Quando Alan Turra tinha nove meses de vida, a mãe, Zélide, levou-o a um médico em Guaraciaba, no interior do Estado. Lá, ela descobriu que o garoto, hoje com 13 anos, possuía a síndrome de Goldenhar, enfermidade congênita rara que pode causar cegueira e surdez. A deformidade facial no lado direito do rosto do menino, próximo ao ouvido – prejudicado pela síndrome, foi o que motivou a consulta. A assimetria estética também dificulta a fala e a mastigação.

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– O médico me disse que não teria jeito, que ele continuaria assim e não teria nada a fazer. Se a gente não lutar pelos nossos filhos, quem vai lutar? – relembra Zélide.

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Após o diagnóstico frustrante, a mãe resolveu mudar de cidade e procurar outros médicos. Em Florianópolis, ela, o marido e outros dois filhos maiores encontraram a equipe do Hospital Infantil Joana de Gusmão disposta a ajudá-los. Com o apoio da Extensão em Atendimento Odontopediátrico da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Alan participou quarta-feira, 13, da primeira cirurgia para correção de assimetria facial realizada de maneira 100% digital dentro do Sistema Único de Saúde (SUS).

Foto: ALVARÉLIO KUROSSU/AGÊNCIA RBS

Confiante no resultado

Minutos antes da cirurgia, Alan parecia confiante com o resultado estético e funcional prometido pelos médicos.

– No momento estou mais com fome do que nervoso – brincou o menino, em jejum por mais de 12 horas.

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Para a equipe do Infantil, essa é a primeira vez que o software Virtua 3D, cuja licença custa 10 mil dólares, é usado em uma criança paciente do SUS em SC. Na rede particular, o procedimento poderia custar até R$ 700 mil.

– Esperamos que outras crianças possam ter a mesma oportunidade – comenta Levy Rau, cirurgião bucomaxilofacial do Hospital Infantil, que liderou a operação que durou sete horas. O garoto passa bem e deve ficar pelo menos mais uma semana em recuperação na unidade.

Procedimento previne riscos

Alan faz acompanhamento no Infantil para fazer a cirurgia há cinco anos. Segundo Levy Rau, o menino encontra-se na fase ideal para correção da assimetria facial, principalmente por já estar com a dentição permanente.

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– A deformidade vai crescendo com a criança, então nós temos prazos a cumprir. Com esse procedimento, pretendemos restabelecer a harmonia de desenvolvimento do rosto em uma fase que ele já começa a se enxergar como pessoa – explica o cirurgião.

Ao longo das consultas realizadas por Alan, a equipe de médicos utilizou o Virtua 3D, que permitiu o planejamento da cirurgia de maneira digital. A partir de fotos digitalizadas, o programa desenvolvido nos EUA realiza simulações do que, como e onde serão feitos os cortes na mandíbula.

Intervenção com indicação médica

Segundo Levy Rau, 70% da população brasileira apresenta alguma deformidade facial e são recomendadas a fazer as cirurgias bucomaxilofaciais – também conhecidas por ortognáticas. O Colégio Brasileiro de Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial confirma esse contexto ao apontar que, no Brasil, são realizadas mil cirurgias ortognáticas por mês, nas redes pública e privada, sem contar os procedimentos cirúrgicos de emergência para correção facial por trauma ou acidente.

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Em nota, a entidade também esclarece que cerca de 90% dos pacientes que buscam um especialista nesta cirurgia chegam aos consultórios com indicação médica de outra especialidade como ortodontia, cardiologia, pneumologia, pediatria e otorrinolaringologia – o que ilustra necessidade funcional, e não apenas estética.