A janela da Dona Bete, moradora do Morro do Mocotó há 38 anos, dá para a primeira galeria de arte urbana a céu aberto de Florianópolis.

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— É muito lindo. As plantas ali em cima florescem e fica muito bonito. Parece até que fica tudo mais claro — elogia a senhora.

Em 2015, um grupo de grafiteiros coordenado pelo artista plástico Rodrigo Rizo realizou a primeira intervenção na entrada do morro, que fica no Centro de Florianópolis e é conhecida como antiga entrada do Beco. Na época, 15 artistas pintaram painéis instalados nos muros da entrada para a comunidade. Em 2016, o local ganhou iluminação e telas de proteção. Recentemente, os painéis de compensado naval foram substituídos por outros de alvenaria e, neste sábado, 13 artistas foram convocados para pintá-los. Retirados, os pedaços de madeira cheios de arte agora vão virar barco – Dona Bete ficou com alguns dos painéis a pedido de seu filho, que vai usá-los para fazer uma bateira para pesca.

A revitalização da galeria de arte urbana é promovida pelo projeto Mocotó Cor, que também faz pintura de casas, limpeza de terrenos e outras melhorias na comunidade. A ação que vai dar uma cara nova à entrada do morro vai até este domingo.

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— Fiz uma curadoria elencando trabalhos que tivessem diversidade de estilos e artistas com diferentes níveis. A ideia é trazer profissionais que dialogam com a comunidade. Cada um faz a sua interpretação e tem suas inspirações, mas a ideia é que possam se expressar trazendo algo positivo para o local — explica Rizo.

Antes da primeira intervenção, em 2015, a entrada da comunidade era conhecida como “Beco da lixeira”. Antes dos grafiteiros começarem a trabalhar, voluntários limparam o local e arrumaram as calçadas. Willian Narzetti, presidente da Acam – Associação de Amigos da Casa da Criança e do Adolescente do Morro do Mocotó, relembra a surpresa dos moradores quando viram os antigos painéis instalados.

— Na primeira vez, os moradores saíam no sábado de manhã e viam o início dos trabalhos sem saber o que ia acontecer. Quando voltaram e viram tudo pronto, alguns até choraram. Lembro de uma criança que vinha e beijava o desenho. Da mesma forma como as pessoas se acostumam com a bagunça e sujeira, elas se acostumam com coisas bonitas e organização. Muda tua referência — emociona-se o voluntário.

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Desta vez, já habituados com a arte nos muros, os moradores passavam elogiando e cumprimentando os artistas e voluntários.

— A gente tá habituado a participar de ações itinerantes em comunidades, viajar, participar de projetos como esse em que a gente faz arte de livre e espontânea vontade. É sobre doar sem esperar algo em troca, arte pela arte — diz o artista João Vejam.

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