Os brasileiros e muitos catarinenses vão conhecer detalhes das rotas encantadoras de Santa Catarina nesta sexta-feira (23). É quando o Globo Repórter, da TV Globo, vai exibir o programa “Rotas de Santa Catarina”, produzido especialmente pela equipe da NSC TV. Os repórteres Jean Raupp e Ricardo Von Dorff vão conduzir o passeio nas telas e, antes, contam detalhes do programa e bastidores das gravações.

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Trilha e tropeço no rio do Boi

Começando pela trilha do rio do Boi. Pico é o apelido do motorista e auxiliar-técnico, o Maurício Veloso. Ele é uma figura carismática e o fato de estar com uns quilinhos acima deixa o rosto dele ainda mais simpático. Mas acho que essa é a única vantagem do sobrepeso. Foi o que pensei quando vi Pico com cãibras e os joelhos latejando na trilha do rio do Boi. Foi preciso o spray anti-inflamatório de uma trilheira para levantar o nosso colega e a solidariedade de um dos guias para levar o tripé da câmera até o fim do caminho. São situações assim que guardo na memória depois de cada Globo Repórter. As gravações sempre reservam maravilhas e eventuais perrengues.

A trilha na cidade de Praia Grande, no Sul de Santa Catarina, é o resumo disso. Ela é considerada difícil e tem 14 quilômetros de ida e volta. Fica no Parque Nacional de Aparados da Serra e só pode ser feita na companhia de um condutor autorizado pelo ICMBio. O Rio do Boi corre dentro da fenda do cânion do Itaimbezinho. A água é gelada, translúcida e pura. É um daqueles lugares – cada vez mais raros – que a ganância humana ainda não alterou.

Trabalho em conjunto para todos passarem por trecho com água na trilha do rio do Boi (Foto: Arquivo pessoal)

À medida em que avançamos na trilha, os paredões do cânion vão ficando mais próximos e também ganham altura até passar dos 700 metros. O que se abre diante dos olhos é um cenário espetacular, vertiginoso e hipnótico. Um capricho que a crosta da Terra criou derramando camadas e camadas de lava 130 milhões de anos atrás. Trilhar a garganta do cânion cobra o preço de pisar num terreno molhado, com pedras irregulares e escorregadias. Foi numa dessas que o repórter cinematográfico Mateus Castro se desequilibrou e teve que fazer boa parte da caminhada mancando.

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Eu tive mais sorte. Foi o solado do tênis que desgrudou. Levei um susto porque seria impossível seguir na trilha de pés descalços. O guia me tranquilizou. Disse que era comum acontecer com calçados guardados há muito tempo e que muita gente que se aventurava no rio do Boi cometia esse erro. Por isso, sempre levava braçadeiras de náilon na mochila. Como um borracheiro trabalhando num pneu furado que saiu do aro ele reparou os tênis e salvou meu dia. Lá pelo final, já com as pernas bambas, levei um tombo que ninguém viu.

Esses desconfortos previsíveis e divertidos só não são insignificantes porque se misturam aos momentos mágicos que vivenciamos nas gravações. Posso garantir que testemunhar a monumental arquitetura dos nossos cânions é um deles. E cada tropeção valeu a pena.

Time da NSC na caminhada pela trilha do rio do Boi, em Praia Grande, no Sul do Estado (Foto: Arquivo pessoal)

Cemitério de navios e paraíso do surfe

Seguimos pelo Sul, mas agora em Jaguaruna onde fica a chamada “Laje da Jagua”. A laje é uma pedra gigante, que fica a cinco quilômetros da costa, num mar complicado para a navegação. E a “Laje” era missão minha, dentro da nossa Rota da Aventura. Jaguaruna fica no litoral Sul de Santa Catarina, tem 20 mil habitantes e uma faixa de areia de 23 quilômetros. Dessa imensa praia, dependendo das condições do tempo, dá pra ver um ponto de mar mexido no horizonte, que provoca espuma em alto mar. É a laje que, no passado, aterrorizou muitos navegadores.

