As gêmeas idênticas Amy e Ano cresceram sem saber da existência uma da outra. Após um vídeo no TikTok, no entanto, elas se encontraram, descobriram serem irmãs e acharam a mãe biológica. O caso revela o passado sombrio do país europeu da Geórgia, no extremo leste do continente, conforme revela reportagem da BBC.

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Amy e Ano nasceram em 2002. Aos 12 anos, Amy Khvitia viu uma menina idêntica a ela dançar em um programa de talentos na TV. Ela até questionou a mãe, mas tudo que ouviu foi que “todo munto tem um sósia”.

Anos mais tarde, em novembro de 2021, no TikTok, Amy postou um vídeo com cabelo azul fazendo um piercing na sobrancelha. Ela já tinha 19 anos.

Ano Sartania recebeu o vídeo de um amigo. Ela achou “legal ela se parecer comigo”. Através de amigos e de um grupo no Facebook, as duas iniciaram o contato.

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“Estou procurando por você há tanto tempo!”, Amy mandou uma mensagem.

“Eu também”, respondeu Ano.

As coincidências, além da aparência, não paravam de aparecer. As duas inclusive descobriram ter a mesma doença genética, um distúrbio ósseo chamado displasia. Elas nasceram na mesma maternidade, mas a data de nascimento que constava na certidão de ambas tinha alguns dias de distância.

No primeiro encontro delas pessoalmente, no entanto, Amy teve certeza que elas eram gêmeas.

— Foi como olhar no espelho, exatamente o mesmo rosto, exatamente a mesma voz. Eu sou ela e ela sou eu — contou Amy à BBC.

Ao confrontarem as famílias, descobriram que foram compradas pelos pais adotivos. A mãe de Amy disse que soube que havia um bebê “indesejado” no hospital, e mesmo precisando pagar aos médicos, resolveu ir pegar a criança. A mãe de Ano contou a mesma história.

Elas encontraram a mãe biológica na Alemanha. A mulher disse a elas que, depois do parto, ficou doente e entrou em coma. Ao acordar, a equipe do hospital teria informado que os bebês morreram logo após o nascimento.

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Passado sombrio

A jornalista Tamuna Museridze criou o grupo de Facebook usado pelas gêmeas para encontrar sua própria família biológica. No entanto, acabou expondo o tráfico de bebês que foi comum até 2005 na Geórgia. A estimativa é que cerca de 100 mil bebês foram roubados da década de 1950 até 2005.

Tamuna conta que os pais disseram que médicos diziam que os filhos das pacientes morreram. Ao pedir para ver os corpos dos seus bebês mortos, as famílias eram informadas de que eles já haviam sido enterrados no terreno do hospital. No entanto, nunca existiram cemitérios em hospitais do país.

Em outros casos, eram mostrados aos pais bebês mortos que haviam sido congelados no necrotério.

Comprar uma criança, segundo Tamuna, era caro, e custava o equivalente a um ano do salário mínimo do país à época. Muitas crianças vítimas do tráfico foram para famílias estrangeiras, como EUA, Canadá, Chipre, Rússia e Ucrânia.

Em 2005, a Geórgia alterou a sua legislação de adoção e em 2006 reforçou as leis antitráfico, dificultando as adoções ilegais. Em 2022, o governo lançou uma investigação sobre o tráfico de crianças. 

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