O golpe do bilhete fez vítimas em todas as semanas de julho no Centro de Florianópolis. Somente na 1ª Delegacia de Polícia da Capital, que cobre a área que vai da Praça Governador Celso Ramos, próximo ao Shopping Beiramar, até o Morro da Queimada, nove casos estão nas mãos do delegado Antônio Cláudio Seixas Joca. Os valores somados ultrapassam R$ 1,1 milhão.
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E é no início de mês, quando cai na conta o salário, a pensão ou os rendimentos da poupança, que a atenção deve ser redobrada para não ser passado pra trás neste tipo de estelionato. Vale seguir as máximas de que o “dinheiro que vem fácil, vai fácil” e “não dê ouvidos a estranhos”. Mulheres acima de 50 anos estão entre os alvos principais, que perdem em média entre R$ 15 e R$ 20 mil.
Segundo o delegado, o crime é praticado por um grupo de até três pessoas, que negociam um bilhete premiado falso na frente da vítima. Ao saber do valor do bilhete e quanto poderia investir para ter parte daquela suposta fortuna, a vítima saca o dinheiro de sua conta, às vezes a economia de uma vida, e entra no jogo para mudar o seu extrato bancário. E muda, mas para uma fila de zeros.
– Quando a vítima se dá conta, os criminosos fugiram há muito tempo com o dinheiro – relata Joca.
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Dinheiro que não volta
A prisão preventiva de três pessoas foi solicitada pelo delegado à Justiça ainda no primeiro semestre. Para o Seixas, mesmo capturando algumas pessoas envolvidas no esquema, dificilmente o dinheiro seja recuperado algum dia.
– A quantia logo é pulverizada em várias contas de laranjas e é quase impossível fazer este rastreamento com a estrutura que a nossa investigação tem – lamenta o delegado.
Golpistas bons de papo
A explicação sobre como o golpe funciona é do delegado Antônio Cláudio Seixas Joca, mas qualquer investigador sabe de cor e salteado como se dá o tal golpe do bilhete. Tudo começa e termina com uma conversa.
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Um sujeito com aparência humilde se aproxima da vítima em um lugar de grande movimentação de pessoas e pede informações sobre alguma rua, ou comércio. Demonstrando curiosidade, um segundo golpista, trajado como um executivo (de terno, gravata e uma valise de couro) chega perto e passa a interagir com o grupo. Papo vai, papo vem, o “humilde” diz ter um bilhete premiado e que não sabe como pegar o dinheiro.
– É aí que o “executivo” finge ligar para a Caixa Econômica e confirma que o bilhete é premiado mesmo e que vale milhões. Ele convence o dono do “prêmio” a vendê-lo por alguns milhares de reais, que coincidentemente estão na valise, e chama a vítima para entrar no negócio – conta o delegado.
Senhora entregou até joias
O final da história varia, dependendo da fonte onde a vítima vai buscar o dinheiro. Em um caso ocorrido em julho, por exemplo, uma senhora perdeu o equivalente a R$ 1 milhão (R$ 200 mil em dinheiro vivo, guardado em sua casa, além de R$ 800 mil em joias).
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A maioria das pessoas que caem vai até uma agência bancária realizar o saque. Neste ponto, ela é acompanhada por um terceiro golpista, que é encarregado de avisar o restante do grupo, caso a polícia seja chamada.
Olho grande
O diretor geral da Polícia Civil, Ilson de Souza, já foi delegado em várias DPs pela Grande Florianópolis. Após mais de 40 anos de carreira, ele nem tenta precisar quando ouviu pela primeira vez sobre o golpe do bilhete. Depois de ouvir centenas de pessoas lamentando a perda da economia de anos, ele tem uma opinião sobre quem cai neste tipo de crime.
– Só cai quem tem olho grande. No final das contas, cai quem queria dar o golpe no golpista – conclui.
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Investigação de quadrilha
Os casos registrados no Centro de Florianópolis já não devem ser investigados pela 1a DP. Segundo o delegado Joca, o caso pertence agora à Deic.
– A quadrilha tem agido em todo o Estado. Na segunda-feira mesmo, houve um caso em Blumenau (no Vale do Itajaí). A mulher perdeu R$ 4 mil de uma vez – diz, mostrando que o velho golpe fez novas vítimas. E é só o começo de agosto.