A região de Monte Alegre, em Camboriú, é conhecida por abrigar pessoas quem vêm de fora a procura de trabalho. Por isso, na avaliação do presidente do Conselho Tutelar, Adriano Gervásio, o local se torna um atrativo, por concentrar um grande número de pessoas de baixa renda. Além das mulheres jovens, as garotas de programa e usuárias de droga também tem sido um alvo para o comércio de bebês. Muitas delas são vistas grávidas e depois surgem sem a criança.
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– Teve um caso de uma garota que fazia programa grávida, ela dizia que era quando mais ganhava dinheiro. Ela ganhou o neném no motel- lembra.
As ameaças são uma constante durante a atuação dos conselheiros, mas têm se tornado mais evidentes durante os últimos anos. Ligações de telefones públicos “aconselham” os profissionais a pararem de “mexer” com determinados assuntos. Recados de pessoas influentes também chegam aos ouvidos dos conselheiros que citam casos específicos.
– Já sofremos ameaças de morte e de pessoas dando a entender que era melhor parar- relata Gervásio.
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O diretor do Núcleo de Prevenção às Drogas de Camboriú, Manoel Mafra, relata que todas as denúncias são verificadas assim como um trabalho preventivo também é feito com jovens grávidas, possíveis alvos de quadrilhas e intermediários. Os conselheiros conversam com as futuras mães e explicam as consequências de uma adoção ilegal, em casos onde a mulher não quer o filho, são orientadas a entregar para adoção no Fórum, procedimento correto. Quando o crime é constato é levado ao conhecimento da polícia.
Golpes mais aplicados em adoções ilegais identificados pela polícia
Golpe DNV falsa – Casal faz uma Declaração de Nascidos Vivos falsa no nome da pessoa que vai registrar a criança.
Identidade falsa – Na maternidade em vez de dar a Identidade da mãe biológica para o registro é fornecida a identidade de outra mulher
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Falso pai – Homem acompanha a mãe biológica no registro da criança e diz que é o pai do bebê
Declaração de parteira – Até 2007, parteiras faziam uma declaração que o bebê nasceu em casa para o registro no cartório
Grávida foi assediada por pelo menos três pessoas
Em janeiro deste ano a história de Márcia** estampou as páginas da imprensa. Moradora da comunidade Monte Alegre, em Camboriú, foi acusada de vender o filho ainda no ventre para um casal em Tijucas. Ela recebia ameaças por ter também negociado a mesma criança com outro intermediário que levaria o bebê para Curitiba, no Paraná. Márcia, já tinha dois filhos, quando engravidou do terceiro. Estava apaixonada pelo pai da criança, que tinha envolvimento com tráfico de drogas e assim que saiu da cadeia, foi morto a tiros, na frente da mulher. Márcia perdeu a vontade de criar o bebê que iria nascer. Foi trabalhar em uma boate entre Camboriú e Tijucas e lembra de ter recebido propostas de pelo menos três pessoas pelo bebê que iria nascer. Segundo o Conselho Tutelar, ela teria recebido dinheiro de duas pessoas diferentes, mas optou em dar a criança para o casal em Tijucas, porque poderia ficar mais perto do filho. Márcia tem medo de denunciar mas diz que pessoas conhecidas da comunidade lhe indicaram para quem a criança deveria ser entregue.
DC – O que aconteceu, porque você entregou o filho que estava esperando?
Mãe – A morte do meu marido.. sabe assim ver ele ser morto na minha frente.(gravida de três meses). Você ouviu falar do cara que foi morto dentro de uma pizzaria com 18 tiros? Estava junto com ele, mas corri na hora. É uma coisa que me revoltou, dai não quis mais olhar pra cara da menina. quando ela nasceu no hospital eu não queria pegar ela no colo, era a cara dele.
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DC – Você recebia dinheiro do casal de Tijucas?
Mãe – Não.. mas no final da minha gravidez quando comecei a passar mal que eu passei o endereço da minha casa pra ele. Dai ele veio me pegar pra me levar pro hospital. Médicos e ultrassom era tudo eles que pagavam
DC – E ele te deu dinheiro?
Mãe – Só na boate.. uns R$ 300
DC – Mais alguém te procurou querendo ficar com a criança?
Mãe – Sim, uma mulher que tem uma loja aqui. Ela queria vender já meu outro filho, hoje com três anos. Ela disse que se eu quisesse tinha um casal que queria.
DC – E ela iria dar o bebê pra quem?
Mãe – Parentes deles, em Curitiba.
DC – Você não negociou o bebê com duas pessoas?
Mãe – Um dia eu cheguei em casa e minha mãe falou que tinha R$ 2700 pra mim, mas eu disse que não queria, minha filha não ia pra Curitiba..
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DC – Você acha que ela ficou com esse dinheiro?
Mãe – Sim, porque conta em banco eu não tenho. Na minha mão não chegou nada e eles ficaram com raiva e depois apareceram com um carro novo
DC – E depois ?
Mãe – Comecei a receber ameaças no meu celular dizendo que o Conselho Tutelar ia me pegar