Quatro dos bairros que compõem o Distrito do Garcia perderam moradores entre os Censos de 2010 e 2022 (Foto: Adriano da Nahaia, NSC)
O crescimento populacional de Blumenau rumo ao Norte está longe de ser uma novidade. Há anos, desde antes do saudoso projeto “Blumenau 2050”, especialistas e autoridades já previam uma expansão em direção às Itoupavas. Mas os dados do último Censo, revelados no fim de 2024, expuseram um contraste entre os extremos da cidade: enquanto a maioria dos bairros viu o número de habitantes crescer exponencialmente, como a própria Itoupava Central, o Sul vivenciou um “êxodo” desde 2010.
O bairro da Glória, por exemplo, perdeu 926 moradores. O Progresso, 301. O Garcia, 299. Valparaíso, 239. Das localidades que compõem o chamado Distrito do Garcia, só a Vila Formosa teve crescimento populacional — mas de somente 43 novos habitantes. Somados os cinco bairros, a perda entre um recenseamento e outro no Sul foi de 1.722 pessoas, conforme dados extraídos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE). Em completa discrepância, o Norte ganhou 15 mil novos moradores e se consolidou de forma disparada como a região mais populosa de Blumenau.
Mas o que explica essa perda populacional no Sul da cidade?
São cinco os prováveis motivos, segundo especialistas ouvidos pela reportagem e prefeitura, mas apenas um é ponto pacífico: o enfraquecimento das indústrias têxteis na região. Outrora reconhecida pela potência e relevância das fábricas — o que, inclusive, rendeu o nome ao bairro “Progresso” —, o Garcia viu esse braço econômico derreter. A Artex sucumbiu às más administrações e virou Coteminas na década de 1990, mas nem essa mudança foi suficiente para manter a robustez de um passado de glórias. Demissões em massa, salários atrasados e uma crise infindável marcaram a companhia nos últimos anos e simbolizam esse momento das têxteis como um todo.
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Região da Fonte Luminosa marca, simbolicamente, a entrada do Distrito do Garcia (Foto: Adriano da Nahaia, NSC)
Redução da oferta de emprego
Para Maiko Spiess, sociólogo, pesquisador e professor doutor da Universidade Regional de Blumenau (Furb), a diminuição de postos de trabalho na região do Garcia está diretamente atrelada a outro possível motivo para o “êxodo” do Sul: a mudança do perfil econômico para áreas mais relacionadas aos serviços.
— Uma das hipóteses é que a redução do emprego na região tenha contribuído para o fenômeno. Com a transição para uma economia baseada em serviços, é comum que os empregos se concentrem nas áreas centrais da cidade, atraindo moradores para regiões mais próximas dessas oportunidades — descreve Spiess.
Ainda conforme o pesquisador, questões geográficas do Garcia também devem ser levadas em consideração na análise. Na interpretação de Spiess, a queda de moradores não necessariamente precisa ser encarada como um problema:
— A Região Sul também enfrenta barreiras naturais, como áreas de preservação ambiental, áreas de risco e regras de zoneamento que podem inibir o crescimento populacional. Nesse sentido, é possível interpretar o decrescimento como algo não necessariamente negativo. Caso a redução populacional esteja associada à saída de moradores de áreas de risco, ocupações irregulares ou regiões de preservação ambiental, isso pode ser visto como um aspecto positivo.
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Bairro da Glória, o que mais perdeu moradores entre os Censos de 2010 e 2022 (Foto: Adriano da Nahaia, NSC)
Mobilidade urbana também impacta
Em nota, a prefeitura de Blumenau aponta, ainda, outro ponto que deve ser levado em consideração ao tentar entender o porquê da redução populacional do Sul: a mobilidade urbana. Com a Rua Amazonas travada nos horários de pico e sem espaço para aumentar as pistas — por conta da proximidade com comércios e residências —, a principal via de entrada e saída do distrito se torna um entrave. Conforme o poder público, obras viárias do Corredor Sul e até ações como a aquisição do Parque da Artex ajudam a amenizar essa evasão e, até, contribuir para a chegada de novos moradores.
