A transformação de Ronaldo Souza em Gato Galáctico teve um ponto de partida bem comum: a paixão por desenhos animados, seus personagens e universos. Mas Ronaldo não ficou na mera admiração: começou a imaginar como seria seu próprio universo animado, caso ele decidisse criar um. E decidiu botar a mão na massa.
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– Comecei a criar animações; para publicidade, comerciais, curtas e longas-metragens – narra o hoje youtuber e produtor de conteúdo audiovisual. – Quando passei a me destacar nesse mercado, achei que estava na hora de criar um projeto autoral. Criei o Gato Galáctico, e decidi usar o YouTube como plataforma para mostrar esse universo para todo mundo.
O Gato Galático surgiu em 2013. Inicialmente, o projeto era focado em um gatinho de animação que viajava pelo espaço, visitando vários planetas no processo – o nome era autoexplicativo. O conteúdo foi ficando mais diverso e ambicioso conforme o tempo passava e Ronaldo criava outros personagens; outros universos, como ele gosta de dizer. Mas o nome “Gato Galáctico” ficou.
– Eu postei a série do Cueio, o pessoal amou; postei a música do Pudim Amassado, o pessoal amou; postei o Desnecessauro; a série Minha Vida Animada.. – Ronaldo lista as animações que surgiram na esteira do pioneiro Gato Galáctico, explicando também como abraçou de vez o lado youtuber. – Acabei fazendo muitas histórias diferentes ao longo desse tempo todo. E o pessoal começou a pedir para eu aparecer mais. Só que eu sempre fui uma pessoa introvertida. Acho que artistas acabam sendo introvertidos por natureza. Mas pensei: “Quer saber? Eu vou tentar”. Aí comecei a aparecer, e o pessoal curtiu. Então decidi que era isso que eu ia fazer: ser essa pessoa que as pessoas querem ver, mas ao mesmo tempo criar animações diversas.
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Ronaldo passou cinco anos trabalhando sozinho na marca, de 2013 a 2018. A partir daí, em função do crescimento do canal, da marca, e das próprias plataformas digitais, começou a contratar profissionais, e diluir entre eles as muitas tarefas que antes desempenhava por conta própria.
– Hoje nossa equipe conta com mais de 40 pessoas – ele diz, antes de pensar um pouco e se corrigir: – Acho que mais de 50, na verdade. Deve fazer um ano e pouco que eu falo que tem mais de 40 pessoas, e isso com certeza já mudou. (risos)
Primeiro longa-metragem
Em 2021, o Gato Galáctico já acumula mais de 14 milhões de seguidores no YouTube, sendo um dos maiores canais voltados para crianças no Brasil. Agora, a empresa se prepara para a estreia de seu primeiro longa-metragem em live-action: é Acampamento Intergaláctico, definido pelo produtor como uma narrativa de ficção científica, aventura e família.

– É um projeto que eu sempre quis fazer: eu vejo como a evolução do que nós fazemos diariamente nas plataformas digitais – Ronaldo comenta sobre a novidade. – Tem mais qualidade, mais investimento, mais valor de produção. O filme ficou muito legal; tá com uma vibe bem nostálgica, com figurinos bem anos 1980 e 1990. Ele foi todo gravado em junho, julho. Tivemos que seguir todo um protocolo em relação à Covid, com uso de máscaras, separações de acrílico entre as pessoas na hora das refeições, processos bem rigorosos de higienização. Isso aumentou um pouco o valor do investimento, mas é necessário, né? E não atrasou o cronograma.
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– É muito louca a experiência, porque o elenco vai se vendo todos os dias, virando uma família. Tem momentos muito intensos – Ronaldo se empolga. – E é bastante trabalhoso ao mesmo tempo. Às vezes uma cena de 15 segundos demora quatro horas pra ser gravada. Teve uma cena das gravações noturnas em que eu tinha que sair de um esgoto e precisava estar todo sujo, aí precisava me banhar em slime, basicamente. Era um gel muito gelado, e estava muito frio. Foi horrível gravar essa cena. (risos) Mas eu tô louco pra viver de novo a experiência de gravar. Acho que fazer filme é viciante. (risos)
Acampamento Intergaláctico estreia no NET Now no início de novembro. Ronaldo diz que ainda quer desenvolver um pôster para o filme, assinado por ele mesmo, “meio anos 1980, meio Goonies“, para botar ali mais um pouco de suas referências. Pergunto se o filme tem uma atmosfera ao estilo de Stranger Things, seriado de ficção científica da Netflix que se passa na década de 1980, e ele concorda. Marty McFly, o protagonista de De Volta Para o Futuro, foi uma das inspirações para os visuais do próprio Ronaldo nas filmagens.
