Quando tinha 19 anos, Alcendino Silva pegou a bicicleta, deixou Camboriú para trás e foi até Itajaí. De lá embarcou no trem que o trouxe a Blumenau, onde chegou apenas com a roupa do corpo e o endereço de um primo que morava na Rua Benjamin Constant.
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Criado na roça e vivendo entre os bichos desde o nascimento, mal sabia ele que ficaria 20 anos afastado dos animais, até que com o dinheiro do trabalho em fábricas blumenauenses conseguiu comprar o primeiro cavalo. Hoje tem quatro, mas houve época em que chegou a ter quase o dobro.
Aos 76 anos, Alcendino mora na Rua Araranguá, mas é no fim da Henrique Ave Lallemant que se sente em casa. Por causa do aspecto residencial da vizinhança, parece improvável – mas mantém ali, há 12 anos, um sítio que ele chama Piquete Tio Cazuza, em homenagem ao pai.
Mesmo trabalhando com fretes, arranja tempo para ir ao local todos os dias. Além dos cavalos, guarda troféus que conquistou em rodeios e fabrica carroças. Começou com pequenos consertos e agora ganha cerca de R$ 3 mil para cada uma que vende. Mas uma, criada há dois anos, não negocia de jeito nenhum: ele desenvolveu um mecanismo que consegue parar as quatro rodas, e não apenas as duas traseiras, como nas demais. Já ofereceram R$ 8 mil pela carroça, e Alcendino disse não.
– Tenho vontade de ficar aqui no piquete o dia todo – conta.
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Ele não para. Aos fins de semana, reúne-se com amigos, monta na carroça e perambula pelas estradas de chão batido do interior. E frequentemente é chamado pelo Seterb para recolher animais soltos pela cidade. O que começou há 20 anos, quando três cavalos seus sumiram da Rua Araranguá e só foram encontrados na Paulo Zimmermann, em plena luz do dia. Desde então, a qualquer hora, quando coisa parecida ocorre, convoca-se Alcendino.