Todo gestor quer passar bem longe da crise, mas, curiosamente, muitos se deixam levar até ela, sem tomar consciência ou medidas preventivas. A maioria pede ajuda quando a situação já está instalada.

Continua depois da publicidade

É o que verifica o presidente da Corporate Consulting, Luis Alberto de Paiva. Poucas são as demandas de consultoria financeira na fase dos primeiros sinais, quando a empresa começa a perder margem, mercado, o caixa se torna apertado e deveria buscar ajuda para retomar o ciclo do produto, afirma.

Quando a organização não consegue pagar a folha e os fornecedores e as dívidas se acumulam, a crise chegou. Em situação emergencial, a saída pode ser a recuperação judicial, como fez a Douat Têxtil, tradicional empresa familiar de Joinville fundada em 1973.

Paiva é o gestor e responsável pela reestruturação que acaba de ser aprovada. A assembleia geral de credores ocorreu no último dia 18.

Os motivos que levaram à dificuldade financeira foram o alto nível de endividamento, elevação das taxas de juros e aumento do custo de matéria-prima, informou Paiva. Após o deferimento do pedido de recuperação judicial em fevereiro, a consultoria iniciou o aporte de capital levantado no mercado financeiro para voltar às atividades com normalidade.

Continua depois da publicidade

– Começamos a estabelecer uma série de medidas dentro da Douat para ter maior controle de custos e contenção de despesas. É indiscutível a viabilidade operacional da empresa – destaca.

A Douat não está sozinha. Segundo Paiva, o setor têxtil passa por um momento de crise, pois a indústria nacional não tem preço competitivo e quando o dólar aumenta, explode o custo de matéria-prima.

– Muitas companhias do setor têxtil estão em recuperação judicial – informou.

Ao analisar o caso da Busscar, cuja decretação de falência completa um ano, Paiva diz que é um exemplo de empresa com sucessão malfeita, que não conseguiu capacitar a transição da família para o mercado.

– Se a empresa tivesse feito a reestruturação em um momento adequado, não precisaria chegar à falência – completa.

Continua depois da publicidade

Gestão diária das contas

Se as decisões da alta liderança definem os rumos estratégicos de uma empresa, é na gestão diária que se cultiva a saúde financeira. O diretor de operações e finanças da Syspro, Jonas Jacques, diz que as causas para perda da saúde financeira estão ligadas à falta de habilidade gerencial e ao fator cultural de não crer no planejamento e preferir errar e aprender com os erros.

Jacques sugere o acompanhamento diário, com métricas expostas em painéis simples mostrando indicadores como estoque, prazos de recebimento, volume de vendas, entre outros. Empresas mesmo grandes podem ter controle, segundo ele, por meio da coordenação de cada área.

Para o professor do departamento de economia da Univille José Kempner, o segredo é pagar as contas do dia a dia. O que não é coberto, afirma, vai refletir no endividamento até um ponto em que alguém diz “chega”.

A falta de controle abre espaço para práticas que geram desperdício, prejudicam a leitura do cenário e podem até terminar em casos de má-fé.

Continua depois da publicidade

– O problema não é a compra do mês, mas a despesa da padaria -afirma Jacques.

Em seu trabalho de consultoria, Jacques já se deparou algumas vezes com práticas que encobrem a real situação das contas.

Um exemplo é quando o orçamento está apertado e o funcionário “empurra a nota fiscal para frente”. Ou seja, fatura no final do mês e estorna no início do mês seguinte. Como a alta liderança não sabe, diz Jacques, o orçamento é planejado sem contar com esses compromissos, que vão se acumulando, e um dia estoura.