O crescimento populacional de Blumenau rumo ao Norte está longe de ser uma novidade. Há anos, desde antes do saudoso projeto “Blumenau 2050”, especialistas e autoridades já previam uma expansão em direção às Itoupavas. Mas os dados do último Censo, revelados no fim de 2024, expuseram um contraste entre os extremos da cidade: enquanto a maioria dos bairros viu o número de habitantes crescer exponencialmente, como a própria Itoupava Central, o Sul vivenciou um “êxodo” desde 2010.

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O bairro da Glória, por exemplo, perdeu 926 moradores. O Progresso, 301. O Garcia, 299. Valparaíso, 239. Das localidades que compõem o chamado Distrito do Garcia, só a Vila Formosa teve crescimento populacional — mas de somente 43 novos habitantes. Somados os cinco bairros, a perda entre um recenseamento e outro no Sul foi de 1.722 pessoas, conforme dados extraídos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE). Em completa discrepância, o Norte ganhou 15 mil novos moradores e se consolidou de forma disparada como a região mais populosa de Blumenau.

Mas o que explica essa perda populacional no Sul da cidade? 

São cinco os prováveis motivos, segundo especialistas ouvidos pela reportagem e prefeitura, mas apenas um é ponto pacífico: o enfraquecimento das indústrias têxteis na região. Outrora reconhecida pela potência e relevância das fábricas — o que, inclusive, rendeu o nome ao bairro “Progresso” —, o Garcia viu esse braço econômico derreter. A Artex sucumbiu às más administrações e virou Coteminas na década de 1990, mas nem essa mudança foi suficiente para manter a robustez de um passado de glórias. Demissões em massa, salários atrasados e uma crise infindável marcaram a companhia nos últimos anos e simbolizam esse momento das têxteis como um todo. 

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Região da Fonte Luminosa marca, simbolicamente, a entrada do Distrito do Garcia (Foto: Adriano da Nahaia, NSC)

Redução da oferta de emprego

Para Maiko Spiess, sociólogo, pesquisador e professor doutor da Universidade Regional de Blumenau (Furb), a diminuição de postos de trabalho na região do Garcia está diretamente atrelada a outro possível motivo para o “êxodo” do Sul: a mudança do perfil econômico para áreas mais relacionadas aos serviços.

— Uma das hipóteses é que a redução do emprego na região tenha contribuído para o fenômeno. Com a transição para uma economia baseada em serviços, é comum que os empregos se concentrem nas áreas centrais da cidade, atraindo moradores para regiões mais próximas dessas oportunidades — descreve Spiess.

Ainda conforme o pesquisador, questões geográficas do Garcia também devem ser levadas em consideração na análise. Na interpretação de Spiess, a queda de moradores não necessariamente precisa ser encarada como um problema:

— A Região Sul também enfrenta barreiras naturais, como áreas de preservação ambiental, áreas de risco e regras de zoneamento que podem inibir o crescimento populacional. Nesse sentido, é possível interpretar o decrescimento como algo não necessariamente negativo. Caso a redução populacional esteja associada à saída de moradores de áreas de risco, ocupações irregulares ou regiões de preservação ambiental, isso pode ser visto como um aspecto positivo.

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Bairro da Glória, o que mais perdeu moradores entre os Censos de 2010 e 2022 (Foto: Adriano da Nahaia, NSC)

Mobilidade urbana também impacta

Em nota, a prefeitura de Blumenau aponta, ainda, outro ponto que deve ser levado em consideração ao tentar entender o porquê da redução populacional do Sul: a mobilidade urbana. Com a Rua Amazonas travada nos horários de pico e sem espaço para aumentar as pistas — por conta da proximidade com comércios e residências —, a principal via de entrada e saída do distrito se torna um entrave. Conforme o poder público, obras viárias do Corredor Sul e até ações como a aquisição do Parque da Artex ajudam a amenizar essa evasão e, até, contribuir para a chegada de novos moradores.

“As obras do Corredor Sul promoveram a implantação de pontes entre as ruas Hermann Huscher e Amazonas, bem como a ampliação da capacidade de tráfego nestas ruas principais, com corredor de ônibus, rotatórias, ciclovias e melhorias nas calçadas. Com isso, já se verifica o surgimento de vários empreendimentos comerciais e industriais, como mercados e outros pequenas e médias empresas, e principalmente o retorno de empreendimentos residenciais de médio e grande porte, nas ruas Amazonas, Hermann Huscher, Progresso e da Glória, ampliando a oferta de moradias e reequilibrando a população do bairro, o que beneficia o desenvolvimento econômico da região”, diz, em nota, a prefeitura de Blumenau.

Spiess, por fim, sugere estudos mais aprofundados para entender solidamente os porquês e auxiliar na tomada de decisões — e de investimentos — relacionados ao Sul de Blumenau.

— O poder público precisa inicialmente compreender se estamos lidando com um decrescimento positivo ou negativo antes de tomar medidas. O crescimento populacional não deve ser tratado como um fim em si mesmo. Por exemplo, é necessário considerar que a geografia e as vias urbanas da região representam desafios significativos para a gestão do transporte coletivo e do tráfego urbano, frequentemente gerando gargalos. O decrescimento pode ser um reflexo da saturação da infraestrutura ou, em outro sentido, indicar que as ações relacionadas à infraestrutura devem ser planejadas com base no decrescimento. Essas nuances serão mais bem compreendidas com estudos adicionais, como levantamentos qualitativos junto aos moradores, análises de séries temporais mais detalhadas e estudos comparativos entre regiões com características similares.

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