Pela segunda vez em três semanas, a gasolina atingiu o maior preço médio deste ano em Santa Catarina, conforme aponta a pesquisa da Agência Nacional do Petróleo (ANP). O litro do combustível no estado está custando, em média, R$ 5,83. O valor supera em nove centavos o custo antigo, de R$ 5,74.
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De fevereiro a setembro, com base no valor médio registrado pelo Procon de Joinville, os preços da gasolina comum e aditivada cresceram em mais de 23%. Já do diesel, mais de 40%.
Jani Floriano, professora de economia especializada em finanças, investimentos e banking, explica que a alta nos preços pode impactar diretamente em todas as cadeias de valores, principalmente as que dependem de transporte.
Ela usa como exemplo o ramo da educação, que além de necessitar do deslocamento do prestador de serviços, que depende do preço do frete e dos custos das empresas terceirizadas, também precisa de energia elétrica.
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Outro exemplo utilizado pela especialista é o serviço de entrega de comida. Conforme sobe o preço da gasolina, explica, aumenta diretamente o frete deste produto, já que gera um custo maior na prestação deste serviço.
– Quanto mais precisar de transporte para ter acesso ao produto, mais caro este produto pode se tornar. Pode ser que a empresa não transfira e mantenha o valor, mas olhando pela ótica de lucro, é difícil não acontecer – avalia.
Aumento de carga horária
Uma das categorias diretamente afetadas pela alta nos preços da gasolina é, justamente, a de motoristas de aplicativo. Daniel de Lima Feitosa, 32, é natural do Maranhão e vive em Joinville há quatro anos. Há três e meio, trabalha como motorista da Uber.
Com os aumentos registrados nos últimos meses, Feitosa conta que precisou aumentar sua carga horária de trabalho para poder manter os custos de casa. No entanto, o lucro pouco tem compensado quando pesa na balança os inconvenientes com que pode se deparar nas estradas.
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– Temos o risco do carro quebrar, estourar pneu, ter de trocar alguma peça. Antes eu trabalhava oito horas o tirava uns R$ 200 por dia. Agora eu estou trabalhando doze, treze, até quatorze horas por dia para tirar mais ou menos uns R$ 150 – relata.
Com reajustes no valor repassado pelos motoristas aos aplicativos de transporte, Feitosa diz, no entanto, que não há previsão de aumento no lucro dos trabalhadores. Ele afirma que gosta de trabalhar na função, principalmente pela liberdade em escolher horários, mas já tem buscado outras alternativas caso a gasolina continue aumentando e diminua a renda.
– Se continuar aumentando, provavelmente, vou parar de trabalhar de Uber. Eu já tenho até um plano um B. Estou fazendo a adição da minha habilitação pra poder arrumar um um serviço de motorista de ônibus ou de caminhão. Porque não vai mais compensar – destaca.
Este fator tem afetado até os usuários do serviço. Segundo o motorista, por causa do aumento nos preços, os trabalhadores têm optado por pegar corridas mais longas e, consequentemente mais vantajosas.
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Além disso, segundo Feitosa, muitos motoristas têm deixado de trabalhar para o aplicativo. Isso explica, por exemplo, os constantes cancelamentos das corridas e o maior tempo de espera dos passageiros, já que, ultimamente, a maioria dos motoristas aceitam uma viagem mesmo antes de ter finalizado a corrida anterior.
– Tem vários motoristas que cancelam em ambiente de supermercado, por exemplo. Eu, que sobrevivo da Uber, não posso ficar cancelando. Então, eu pego todo tipo de corrida.
Por que acontecem os aumentos
A professora de economia Jani Floriano explica que a Petrobras tem uma política de preço baseada no desempenho do petróleo no mercado externo. Esta política leva em consideração o câmbio, o preço do frete marítimo e a demanda internacional.
