A Batalha da Alfândega, encontro do movimento hip hop que promove a disputa de rimas entre os jovens, foi novamente reprimida pelo poder público de Florianópolis. Na quinta-feira, 31, por voltas das 20h, a Guarda Municipal (GMF) foi ao Largo da Alfândega para impedir a realização do encontro, alegando falta de autorização.
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A Secretaria Municipal de Segurança afirma que se reuniu com um dos organizadores do encontro e listou uma série de documentos que seriam necessários para a autorização da realização das batalhas, mas que os mesmos não foram providenciados. Sob a justificativa de que haveria consumo de álcool e ilícitos no local, a Guarda Municipal foi autorizada a dispersar os participantes da batalha de rima.
— Eles estavam reunidos em um grupo grande, de forma desorganizada. Começaram o evento e os fiscais da Secretaria Municipal do Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano (Susp) informaram que não havia permissão. Por uma questão de segurança, qualquer evento precisa de autorização — disse a secretária de Segurança Pública e comandante da GMF, Maryanne Mattos.
João Paulo Breis Vieira, de 19 anos, é um dos organizadores das batalhas de rima em Florianópolis. Conhecido como Jota, o jovem conta que houve um contato prévio da Secretaria de Segurança Pública informando sobre a necessidade da documentação, mas afirma que o curto prazo estipulado inviabilizava a “regularização” do evento.
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— Essa reunião foi uma armadilha. Ela (Maryanne Mattos) pediu uma lista tão grande de itens que não teria como providenciar no prazo exigido. Fui no Pró-Cidadão, conversei com vereadores, mas não deu tempo. Ela botou um efetivo muito grande em cima da batalha em uma ação truculenta, até perdi a conta do número de viaturas que estavam lá. O local é público, ela não pode impedir a gente de ir para uma praça — contesta Jota.
“Espaço público é do povo, não da prefeitura”
Três anos atrás, a Polícia Militar de Santa Catarina iniciou uma série de abordagens nas batalhas de rima no Largo da Alfândega com o intuito de impedir sua realização. Na época, o vereador Lino Peres intercedeu e mediou um “acordo de cavalheiros” entre a PM e os participantes dos encontros, que vale até hoje. Arquiteto e urbanista, o vereador questiona a ação de ontem da GMF.
— Não é de hoje essa intimidação e cerco para impedir uma manifestação cultural. A alegação de que não têm licença é absurda. Não tem residência em volta do largo, não há comércio à noite, não tem venda de ingressos nem de outros produtos, nem tem estruturas como palco ou palanque. Nada justifica a necessidade de autorização — afirma.
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De acordo com Lino Peres, as batalhas de rima são diferentes de eventos como Carnaval ou shows, justamente por acontecer em roda, sem equipamento e bilheteria. Para Lino Peres, encontros como o de ontem são, na verdade, uma saída para a violência cotidiana e a falta de perspectiva para a juventude pobre.
— As batalhas são manifestações culturais fantásticas, com poesia rimada, e já fazem parte da cidade. É uma atividade que contrapõe a desocupação da juventude. Não é reprimindo o uso do espaço público que vamos ter uma cidade mais humana e integradora. A cidade deveria estimular manifestações espontâneas como essa, até porque o espaço público é do povo, não da prefeitura — encerra o vereador.
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