda costuma ocorrer no Estado segundo informações da Polícia Civil. Nessa tática, bandidos ligam para uma pessoa dizendo estar com o filho ou um familiar dele raptado, e pedem depósitos ou transferências de valores para libertá-lo. Em alguns casos, os criminosos chegam a tentar manter a linha telefônica do familiar da vítima ocupada para impedir uma tentativa de contato da pessoa para confirmar se o sequestro é verdadeiro ou não. Por conta disso, a polícia recomenda que as pessoas tenham dois chips no aparelho, para diminuir a chance de ficar incomunicável enquanto um familiar sofre abordagem desse tipo de golpistas.
Whatsapp clonado
Outra tática já bastante conhecida das pessoas é o Whatsapp clonado. Por telefone, um golpista entra em contato dizendo ser de algum banco, instituto de pesquisa ou órgão do governo com perguntas que parecem uma abordagem comum. Ao final da ligação, no entanto, o golpista diz que enviou uma mensagem à vítima e pede que ela informe o código de seis dígitos que aparece na tela. Os números, na verdade, são a chave que permite ao golpista acessar a conta de Whatsapp da pessoa de forma remota, por outro computador. A partir daí, o criminoso desconecta o dono da conta do aplicativo e passa a fazer contato com amigos e familiares pedindo dinheiro para resolver falsos imprevistos que ele relata em mensagens.
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Recomendações
– Se certificar da existência do objeto a ser comprado;
– Levantar informações sobre a pessoa que está oferecendo o produto;
– Desconfiar de objetos muito baratos. A desproporção do valor costuma ser o primeiro sinal de fraude;
– Tentar fazer a transação usando canais com intermediação, como sites que retêm o valor do pagamento até o recebimento do produto;
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– Utilizar quando possível o cartão virtual para compras na internet (gerado pelo internet banking e com dados que expiram após o uso em uma compra).
– Caso seja vítima de algum golpe ou identifique uma abordagem suspeita, entre em contato com a Polícia Civil, pelo telefone 181 ou na delegacia mais próxima.
“Recomendo que as pessoas se certifiquem”, diz vítima
Uma moradora de Florianópolis, que prefere não ter o nome identificado, passou por uma dessas situações no início de maio. Ela publicou um anúncio para vender um telefone celular usado em um site de compra e venda. No mesmo dia, uma pessoa fez contato pelo aplicativo Whatsapp querendo comprar o aparelho para presentear o filho e dizendo que poderia fazer a transferência até no mesmo dia.
O suposto comprador então disse que mandaria um motorista de aplicativo até a casa dela para retirar o celular. Quando o carro chegou ao endereço, o golpista enviou o que seria um comprovante de transferência bancária, a título de pagamento pelo aparelho.
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– O meu internet banking não estava funcionando naquele dia, então entreguei o aparelho ao motorista. Depois fui ao banco, mas o funcionário me informou que não havia registro de transferência. Como era sexta-feira, ele disse que o valor poderia cair depois do fim de semana, mas não aconteceu – revela.
A mulher foi até a delegacia e descobriu tratar-se de um golpe já aplicado contra outras pessoas. Ela também precisou cancelar a conta no banco, já que havia enviado os dados ao golpista para receber a suposta transferência.
– É uma sensação muito chata quando você descobre que foi enganada. Não é nem pelo dinheiro, mas por perceber que confiou em alguém. O que eu recomendo é que as pessoas se certifiquem ao máximo sobre quem é o comprador, só aceitem dinheiro e marquem em local público, para nem compartilhar dados como conta ou endereço – orienta.
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O que dizem as empresas
A reportagem fez contato com as empresas OLX e Facebook, citadas pelo delegado como algumas das plataformas por meio das quais os golpistas têm buscado contato com as pessoas.
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A assessoria da OLX informou em nota que a empresa está sempre à disposição das autoridades para colaborar com as investigações e que a plataforma investe constantemente em tecnologia e serviços de orientação ao usuário, com indicação das melhores práticas de negociação. Entre as recomendações estão a de evitar intermediários e não entregar bens ou produtos de forma antecipada, sem a confirmação do pagamento na conta bancária.
“Caso o usuário perceba que nossas políticas estão sendo infringidas, contamos também com a sua denúncia para investigar anúncios irregulares e removê-los”, diz um trecho da nota. A OLX divulga também uma página em que oferece dicas de segurança.
A assessoria do Facebook informou que os padrões de comunidade da empresa proíbem o uso das suas plataformas para facilitar ou organizar atividades que causem danos financeiros a pessoas ou negócios. Usuários também podem denunciar caso identifiquem algo que viole esses regras.
“Times dedicados a investigar e coibir essas condutas trabalham para evitar que pessoas mal intencionadas usem as plataformas para atividades impróprias”, informa um trecho da nota da empresa. O Facebook também lista dicas de segurança para compras como desconfiar de pessoas que falsificam a própria localização, mensagens com erros ortográficos e gramaticais, páginas que representam grandes empresas que não foram verificadas (selo azul ao lado do nome), pessoas que pedem dinheiro ou vale-presente para supostos prêmios, ganhos ou mesmo se candidatar a um emprego.
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São citadas ainda a tentativa de mudar a conversa da plataforma para ambientes menos públicos e seguros, como e-mails separados, e redirecionamento a páginas que prometem prêmios. A empresa também mantém um espaço com mais informações sobre denúncias de conteúdos suspeitos.
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