Jani usa como exemplo a produção de um carro no Brasil. O produtor, além de verificar os custos internos e colocar uma margem de lucro para a venda, ele analisa o mercado internacional e seus impactos.
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– No caso do dólar, só o fato de a moeda aumentar no Brasil, porque pagamos em reais, é levado em conta até o frete marítimo internacional. Mesmo que nosso combustível venha do Rio de Janeiro, por exemplo, e não utilizemos o navio, mas para precificar é considerado o preço do frete internacional – pontua.
Além desses fatores, o aquecimento do cenário econômico mundial, de acordo com a especialista, também tem impactado nesses preços. A nível de Brasil, o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e outros impostos contribuem para este aumento.
– E tem o peso que, na minha opinião, é a parte mais crítica: a realização da Petrobras, que é mais de 33%. Olhando pela ótica das políticas públicas, o governo federal poderia, sim, diminuir esta contribuição para baratear o preço nas bombas. Mas mesmo se tratando de uma estatal, ainda assim é uma empresa e precisa gerar lucros. Portanto, não existe uma decisão única – opina.
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Redução de margem de lucro
Com sucessivos aumentos no preço da gasolina que parte das refinarias, a saída para alguns postos de combustíveis manterem a competitividade de mercado foi a redução da margem de lucro. O Auto Posto Mimin, localizado na zona Sul de Joinville, por exemplo, é um dos locais com menor preço na cidade, conforme levantamento do Procon.
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Meiriane Carvalho Ledoux, gerente do estabelecimento, explica que o posto estava mantendo o preço de R$ 5,59 até a semana passada, antes do anúncio da paralisação dos caminhoneiros. A gerente afirma que o movimento é forte diariamente no local, mas foi intensificado durante o bloqueio das rodovias.
– Reduzimos, normalmente, em 10 ou 15 centavos. No dia do anúncio [de paralisação], tivemos que fechar o posto mais cedo e ficamos fechados no dia seguinte, porque faltou combustível. Quando chegou o caminhão para reposição, já se formou uma fila atrás – conta.
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Meiriane conta que foi possível manter o preço no produto que tinha em estoque, antes da mobilização dos caminhoneiros. Depois disso, houve reajuste de dois centavos. A maior readequação de preço aconteceu na terça-feira (14), quando o posto passou a cobrar sete centavos a mais na gasolina comum e aditivada.
Mesmo assim, a gerente garante que o estabelecimento tem um dos menores preços da região. Isso porque, segundo ela, o posto conta com caminhões próprios para a distribuição de gasolina, sem a necessidade de pagar frete. No entanto, o local tem custos de aluguel.
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– Temos um preço diferenciado para manter a clientela. Nosso preço já chegou a 15 centavos mais barato em comparação a outros locais da região. Mas o preço está aumentando [nas refinarias], aumentou pelo menos seis vezes neste ano. Às vezes conseguimos dar uma segurada no preço final, mas tem vezes que não tem como manter nossos custos – justifica.
Manter-se no mercado
Regiane Souza, gestora do posto Graciosa, da rua Florianópolis, explica que o local tem acompanhado o preço de mercado. Ela afirma que a rede, que existe há 45 anos, trabalha com gasolina refinada, diretamente da Petrobras, e já tem sua lista de clientes fixa.
A gestora aponta os postos Graciosa trabalham com a política de manter-se dez centavos acima no mercado e, por possuírem local próprio, é possível, mesmo com aumento no preço das refinarias, seguir sem reajuste.
Regiane explica que a média de preço é estipulada pelo governo federal e a Petrobrás vende o produto com um valor já determinado. Os postos, por sua vez, ajustam os preços dentro de sua margem de custos.
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– Mas se fosse pra colocar a margem que deveria colocar pra manter os custos, não iria vender. O aumento já vem direto na nota. Só repassamos aquilo que já vem pronto, não tem pra onde correr. O fato de não pagar aluguel ajuda bastante, quem paga não sei como está se mantendo – argumenta.
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