Em 1974, Nabil Shaath acompanhou Yasser Arafat na primeira delegação da Organização para Libertação da Palestina às Nações Unidas. Desde então, participou de todas as idas e vindas na diálogo entre Israel e palestinos. Embora cauteloso, Shaath é otimista sobre a possibilidade de reconciliação entre os grupos palestinos que hoje dividem a Faixa de Gaza e a Cisjordânia e acredita que a vitória na ONU poderá favorecer a retomada das negociações de paz.
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Aos 73 anos, Shaat, que foi negociador-chefe nos acordos de Oslo em 1993, viajou 28 horas de Ramallah a Porto Alegre, representando o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, no Fórum Social Mundial Palestina Livre. Confira trechos da entrevista concedida ontem a ZH:
Zero Hora – O que significa a aprovação na ONU?
Nabil Shaath – Significa um estratégico reconhecimento internacional do nosso Estado, como um território ocupado, mas soberano, com seus territórios ocupados em 1967. É uma importante decisão estratégica porque os israelenses querem fazer o mundo acreditar que esses territórios ocupados estão em disputa. Se há apoio internacional para o nosso Estado com as fronteiras anteriores a 1967, como parte de uma solução, isso aumenta nosso poder de barganha e nossa garantia de futuro, mesmo que a ocupação ainda demore um tempo.
ZH – Isso abre as portas para negociações?
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Shaath – Estamos prontos para negociar. A questão é que os israelenses não se comprometem com o que já acordamos antes. Se quiser continuar a negociar, é preciso que Israel pare de construir novos assentamentos em nossas terras. Eles querem negociar e continuar a construir assentamentos, continuar a tomar a nossa terra, continuar a ignorar nosso acordo, continuar a mandar tropas a nossas cidades quando bem entenderem. Sem isso, será muito difícil negociar.
ZH – Mas este momento, com o cessar-fogo entre Israel e Gaza e o novo status das Nações Unidas, o senhor acredita que esse cenário leva a um período mais otimista para a solução do conflito?
Shaath – (Suspiro). Eu não sei. Estamos tentando. Talvez consigamos alguma pressão internacional para fazer (Binyamin) Netanyahu (primeiro-ministro de Israel) se interessar mais pelo processo de paz. Não queremos guerra de novo. Não queremos mais violência.
ZH – O segundo mandato de Barack Obama e a transição no Egito podem ajudar?
Shaath – Obama pode dar mais apoio à região, a questão pode entrar mais na sua agenda. Depois da eleição, o que a secretária de Estado Hillary Clinton fez em alguns dias foi muito mais do que nos quatro anos do primeiro mandato de Obama (para costurar o acordo de cessar-fogo entre Gaza e Israel). Talvez se possa pressionar mais Netanyahu. Vamos ver se essas novas eleições em Israel, em janeiro, provocarão alguma mudança na política israelense. E o Egito, uma vez que conseguir resolver seus problemas internos e se tornar uma real democracia, deve se tornar mais influente.
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ZH – As negociações feitas para o cessar-fogo envolvem questões como o bloqueio econômico de Israel a Gaza. Isso irá de fato ocorrer?
Shaath – É importante para a trégua que isso seja cumprido. E agora com a unidade de Gaza com Cisjordânia deve ser mais fácil negociar a livre passagem de bens.
ZH – Analistas indicam que não há momento mais propício para a reconciliação entre Fatah e Hamas (grupo fundamentalista islâmico que não aceita o direito o direito à existência de Israel. O senhor concorda?
Shaath – Teremos eleições, e os palestinos vão decidir que governo querem. Agora, depois da guerra em Gaza, o Hamas está mais aberto ao diálogo. O Hamas publicamente nos deu apoio ao pleito nas Nações Unidas. Vamos tentar nos unir e no futuro seremos um só país. Gaza e a Cisjordânia serão uma única e unida palestina. Este é nosso objetivo e nos esforçaremos ao nosso máximo para alcançá-lo.
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ZH – É possível os palestinos recuarem em condições para dar início a negociações?
Shaath – Não queremos pedir nenhuma nova condição. Só queremos que Israel implemente o que foi acordado. Não há forma de voltarmos ao marco zero. Não podemos simplesmente desistir do que Israel concordou.