Pesquisas apontam que a região é um cemitério de navios, com mais de 70 naufrágios registrados. Até Giuseppe Garibaldi sofreu nos mares de Jaguaruna, pouco antes de proclamar a República Juliana, em terras catarinenses.

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— A história conta que em 1839, quando subia em direção à Laguna, Garibaldi conta no diário de bordo, que durante a noite, uma grande onda pegou a todos de surpresa. A embarcação virou e eles vieram à praia, possivelmente essa grande onda é a laje da Jaguaruna — conta o arqueólogo e historiador Alexandro Demathe.

Atualmente, a laje é um paraíso para poucos surfistas, que têm coragem de encarar ondas com mais de 15 metros de altura. Nossas metas na reportagem? Mostrar a laje, as ondas, relembrar os naufrágios, fazer uma medição inédita e… mergulhar por lá.

O primeiro e principal perrengue foi o mergulho. Janeiro e fevereiro são os melhores meses para a prática naquela região, com o mar mais calmo e com a água mais clara. Só conseguimos gravar em abril. Tudo indicava que a tarefa não seria fácil e bastaram alguns segundos na água para eu ter certeza disso. As condições do mar não eram mesmo as ideais. A visibilidade era ruim e a correnteza deu muito trabalho. A lancha ficou numa parte mais profunda da laje. Usamos o cabo da âncora para se equilibrar, mas, em alguns momentos, a correnteza era tanta que virávamos cambalhota.

Equipes se preparando para encarar as ondas da Laje do Jagua (Foto: Arquivo pessoal)

A gente teve a sorte de contar com a ajuda de pessoas muito experientes. Os repórteres cinematográficos também sofreram. Mateus Castro e Josué Betim lidaram com o vai e vem das ondas para registrar as melhores imagens e resgatar o drone a cada pouso, impedindo que o equipamento caísse no mar. Tudo sob a supervisão do nosso diretor, Mário César Gomes que, de tão concentrado, ficou imune ao mar mexido e parecia trabalhar em terra firme.

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Em maio voltamos ao mar para acompanhar a chamada batimetria, uma espécie de fotografia em 3D inédita da laje. Quem topou fazer esse levantamento foi o oceanógrafo Diego Bitencourt. Ele conseguiu montar o que chamou de “maquete digital” da “grande pedra”. Assim, conhecemos a “cara” da laje e as reais dimensões.

A formação e o posicionamento da rocha no oceano explicam como ondas gigantes se formam por lá. Thiago Nunes, o “Jacaré”, nasceu em Jaguaruna e desde pequeno via, da janela do quarto, essa onda “quebrar lá fora”. Ele conta que, em 2003, dois experientes surfistas, Rodrigo Resende e Zeca Sheaffer, conseguiram provar que era possível aproveitar a laje.

Vinte anos se passaram, Jacaré se tornou um surfista profissional de ondas gigantes e viaja o mundo atrás das maiores, já participou de seis temporadas em Nazaré, Portugual. Claro que ele também aproveita as que têm no quintal de casa. Jacaré formou um grupo, o “Jagua Boys”, que reúne outros surfistas e pilotos de motos aquáticas da região, para conseguir surfaras ondas da Laje, em segurança. Eles estão ajudando a organizar uma etapa internacional do “Gigantes de Nazaré” em Jaguaruna no ano que vem, com atletas do mundo inteiro:

— O futuro na Laje é muito promissor. Eu acho que depois que esse evento acontecer, acho que a Jagua com certeza vai entrar de vez no calendário mundial das maiores ondas do mundo — vislumbra Jacaré.

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Veneza em Nova Veneza

A gente também queria mostrar a paisagem humana de Santa Catarina neste Globo Repórter, nosso povo e as tradições. Então, fomos a Nova Veneza. O nome já revela a origem italiana da pequena cidade de 15 mil habitantes no Sul do Estado. Lá, os moradores repaginaram o tradicional Carnaval de máscaras de Veneza , o Carnevale. A festa tem origem no século 18 quando os nobres venezianos cobriam o rosto para se misturar ao povo.

