O bigode não chega a ser igual ao do Nietzsche e o cavanhaque nem é tão homogêneo quanto o de Tony Stark em Homem de Ferro, mas indica que o menino cresceu. Longe de ser aquele garoto apelidado de Capique mais de uma década atrás, o ginasta Gabriel Suski Dias, hoje aos 22 anos, acumulou medalhas e mais medalhas nos 17 anos dedicados ao esporte. Experiência suficiente para tomar uma decisão um tanto alternativa: ele vai deixar os tablados, argolas, cavalo, barra e paralelas para se dedicar a outra área que exige tanto contorcionismo quanto: o circo.

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Ex-promessa para os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, Gabriel já estava com um olho em Tóquio-2020 e tinha oito competições agendadas para este ano – desde Jogos Abertos de Santa Catarina, Campeonato Brasileiro, até eventos internacionais no Qatar, Portugal e México. A proposta, porém, o fez repensar. O convite de um amigo que mora há quatro anos no Canadá fez o jovem querer mudar o ofício de atleta para artista. O que se confirmou. Depois de passar por uma peneira – assim como ocorre no esporte –, Gabriel recebeu o convite para integrar a equipe do Cirque Cavalia, de Montreal, no Canadá.

— Essa decisão no começo foi difícil, eu tinha um pouco de dúvidas se ia deixar a ginástica que está na minha vida há 17 anos. Mas depois que me explicaram como ia ser, escolhi ir para lá. Não só o circo como o fato de conhecer novos lugares, novas pessoas, são coisas que me motivaram – conta.

A passagem já está comprada (Gabriel embarca na segunda-feira para a terra da folha Maple), os shows que ele irá fazer já estão definidos, assim como o tempo que terá de treinamento antes de se apresentar ao público pela primeira vez – serão 30 dias de preparação para as acrobacias. Não que o (ex?) atleta não esteja acostumado com a presença de pessoas em arquibancadas, é claro, mas as apresentações do circo são diferentes daquelas que ele se habituou a fazer durante quase duas décadas dedicadas à ginástica.

— Não é a mesma coisa, mas é (risos). No circo vai ser só questão de treinamento. Acho que a parte mais tensa para mim vai ser a adaptação à língua, cultura, já que falo bem pouco inglês. Vou saber pedir comida lá, me virar, e olhe lá — brinca Gabriel, sem esconder a tensão de se adaptar às aventuras na América do Norte que terá a partir da semana que vem.

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Questão financeira pesou na decisão

Embora seja cauteloso a falar sobre o assunto, Gabriel não esconde o fato de que a grana também influenciou na decisão. E é fácil entender o porquê: em um projeto olímpico que o orgulhoso José Dias, pai do atleta/artista entrega, estão destacados os valores anuais para manter o filho em nível internacional. Com despesas em fisioterapia, nutrição, seguro do atleta (em caso de lesões), ajuda de custo para ele e técnico, despesas com materiais de treino, transporte, alimentação, fisioterapia, são R$ 216 mil anuais. Mas de nada adianta treinar incansavelmente sem disputar campeonatos, certo? E aí que vem outra pancada: só em competições, brasileiras e internacionais, somam-se mais R$ 180 mil. São quase 400 barões por ano necessários para literalmente garantir um alto rendimento para Gabriel.

— Não era fácil. Principalmente antes de renovações com patrocinadores eram 24 horas por dia de tensão — destaca José Dias, pai de Gabriel.

— A parte financeira foi importante, óbvio, eu mentiria se dissesse que não. Mas topei o desafio até pela experiência, pelo fato de ir para outro país e viver situações diferentes das que eu estava acostumado. Vou me jogar de cabeça e dar meu melhor — garante Gabriel, cujo contrato com o circo canadense terá dois anos de duração.

Renovar o negócio em 2019? Se depender da vontade e dar piruetas do (ex!) atleta, sim.