No tempo de Jorge Batista, a bola de futebol era muito mais pesada e goleiro não usava luvas. A posição nunca foi a mais preferida entre os que sonham em brilhar nos gramados, mas nada disso para ele importava. Em Joinville, onde nasceu, desde pequeno arriscava alguns dribles, mas aí um amigo se machucou e não pôde jogar no gol. Sobrou para Jorge, que decidiu que dali não sairia mais: por 30 anos, ganhou a vida como goleiro profissional.
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Como poucos queriam ficar no gol, sujeitos a frangos e outras humilhações, a posição já era bem remunerada. Profissional desde os 17, começou em Joinville, nos anos 1960 se mudou para Itajaí, onde jogou no Marcílio Dias e colecionou vitórias em marcantes campeonatos estaduais, e mais tarde deu a carreira por encerrada em Blumenau, em fins dos anos 1970. Ficou sete anos no Palmeiras, até que os atletas todos foram substituídos por um time completo vindo de Goiás. Fora dos gramados, recusou propostas de clubes menores com medo de que não recebesse em dia.
Mas então Jorge já era conhecido e não foi difícil arranjar novo emprego: por 11 anos, foi conferente no porto de Itajaí (“Eu não fazia nada, só ficava comandando”, confessa, às gargalhadas). Quando jogava, viajou por todo o Estado e, como estava no auge da forma, garante que fazia sucesso com as mulheres por onde os times passavam. Apesar de ser vascaíno, a rivalidade não o impediu, ainda no início da carreira, de ir para o time de base do Flamengo.
Ficou dois anos no Rio, mas não se adaptou à cidade grande. Aos 78 anos, casado e pai de dois advogados, mantém um arquivo particular de suas andanças pelos campos de futebol, ao qual sempre recorre: são fotos (a maioria em preto em branco), flâmulas, recorte de jornais. Sentado na sala de casa, enquanto vê os papéis, se dá conta de que muitos do que aparecem nas fotos já morreram:
– Só eu estou vivo – declara, aos risos.
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