“As obras do Corredor Sul promoveram a implantação de pontes entre as ruas Hermann Huscher e Amazonas, bem como a ampliação da capacidade de tráfego nestas ruas principais, com corredor de ônibus, rotatórias, ciclovias e melhorias nas calçadas. Com isso, já se verifica o surgimento de vários empreendimentos comerciais e industriais, como mercados e outros pequenas e médias empresas, e principalmente o retorno de empreendimentos residenciais de médio e grande porte, nas ruas Amazonas, Hermann Huscher, Progresso e da Glória, ampliando a oferta de moradias e reequilibrando a população do bairro, o que beneficia o desenvolvimento econômico da região”, diz, em nota, a prefeitura de Blumenau.
Spiess, por fim, sugere estudos mais aprofundados para entender solidamente os porquês e auxiliar na tomada de decisões — e de investimentos — relacionados ao Sul de Blumenau.
— O poder público precisa inicialmente compreender se estamos lidando com um decrescimento positivo ou negativo antes de tomar medidas. O crescimento populacional não deve ser tratado como um fim em si mesmo. Por exemplo, é necessário considerar que a geografia e as vias urbanas da região representam desafios significativos para a gestão do transporte coletivo e do tráfego urbano, frequentemente gerando gargalos. O decrescimento pode ser um reflexo da saturação da infraestrutura ou, em outro sentido, indicar que as ações relacionadas à infraestrutura devem ser planejadas com base no decrescimento. Essas nuances serão mais bem compreendidas com estudos adicionais, como levantamentos qualitativos junto aos moradores, análises de séries temporais mais detalhadas e estudos comparativos entre regiões com características similares.
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Qual o porquê do nome dos 35 bairros de Blumenau? Confira
Água Verde | O nome seria por conta de haver um ribeirão com muitas algas e musgos, o que deixaria a coloração esverdeada (Foto: Patrick Rodrigues, NSC Total)
Badenfurt | Nome faz ligação aos imigrantes que vieram da região de Baden, na Alemanha, e se estabeleceram próximo à confluência do Rio do Testo com o Itajaí-Açu (Foto: Patrick Rodrigues)
Boa Vista | Por conta do morro que há no bairro e dá uma excelente visão para a região central de Blumenau (Foto: Google Street View, Reprodução)
Bom Retiro | De acordo com o pesquisador Adalberto Day (1953-2023), o nome do Ribeirão Retiro já constava no mapa de Blumenau em 1864 e, por conta da tranquilidade, deu-se o nome em 1956 (Foto: Patrick Rodrigues)
Centro | A mais simples das explicações, né? Trata-se do local escolhido para ser a sede da Colônia Blumenau e, portanto, o Centro da cidade (Foto: Patrick Rodrigues, NSC Total)
Da Glória | Nome dado em 1938 pelo então prefeito José Ferreira da Silva por conta da localidade que era a sede do Clube Musical Glória. Até então, chamava-se Spetctiefe, “caminho lamacento” (Foto: Patrick Rodrigues, NSC Total)
Do Salto | “Salto” nada mais é do que queda d’água, o que faz referência à região do Rio Itajaí-Açu onde o bairro se encontra (Foto: Patrick Rodrigues, NSC Total)
Escola Agrícola | Por conta da criação, em 1940, da Escola Agrícola Municipal na localidade. (Foto: Google Street View, Reprodução)
Fidélis | É um aportuguesamento da palavra “fidel” da frase “fluss geht ganz fidel”, que quer dizer “o rio consegue mansamente” (Foto: Patrick Rodrigues, NSC Total)
Fortaleza | Dizem que é porque havia em uma foz do ribeirão um rochedo semelhante a uma fortaleza, o que motivou o nome da localidade. O ribeirão, claro, também chama-se “Fortaleza” (Foto: Patrick Rodrigues, NSC Total)
Fortaleza Alta | Bom, sem grandes segredos: é a parte próxima às nascentes do Ribeirão Fortaleza (Foto: Patrick Rodrigues, NSC Total)
