Uma adulteração feita em alguns minutos e que prometia reduzir pela metade o valor da conta de energia elétrica de empresas e residências. Por pelo menos dois anos, uma quadrilha formada por sete pessoas aplicou essa fraude que pode ter gerado um prejuízo milionário na Celesc em Santa Catarina e, inclusive, afetado o valor que o consumidor paga na sua conta em casa para cobrir o rombo do golpe.
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Esse tipo de crime, que pode ser caracterizado como um furto qualificado, foi o alvo da operação Meia Conta, deflagrada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco), em apoio à 10ª Promotoria de Justiça da Comarca de Chapecó, nesta quinta-feira de manhã em Blumenau. A operação começou no Oeste do Estado a partir de denúncias e chegou a um grupo de sete pessoas que atuavam em várias cidades, adulterando e até trocando medidores de energia elétrica.
A primeira fase da operação teve o trabalho de 26 policiais e cumpriu quatro mandados de prisão — um em Chapecó, um em Jaraguá do Sul e dois em Blumenau —, 17 mandados de busca e apreensão e uma condução coercitiva. Além das três cidades, residências em Indaial também foram alvo dos policiais.
O Gaeco acompanhou durante três meses todos os passos do grupo criminoso. Nesse período foram identificados pelo menos 35 estabelecimentos comerciais beneficiados pela fraude, mas o coordenador da operação, o promotor Alessandro Argenta, garante que o número é muito maior.
— Como esse grupo estava a dois anos na atividade, a gente pode afirmar que são centenas de estabelecimentos que estão com seus medidores fraudados, que agora serão alvo de contínua fiscalização da Celesc, que está nos apoiando na operação — garantiu o promotor coordenador do Gaeco de Chapecó, em entrevista na sede do grupo em Blumenau ontem à tarde.
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As duas prisões em Blumenau ocorreram nos bairros Velha e Progresso. Na casa no Progresso, os policiais encontraram cerca de 250 lacres e cerca de 30 medidores de origem ilícita, que seriam colocados no lugar dos originais.
Nas outras apreensões, o Gaeco ainda localizou cheques, dinheiro e uma arma de fogo. Os presos vão responder pelos crimes de furto qualificado e associação criminosa, enquanto os empresários que foram flagrados com medidores fraudados também poderão responder individualmente por processos de furto.
Comércios e empresas aceitavam a fraude
Segundo o promotor Alessandro Argenta, a maior parte dos clientes da quadrilha eram empresas como frigoríficos, facções, padarias, mercados e outros comércios. Os criminosos chegavam até os empresários e ofereciam o serviço com a promessa de reduzir pela metade o valor da conta de energia.
Após a fraude, o empresário pagava à quadrilha um valor baseado na economia do primeiro mês. Por exemplo, se no primeiro mês após a fraude o empresário pagou R$ 10 mil a menos na conta, era esse o valor cobrado pelo serviço.
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O promotor destaca que não foi encontrado nenhum vestígio até o momento de participação de algum funcionário da Celesc no esquema, mas que a investigação deve continuar.
“Quem paga a conta da fraude é o bom pagador”, diz gerente da Celesc
Segundo o gerente regional da Celesc de Blumenau, Cláudio Varella, o valor que a companhia perdeu com as fraudes ultrapassa os R$ 10 milhões e esse rombo acaba chegando na fatura que o bom pagador recebe em casa mensalmente.
— Esse prejuízo com as fraudes entra na conta das perdas, que quando extrapola uma cota gera um aumento da tarifa. Quem paga a conta pelos fraudadores é o bom pagador, o cidadão que faz tudo certo — destaca.
Segundo Varella, os casos de fraude têm aumentado e, por isso, a Celesc também intensificou a fiscalização. Na região de Blumenau a média anual de fiscalizações era de cerca de 4 mil por ano, mas em 2017 esse número subiu para 12 mil.
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— Nessas fiscalizações encontramos 1,5 mil unidades com irregularidades, desde fraudes rudimentares até outras avançadas, com circuitos eletrônicos. Tem uma indústria de irregularidades que precisa ser combatida — avalia.