A geada que surpreendeu e se formou com força em pleno mês de outubro causou um problema à economia da Serra catarinense. Pomares inteiros da melhor maçã foram destruídos pelo fenômeno, e o prejuízo não deve ser pequeno.
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Nos últimos dias, a região foi atingida por uma massa de ar frio que derrubou as temperaturas e provocou geada. Nos dias 11 e 12, por exemplo, os termômetros marcaram, respectivamente, -2,2ºC e -4,7ºC no município de Urupema.
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Se a maçã já não tivesse passado da fase da floração para a frutificação, quando os frutos começam a ser formados, isso não teria terrível. Mas, nesta etapa, a maçã suporta no máximo -2ºC. E como os frutos têm muita água – principalmente a variedade Fuji, considerada a melhor do mundo -, o gelo seguido do sol forte é fatal.
A última vez que o problema chegou a comprometer a produção foi há seis anos, mas não tão grave como agora. Em Urupema, onde aproximadamente 2 mil dos 2,5 mil moradores (80% da população local) estão envolvidos com a produção de maçã, a prefeitura chegou a decretar situação de emergência.
Em todas as localidades do município, a geada causou estragos. Das 19 mil toneladas que seriam colhidas entre fevereiro e abril do próximo ano, apenas seis mil, ou 30%, podem ter se salvado. Uma tragédia para um lugar onde a maçã é responsável por, no mínimo, 65% do movimento econômico local, que gira em torno de R$ 13,5 milhões por ano.
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Em toda a Serra, os prejuízos, segundo a Epagri, ficaram na casa dos 10%. Mas em Urupema, cidade mais alta de Santa Catarina e com vários pomares acima dos 1,5 mil metros de altitude, a geada destruiu 70% da produção.
Em algumas plantações a destruição foi total. E o pouco que sobrou perderá muita qualidade e será vendido a um preço irrisório, entre R$ 0,08 e R$ 0,10 o quilo, quando poderia valer até R$ 0,50 o quilo se estivesse em perfeitas condições.
Dos 100 produtores do município, cerca de 60 dependem exclusivamente da maçã para sustentar suas famílias. Os demais contam com atividades paralelas. A geada tardia prejudicou até mesmo quem cria gado de corte ou de leite, já que as pastagens também morreram.
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– Poucos deles aderiram aos programas do governo que subsidiam a produção. A maioria optou pelo seguro que cobre apenas os prejuízos causados pelo granizo, e não pela geada. Muitos pomares estão dispensando funcionários, e agora o município inteiro pede ajuda – diz Marcia Pinto de Arruda, agrônoma da prefeitura de Urupema.
Sem dinheiro e sem férias
O técnico agrícola Moacir Eduardo de Souza, de 40 anos, produz maçã há 15 na localidade de Bossoroca, distante oito quilômetros da sede de Urupema. Ele já viu a geada provocar estragos em pomares, mas é a primeira vez que presencia uma situação tão grave.
Em uma área de 1,8 hectare, o equivalente a três campos de futebol, Moacir colheria 70 toneladas entre fevereiro e abril e faturaria R$ 35 mil – R$ 0,50 o quilo. Com um custo de produção entre R$ 10 mil e R$ 15 mil, seu lucro seria de R$ 20 mil a R$ 25 mil. Mas Moacir perdeu tudo, e passará quase dois anos sem lucros.
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Ele recebe da empresa que compra a sua maçã apenas em setembro. Assim, como não colherá nem venderá nada em 2011, contará com a sorte para produzir bem na próxima safra e ver a cor do dinheiro somente em setembro de 2012.
Para conseguir sustentar a família durante todo este tempo, já que perdeu a fonte de 70% da sua renda, Moacir se apoiará nas pequenas produções de batata e moranga. Por isso, ele, a mulher e os dois filhos estão cientes de que 2011 será um ano difícil, de gasto zero.
– Estávamos planejando curtir alguns dias de férias no Litoral em janeiro, antes da colheita, mas pelo terceiro ano consecutivo fomos obrigados a cancelar o passeio -, lamenta Moacir, lembrando que, no ano passado, também em outubro, a geada havia destruído 25% da sua produção.
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