Garcia | Porque havia moradores que tinham vindo da região do Rio Garcia de Camboriú, quatro anos antes da chegada de Dr. Blumenau. Era a “gente lá do Garcia” (Foto: Patrick Rodrigues, NSC Total)
Itoupava Central | Aqui começamos o início da saga das Itoupavas. Itoupava vem do tupi-guarani e significa “corredeira”. Ou seja, neste caso, o centro do Ribeirão Itoupava (Foto: Patrick Rodrigues, NSC Total)
Itoupava Norte | Nas corredeiras ao norte do Rio Itajaí-Açu (Foto: Patrick Rodrigues, NSC Total)
Itoupava Seca | As corredeiras do Rio Itajaí-Açu onde as pedras ficavam mais aparentes em tempos de estiagem (Foto: Patrick Rodrigues, NSC Total)
Itoupavazinha | Um pequeno ribeirão com corredeiras (Foto: Google Street View, Reprodução)
Jardim Blumenau | Esse bairro é nada mais, nada menos, que a região da Alameda Rio Branco, área nobre da cidade. Ganhou o nome em 1956 por ser a região das casas com jardins (Foto: Patrick Rodrigues, NSC Total)
Nova Esperança | Antes era conhecida como Morro do Abacaxi e até Toca da Onça, mas depois de uma votação popular virou Nova Esperança pelo número de migrantes (Foto: Google Street View, Reprodução)
Passo Manso | Região tranquila e mansa do Rio Itajaí-Açu (Foto: Google Street View, Reprodução)
Ponta Aguda | Esse também é simples de explicar: por conta da ponta que se forma na região da Prainha, na curva do Itajaí-Açu em pleno Centro de Blumenau (Foto: Patrick Rodrigues, NSC Total)
Progresso | Por conta das grandes empresas têxteis que se instalaram na região do “Alto Garcia”. Dizia-se que era onde o “progresso estava chegando”, por conta do desenvolvimento econômico (Foto: Patrick Rodrigues)
Ribeirão Fresco | Desde o início da colônia já se conhecida o local como “Solo Fresco”, em tradução livre do alemão, o que motivou a escolha do nome do ribeirão e, como consequência, do bairro (Foto: Patrick Rodrigues)
Salto do Norte | Salto significa queda d’água e, como consequência, este bairro é o lado mais ao norte do salto do Rio Itajaí-Açu (Foto: Patrick Rodrigues, NSC Total)
Salto Weissbach | Bairro próximo à confluência do Ribeirão Branco, portanto o “Salto do Ribeirão Branco”. Não à toa, uma das ruas do bairro chama-se… Água Branca (Foto: Google Street View, Reprodução)
Testo Salto | Bairro próximo ao salto do Rio do Testo, perto de Pomerode (Foto: Google Street View, Reprodução)
Tribess | Em homenagem a um dos primeiros moradores da localidade que hoje é o bairro (Foto: Google Street View, Reprodução)
Valparaíso | Porque na localidade existia um loteamento chamado Valparaíso, justamente em homenagem à cidade chilena de mesmo nome (Foto: Patrick Rodrigues, NSC Total)
Velha Central | Área mais ao meio do Ribeirão da Velha (Foto: Patrick Rodrigues, NSC Total)
Velha Grande | Área mais elevada, com morros, do Ribeirão da Velha (Foto: Patrick Rodrigues, NSC Total)
Victor Konder | Em homenagem ao político que tinha uma fazenda na região. Ele foi presidente da Câmara de Blumenau e, mais tarde, ministro da Viação (Foto: Patrick Rodrigues, NSC Total)
Vila Formosa | Diz-se que foi em homenagem a um grande proprietário de terras que abriu um curtume na região. Não há detalhes de quem seria este homem (Foto: Google Street View, Reprodução)
Vila Itoupava | A vila mais afastada do vale do ribeirão das corredeiras (Foto: Patrick Rodrigues, NSC Total)
Vila Nova | Bairro criado em 1956 ganhou esse nome porque a maior parte das casas construídas à época eram recentes (Foto: Google Street View, Reprodução)
Vorstadt | Em alemão, Vorstadt pode significar “entrada da cidade”, o que faz sentido porque o bairro é o primeiro em Blumenau para quem vem do litoral, ou “subúrbio”, em tradução livre (Foto: Patrick Rodrigues, NSC Total)