Eternizado. O tempo não apaga da memória do advogado carioca José Carlos Vilella Júnior momento algum da derrota do Brasil para a Itália, por 3 a 2, na Copa do Mundo da Espanha, em 1982. Impossível esquecer. Na época, o garoto de 10 anos entrou para a história como uma personagem daquela perda dolorida para a Seleção. Hoje, a foto que ilustra o sofrimento brasileiro emoldura a casa dele no Campeche, em Florianópolis, onde mora.

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José Carlos estava na arquibancada do Estádio Sarriá e seu sofrimento foi flagrado pelo fotógrafo Reginaldo Manente. No dia 6 de julho, o menino estampou a capa do Jornal da Tarde. A foto marcou a vida de José Carlos, que deixou o Rio de Janeiro e se estabeleceu na Ilha de Santa Catarina.

Depois desta terça-feira, José Carlos terá outra memória difícil de esquecer. A vexatória derrota da Seleção para a Alemanha por 7 a 1 deixou o carioca surpreso e sem reação. Ele que demorou 12 anos para voltar a acompanhar o Brasil com toda a paixão que sempre teve pelo futebol.

– Eu só me recuperei daquela derrota da Seleção Brasileira em 1994. Mas como torcedor logo em seguida eu tive muitas alegrias com o Fluminense – o time de coração de José Carlos.

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José Carlos Vilella Júnior teve seu sofrimento eternizado e premiado, já que a foto de Manente venceu o prêmio Esso, a maior premiação do jornalismo brasileiro. Por causa disso, aquela dor de 1982 sempre retorna. Para aquelas crianças que ontem foram capturadas por câmeras de televisão e fotográficas o recado do Garoto do Sarriá é simples: não deixe de sonhar.

– Eles têm que continuar acreditando que vamos realizar nossos sonhos e trazer o espírito do esporte para um aprendizado da nossa vida, que existem momentos de glórias e dificuldades. Temos que aprender a ultrapassar isso e continuar com a mesma dignidade e cidadania.

Surpresa pela derrota e pela falta de reação

Ao ver os gols saindo o sentimento de apreensão da partida foi trocado por uma perplexidade.

– O sentimento não chega a ser a tristeza que eu senti em 1982, porque agora não tivemos esperança nenhuma de que iriamos virar o jogo. Não poder ter esse poder de reação é muito dolorido e beira quase uma humilhação – finalizou.

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O tempo passa a dor diminuiu, mas algumas coisas são impossíveis de esquecer. O que José Carlos Vilella Júnior ensina é que o futebol sempre dá uma nova oportunidade de voltar a sorrir.

Diário Catarinense – Quanto tempo demorou para esquecer a dor da eliminação em 1982? José Carlos Vilella Júnior – Olha, em relação à Seleção Brasileira, foi apenas em 1994. Mas como torcedor logo em seguida eu tive muitas alegrias com o Fluminense. O meu pai era vice-presidente jurídico (José Carlos Vilella, conhecido como o Rei do Tapetão). Assisti ao tricampeonato carioca e ao primeiro título do Brasileirão. Isso deu um alento como torcedor. Mas com a Seleção Brasileira só veio a curar aquela dor com o título de 1994.

DC – Mas você deixou de acompanhar a Seleção?

Vilella Júnior – Sempre acompanhei e foi um sofrimento muito grande com a Seleção. Junto com o meu pai, acompanhei de casa a eliminação de 1986. Perdemos em 1990 para a Argentina, na bola, pois aquele time deles era muito bom. Foi de muito sofrimento. Mas eu acho que todas essas derrotas foram muito diferentes da de hoje que foi avassaladora, que não teve esperança. O jogo acabou no primeiro tempo. Sofro e fico ainda imaginado o sofrimento dos brasileiros no estádio acompanhando um segundo tempo em que sabíamos que um milagre não iria acontecer.

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DC – Que conselho você dá para as crianças que assistiram à partida no Mineirão?

Vilella Júnior – Eu falaria que não podem deixar de sonhar. Elas têm de continuar acreditando que vamos realizar nossos sonhos e trazer o espírito do esporte para um aprendizado da nossa vida, onde existem momentos de glórias e de dificuldades. Temos que aprender a ultrapassar isso e a continuar com a mesma dignidade e cidadania.

DC – Como você se sentiu assistindo a essa derrota por goleada?

Vilella Júnior – Foi uma derrota muito triste pelo fato de estar aqui no Brasil, pelo povo brasileiro e pelo tamanho da derrota. Não deu tempo de sofrer na partida. Foi um jogo atípico e ninguém imaginava, nem os mais pessimistas, que nós iriamos sofrer uma goleada de 7 a 1. Foi tão avassaladora a derrota que não deu tempo de sofrer. Não deu para entender o que estava acontecendo.

DC – A dor chega a ser parecida com a derrota de 1982?

Vilella Júnior – O sentimento não chega a ser a tristeza que eu senti em 1982, porque não tivemos esperança nenhuma de que iríamos virar o jogo. Não poder ter esse poder de reação é muito dolorido e beira quase uma humilhação.

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DC – Por que o Brasil foi eliminado pela Alemanha?

Vilella Júnior – Vejo três situações. O Neymar era o esquema tático do Brasil. Jogávamos de forma diferente com ele, o Brasil tentou manter colocando o Bernard, mas ele não conseguiu corresponder à altura. Tínhamos que entrar com um esquema tático mais defensivo. O segundo erro foi não terem respeitado a Alemanha. Eles não têm um jogador igual ao Neymar, mas têm o maior conjunto da Copa, têm o maior toque de bola. Em terceiro, não foi só a falta do Neymar, a falta do maior zagueiro do mundo (Thiago Silva) também atrapalhou. Quando eu soube da ausência do Thiago, falei: “Tem que entrar com três zagueiros. Um Thiago Silva vale por dois Dantes”.