Em primeira mão, o youtuber antecipa alguns planos:
– Já temos um segundo filme, que vamos começar a gravar em dezembro, e que deve sair no ano que vem; e já estamos em conversas para fazer o terceiro e o quarto – anuncia. – Esse segundo é uma história nova, mas faz parte do mesmo universo. O roteiro está incrível! Também estamos finalizando o roteiro e começando o storyboard do primeiro longa de animação dos Guerreiros Prismágicos. Tem muita coisa acontecendo, o que é muito legal.
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Conteúdo para toda a família
Na opinião de Ronaldo, produzir conteúdo para o público infantil pode ser ainda mais desafiador do que criar personagens e histórias voltadas para o público adulto.
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– Se a criança vê algo e não gosta, ela vai falar “não gosto” e parar de assistir – opina. – Crianças têm uma capacidade mais aguçada que a nossa de captar a verdade do mundo. Acho que trabalhar com o público infantil é trabalhar com a verdade pura e absoluta. Você precisa ser muito assertivo: não tem espaço para o cinzento. Eu direciono o conteúdo sempre para a família toda; ou seja, é um conteúdo amigável, sem palavrões, sem conteúdo dúbio, sem forçar ideologias. Eu adoro! E os pais e as mães também acabam gostando de mim, por ser uma boa referência.
– Acho que artistas são crianças com um senso crítico mais aguçado: a gente aceita que nosso lado infantil faça mais parte da nossa vida – pondera Ronaldo. – E isso envolve ver o mundo de uma maneira mais leve. Adoro pessoas que conseguem e têm o privilégio de manter viva a criança dentro de si.

Como o Gato Galáctico se expandiu de modo paralelo ao crescimento das próprias plataformas de streaming e redes sociais, Ronaldo considera ter, agora, um outro papel a desempenhar: o de mentor e incentivador de novos produtores de conteúdo, que busquem divulgar seus próprios projetos por meio do YouTube e de outros espaços digitais.
– Houve um grande processo de amadurecimento das plataformas e dos influenciadores – ele explica. – Os influenciadores viraram grandes players. O caminho que eu segui foi transformar o Gato Galáctico em uma produtora de conteúdo. Investimos bastante, evoluímos nosso conteúdo da melhor maneira possível, mantemos boas relações com serviços de streaming. A descentralização das plataformas digitais é muito positiva. Quando eu comecei, ninguém imaginava que um dia essa ia se tornar a principal forma de consumir conteúdo; que a monetização seria tão grande. Tive diversas brigas com meus pais, que não acreditavam muito nisso.
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– Claro, acho que esse crescimento também fechou portas: para se destacar hoje em dia é mais difícil, porque há mais gente produzindo – Ronaldo continua. – Todo mundo já viu o valor de mercado que há nisso, e muita gente quis entrar. Por essas e outras, nós estamos incubando projetos. Vemos muita gente que quer mostrar seu trabalho e não tem como atingir um grande público. Eu quero muito inspirar arte e incentivar quem quer produzir; quero ouvir o que as pessoas têm a criar e ajudá-las a tirar os projetos do papel. Estamos somando forças para fazer essas marcas bombarem.
Futuros projetos
Para seguir com tantos planos, está em construção em Florianópolis o prédio da Ronaldo Souza Produções: o espaço vai reunir estúdios para gravação de conteúdos em live-action, animação 2D e animação 3D; e atender tanto as produções autorais do próprio Ronaldo quanto os projetos dos clientes e parceiros. E tudo isso deve ser unido não só no espaço de produção, mas dentro das narrativas das histórias em si.
– A gente vai transformar tudo isso numa grande galáxia de conteúdos: vários universos de personagens misturados, combinados. Esse é nosso projeto mais empolgante, na minha opinião – comenta Ronaldo. – Estamos nesse caminho de interconectar as coisas. Eu vejo padrões similares nas minhas criações: existem alguns símbolos que se repetem, que são utilizados e reutilizados. E, na minha visão, eles acabam se tornando pontes entre os universos dos diferentes personagens.
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– Tem um monolito que aparece nas minhas séries do Cueio e do Desnecessauro, por exemplo – ele detalha. – Vai ser muito legal misturar tudo isso: o Cueio 3D; o Desnecessauro 2D; eu, live-action. Estamos buscando a inteligência adequada para passar para as pessoas a noção de que tudo isso faz parte da mesma galáxia: o nome do projeto, aliás, é Galáxia. E esses novos produtores com os quais estamos trabalhando podem ter seus próprios planetinhas dentro dessa galáxia. Estou bem entusiasmado com isso.
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Nada mau para quem começou a produzir conteúdos justamente pela vontade de imaginar como seria seu próprio universo animado.
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