A alta no preço da gasolina dificultou o trabalho dos motoristas de aplicativo, que usam o carro como principal fonte de renda. Os impactos do litro mais caro provocaram uma desistência em massa dos profissionais catarinenses. Ao menos, 40% dos profissionais pararam de atuar pelas ruas do Estado em 2021, conforme a Associação dos Motoristas de Aplicativo de Santa Catarina (Amasc).

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Após essa série de desistências, cerca de 80 mil motoristas trabalham hoje em Santa Catarina, segundo a associação. E esse número segue em queda. O registro de motoristas aumentou no início da pandemia – março de 2020 – em relação a 2019. Porém, com a alta da gasolina este ano, o número começou a apresentar queda, conforme informa a categoria.

Esse êxodo é o causador da dificuldade em achar corridas nos últimos meses, por parte dos usuários, alega a categoria. Só em 2021, a refinaria passou de uma média de R$ 4,48, em janeiro, para R$ 6,54, em dezembro no Estado, de acordo com a ANP. Isso se refletiu no valor cobrado na bomba. E a taxa recebida por cada motorista por corrida teve um aumento de apenas R$ 0,10 neste ano, segundo a Amasc. 

Os números são impactantes para os motoristas que trabalham apenas com aplicativos de corrida. 

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– A gente tem uma alta considerável no número de cancelamento de caronas, por conta dos preços dos combustíveis. Os motoristas estão deixando de fazer o volume de corrida esperado e buscando por corridas com um valor maior para compensar os quilômetros rodados – explica o diretor da associação da categoria em SC, Allan Puga.

Embora as empresas não divulguem a quantidade de motoristas que deixaram as plataformas, a associação afirma que, caso o preço da gasolina continue em alta nos próximos meses, as corridas vão ficar mais caras e com poucos motoristas rodando. 

De acordo com Joel Fernandes, vice-presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis de Florianópolis (Sindópolis), percebe-se, após os aumentos semanais da gasolina nos últimos meses, uma diminuição de carros no geral, transitando pelos postos. Essa redução, segundo ele, foi de 10% a 15% nos últimos três meses. 

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– Até o fim do ano, se o crescimento do valor do barril de petróleo continuar fora do Brasil, a gasolina vai passar de R$ 7 – afirma Fernandes.

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Adaptações na rotina

Anos atrás, ser motorista de aplicativo era uma boa alternativa para driblar o desemprego e ganhar uma renda extra. Atualmente, essa visão é posta em xeque. De acordo com a Amasc, os motoristas que se mantêm ainda no trabalho tiveram que se adaptar à crise.

Diego da Silva Ventura, motorista de aplicativos há mais de quatro anos, conta que, atualmente, recebe cerca de 60 pedidos de corrida no horário de trabalho. Porém, aceita, em média, 18. Isso porque escolhe as caronas que vão compensar o dia de trabalho. Antigamente, conforme conta, pegava “todas as caronas possíveis”.

– Não está valendo a pena. E claro, isso diminui a oferta de caronas, o que impacta na demora para chegar um carro ao passageiro. Antes demorava cinco minutos, agora está demorando 15 minutos, até 1h – explica.

Antes, conforme relembra o motorista, trabalhava cerca de 12h por dia, de forma espaçada. Atualmente, trabalha, em média, 6h. 

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– Eu saia de casa as 7h, voltava as 11h. Saia as 13h e trabalhava até as 16h. Depois saia as 17h e volta só as 22h ou 23h. Hoje eu saio 8h e volto 10h, saio de novo as 13h e volto 14h30 e, por fim, saio as 17h e volto as 20h30. Isso principalmente por causa do combustível alto – explica. 

Os profissionais, conforme diz a Associação dos Motoristas de Aplicativos do Estado, estão evitando horários de pico para diminuir o consumo da gasolina.

– Muitos também trocaram de carro e procuraram por um mais econômicos – explica o diretor da Amasc, Allan Puga.

Devido a essas questões, o padrão de qualidade, de acordo com a categoria, acaba sofrendo uma queda. No início do “boom” dos aplicativos de carona, os motoristas costumavam ter balas e água para oferecer aos passageiros. Hoje, conforme explica a Amasc, esses “mimos” não existem mais e a manutenção do veículo não é feita com frequência, para compensar o ganho diário. 

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De acordo com o motorista Diego da Silva Ventura, o preço alto dos combustíveis impacta também nas escolhas do motorista em relação ao carro. Segundo ele, pastilha de freio, óleo e troca de pneus são demandas que estão ficando em segundo plano.

– É perigoso, principalmente, pneu. Tenho colegas que não estão trocando para compensar o trabalho. Mas isso é preocupante – explica.

A visão do motorista, com a alta dos preços dos combustíveis, é entender se os quilômetros que ele vai fazer, de buscar o passageiro e levar ao destino final, é vantajosa pra ele. Esse é o maior motivo dos cancelamentos de corrida, conforme afirma Allan Puga, diretor da Amasc.

O que dizem os aplicativos

A reportagem entrou em contato com os aplicativos de carona Uber e 99. 

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A assessoria da Uber informou que não possui dados de desistências de motoristas da plataforma e não pode divulgar taxas pagas aos profissionais, porque elas são variáveis. No entanto, afirmou que possui diversas iniciativas para favorecer o motorista, como desconto nos abastecimentos.

A plataforma 99, no entanto, não respondeu. 

Nova ferramenta

Um teste com um novo aplicativo de carona está sendo testado na Grande Florianópolis, segundo a Amasc. O VaptVupt deve se expandir para Santa Catarina nos próximos meses. 

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A dinâmica da tecnologia vai funcionar diferente dos aplicativos convencionais. De acordo com a associação, os motoristas terão um custo mensal – valor fixo -, e 100% do preço das corridas será só dele.

As atividades iniciaram nesta quarta-feira (15), segundo o que informou Puga.

*Sob supervisão de Vinícius Dias.

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