Imagine a cena: uma Kombi com 11 pessoas sobe a estrada de chão batido no morro da Vila Jensen. No meio do caminho, a bateria falha, e o carro desce de ré. O motorista perde o controle, e a Kombi tomba. Apesar do susto ninguém se fere, e eles insistem na subida. Quando o veículo quase atinge o topo, de novo uma pane: desta vez, falta gasolina. O carro novamente desce de ré e tomba. Um foco de incêndio atinge o motor. Uma mulher grita para jogarem água. Um homem sai correndo e despeja o balde no motorista, meio desacordado com o impacto.
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– Não é nele! É no motor! – retruca a outra.
Pelo absurdo da situação, pode até parecer piada, mas ocorreu mesmo. Foi há oito meses e, contada entre gargalhadas, diz muito do bom humor inabalável de Gauchinho da Viola (não o chame de Floresnal de Assis Fernandes, porque ninguém o conhece pelo nome), o motorista do veículo. Nascido em Canoinhas, aprendeu a tocar violão aos 18 anos com Moisés Roberto dos Santos, morto em acidente de trânsito na Itoupavazinha dia 16. Com mais dois, formavam um grupo musical, que nos anos 1980 se apresentou no carnaval em Blumenau. A festa acabou, e ele e Robertinho resolveram ficar.
>> Confira a galeria de fotos com Gauchinho e seu violão
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Aos 63 anos, Gauchinho segue tocando sertanejo, mas ganha a vida com sucatas. Às 6h, já está na estrada com sua Kombi recolhendo papel, plásticos, equipamentos velhos. A cada 15 dias um caminhão busca a carga em seu depósito à beira da rua Erich Meyer e lhe deixa cerca de R$ 1 mil.
– Tudo que consegui foi com sucata. A minha casa fiz com o dinheiro da sucata – afirma.
Se um vizinho precisa de algum material, ele cede, de graça. E quando ganha roupas usadas, as divide entre os moradores.
– Sempre pobre e sempre feliz. Ele nunca está triste – define Gerson Romig, um de seus vizinhos.