Entre as tábuas quebradas do piso de madeira, a pintura descascada das arquibancadas e a cobertura desgastada pelo tempo, permanecem as lembranças do tempo em que o Ginásio Ivan Rodrigues foi o maior espaço público para a prática de esportes e realização de eventos de Joinville. Hoje, enquanto aguarda pelas obras de reforma para voltar a abrir as portas depois de cinco anos fechado (e não há previsão para ser reformado pela Prefeitura), vive apenas das glórias do passado para continuar de pé.

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O ginásio foi construído na década de 1970 em um terreno na rua Max Colin, na região central da cidade. O jornalista Roberto Dias Borba ainda era garoto quando a estrutura começou a ser erguida. Ele morava perto do local e recorda que o prédio passou a ser usado na segunda metade dos anos de 1970.

Segundo ele, naquela época o governador Ivo Silveira construiu ginásios cobertos em várias cidades de Santa Catarina, mas o único que não levou o nome do político foi a unidade de Joinville, inaugurada apenas no governo seguinte e que depois passou a ser administrado pelo município. O nome foi uma homenagem ao vice-prefeito Ivan Rodrigues, que atuou durante a gestão do prefeito Pedro Ivo Campos, entre 1973 e 77.

– O Ivan Rodrigues foi um ginásio que surgiu como o grande incentivador para os esportes da cidade. É lamentável hoje ser um local que, na prática, não existe mais para o esporte de Joinville, que tem jogadores em potencial em várias modalidades – diz Borba.

Grandes times joinvilenses atuaram no ginásio em competições nacionais, desde o basquete administrado pela Akros que marcou época em 1995 até a era comandada pelo treinador Alberto Bial, há poucos anos. No futsal, a Krona disputou a Liga Nacional e conquistou títulos estaduais na quadra do Ivan Rodrigues, que também foi palco de modalidades durante os Jogos Abertos de Santa Catarina (Jasc).

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O radialista Ricardo Passos também fez a cobertura de muitos jogos realizados no ginásio durante as últimas décadas. Ele revela que o Ivan Rodrigues marcou a carreira de repórter esportivo por causa de todas as lembranças que ainda permanecem vivas na memória.

– Eu vivi grandes momentos do esporte trabalhando ali dentro e vejo aquilo hoje com muita tristeza. Quando a gente passa ali, dói até o coração ao ver o estado em que o ginásio se encontra – conta.

Faltam recursos para a reforma

O ginásio foi fechado pela Prefeitura em 2011 por causa de problemas elétricos, hidráulicos, no assoalho e no telhado que impediam o uso do espaço. De acordo com o presidente da Fundação de Esportes, Lazer e Eventos de Joinville (Felej), Amarildo João, existe um projeto pronto que prevê a troca da cobertura e do piso, além de outros retoques na estrutura e obras de acessibilidade. No entanto, o governo municipal não possui o valor necessário para executar as obras, orçadas em quase R$ 4 milhões.

– Tivemos que escolher entre reformar o Ivan Rodrigues ou o Abel Schulz. Como o investimento era alto, não valia a pena tocar os dois. A realidade é que agora não temos orçamento e, com certeza, neste ano de crise não vamos mexer no ginásio – explica.

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Amarildo ressalta que a fundação municipal continua em busca de recursos para a reforma ou de outra solução para o Ivan Rodrigues. Uma das propostas seria realizar uma permuta com uma construtora, que poderia ficar com a estrutura atual em troca de construir uma pequena arena esportiva em outro lugar da cidade.

Não há previsão de reforma de ginásio

A casa do Festival entre 1984 e 1997

Apesar de ser criado para incentivar o esporte, o Ginásio Ivan Rodrigues também foi a casa do maior evento cultural da cidade durante 15 anos. Após a primeira edição ser realizada na Sociedade Harmonia-Lyra, em 1983, o Festival de Dança de Joinville precisou mudar de casa no ano seguinte para atender melhor ao público e ao grande número de participantes, que chegou a mil bailarinos inscritos de 62 grupos de todos os cantos do País.

Em 1984, a abertura ainda ocorreu na Harmonia-Lyra, assim como as apresentações da categoria infantil. Todas as demais modalidades aconteceram no Ivan Rodrigues. A idealizadora do evento, Albertina Tuma, recorda que o ginásio tinha um pequeno palco, que teve de ser ampliado para receber o Festival.

– Ali aconteceram as grandes apoteoses, as grandes produções, com a presença de balés muito bons que vinham para o Festival todos os anos – conta.

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Espetáculos marcantes aconteceram naquele palco, como o Lamento dos Escravos, com coreografia de Roseli Rodrigues e direção de Luiz Sorel, que lembrou o centenário da abolição da escravatura no Brasil e deu início à tradição de realizar as noites de abertura com a apresentação de companhias oficiais. Também foi no ginásio onde o Balé Lolita, da França, ficou marcado como a primeira companhia internacional a participar do Festival.

Albertina Tuma recorda que o ginásio era muito frio por causa dos espaços abertos que ficavam na cobertura do prédio por onde entrava o vento. Havia apresentações que terminavam muito tarde e atravessavam a madrugada, deixando o ambiente ainda mais congelante.

– O pessoal ficava até as 2 horas da manhã assistindo e não saía dali. Ficavam todos grudados e encapuzados para se esquentar. Com aquele frio, tinha uma lona que caía na frente e ali dentro era a Feira da Sapatilha, em que também tinha quentão para aquecer as pessoas – lembra.

O Festival de Dança de Joinville permaneceu no Ginásio Ivan Rodrigues até a edição de 1997, antes de ser transferido para o recém-construído Centreventos Cau Hansen. No entanto, foi na última edição realizada na rua Max Colin em que o evento se tornou reconhecido pelo Guinness Book como o maior festival de dança do mundo, em número de participantes e em quantidade de gêneros.

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Roberto Carlos e Ray Conniff

O radialista José Eli Francisco também participou do Festival de Dança enquanto era realizado no Ginásio Ivan Rodrigues. Ele recorda que, durante cerca de cinco anos, fez parte do cerimonial do evento. Como era uma voz muito conhecida no rádio joinvilense, ele foi convidado por empresas, instituições e governo municipal para apresentar vários eventos ao longo das últimas décadas na cidade.

– Eu que apresentei o Roberto Carlos quando ele fez show no ginásio. Lembro também da apresentação do Ray Conniff, que foi um dos maiores eventos que foi realizado ali e teve superlotação – relembra.

Eli Francisco explica que os locais mais usados para os shows eram o Palácio dos Esportes (Abel Schulz), a Liga de Sociedades e o Ivan Rodrigues, que recebia os maiores eventos musicais. Entre os mais conhecidos, passaram pelo palco do ginásio artistas como os Mamonas Assassinas, Paralamas do Sucesso, RPM, Engenheiros do Hawaii, Titãs, Kid Abelha e Roupa Nova.

O basquete-show do Globetrotters também passou pelo Ginásio Ivan Rodrigues.