Trezentos anos depois, a brincadeira segue viva. Agora, sem a distinção de classes e muito longe dos famosos canais da cidade italiana. Uma vez por ano, centenas de neovenezianos se reúnem para desfilar vestidos com trajes coloridos e os rostos cobertos por lindas máscaras. Todos os adereços são produzidos em regime de mutirão.

O espetáculo virou a maior atração turística da cidade catarinense que – de tão italiana – foi presenteada por Veneza com uma gôndola legítima. O Globo Repórter caiu na folia.

Globo Repórter gravado em SC destaca o poder das águas termais; veja bastidores

Os Vales da Uva Goethe: raro, típico e único

Seguimos viagem pra mostrar os Vales da Uva Goethe. Nos parreirais, colhemos e provamos a fruta, bebemos o vinho e conhecemos a rica história desta uva, que cresceu sob os cuidados dos imigrantes italianos do sul catarinense. Foram eles que há mais de um século começaram a produção do vinho, que hoje orgulha a região e conquistou a indicação de procedência do Estado.

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— A gente fala que o Goethe é raro, típico e único. Desta uva, só tem 55 hectares plantados no mundo e esses 55 hectares estão concentrados aqui no sul de Santa Catarina. É diferente de todos os outros vinhos que você possa ter provado — explica Mateus, que representa a terceira geração de viticultores da família Damian.

A Goethe é uma “uva de laboratório”, criada pelo horticultor americano Edward Staniford Rogers, por volta de 1850 e batizada com o nome do escritor alemão, um grande admirador de vinhos. As mudas foram espalhadas pelo mundo e chegaram a Santa Catarina pelo agente consular da Itália Giuseppe Caruso Mac Donald. Aqui a Goethe encontrou o seu chão.

Poucos sabem que, nas décadas de 1940 e 1950 as garrafas de vinho que saíam, principalmente de Urussanga, abasteciam todo o Brasil. Mas a produção sofreu um baque e quase desapareceu, no fim da década de 1960, com a concorrência para o carvão.

Atualmente, oito vinícolas mantém a produção do vinho, nas cinco cidades que fazem parte dos Vales da Uva Goethe: Urussanga, Pedras Grandes, Morro da Fumaça, Içara e Nova Veneza. No nosso caminho, por essas cidades, entendemos que fazer esse vinho extrapola o campo comercial, é coisa de família.

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Quase que por acaso, chegamos ao parreiral de João de Pellegrin. O aposentando de 80 anos resolveu fazer o que a avó fazia e, em 2018, plantou as primeiras mudas de Goethe na propriedade da família. Na mesma época descobriu que estava com um câncer. Ele venceu a doença, as mudas cresceram e já estão na segunda safra. Tivemos o privilégio de brindar com o “Seo” João e com a filha Giovanna e provar do vinho que eles produzem lá.

— Sou fã do filósofo Goethe, e ele traz muitos pensamentos pra gente, tem um que gosto muito, que acho que tem muito a ver com a nossa história “o que você leva em suas mãos é temporário, o que leva em sua alma é infinito” — citou Giovanna.

Cobertores ajudaram a lidar com as baixas temperaturas durante as gravações (Foto: Arquivo pessoal)

A equipe da NSC TV

Confira a equipe que atuou no Globo Repórter “Rotas de Santa Catarina”:

  • Reportagem: Jean Raupp e Ricardo Von Dorff
  • Imagens: Mateus Castro, Josué Betim e Luan Santiago
  • Apoio técnico: Maurício Veloso, Ricardo Barreto e Guilherme Henrique
  • Produção: Vinícius Dias e Mário César Gomes
  • Arte e edição de arte: Ben Ami Scopinho e Andreza Guerner
  • Edição de imagens: Júlio Quadrado
  • Direção: Mário César Gomes
  • Coordenação-geral: Elaine Simiano

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