Gabriella Custódio da Silva foi morta há um ano, em 23 de julho de 2019, no Distrito de Pirabeiraba, na zona Norte de Joinville. A jovem de 20 anos teve sua vida tirada após um disparo por arma de fogo que a atingiu no peito. O tempo passou, mas a dor parece estar mais intensa para os pais, a irmã e os amigos, que ainda não tem uma resposta para o que aconteceu naquele fim de tarde de segunda-feira, antes de Gabriella ser deixada pelo namorado, Leonardo Nathan Martins, na entrada do Hospital Bethesda.
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— O que eu quero hoje é justiça, que ele pague pelo mal que ele fez. Ele não deve ser tão ruim assim também, que só tenha maldade na cabeça. Talvez ele pense no mal que ele fez, porque ele tirou a vida de uma pessoa maravilhosa. Ele acabou com uma família — lamenta Marcelo Silva, pai de Gabriela.
O julgamento de Leonardo foi adiado por três vezes por causa da pandemia do coronavírus: inicialmente, ele iria a júri popular em 24 de março, mas as sessões foram suspensas pelo decreto estadual que determinou o cancelamento de todas as atividades com aglomeração. Foi remarcado para 30 de julho, novamente desmarcado e, agora, não tem data para ocorrer.
Vídeo mostra Leonardo deixando Gabriella na recepção do hospital
O outro acusado de participação no crime, Leosmar Martins, que era pai de Leonardo, foi encontrado morto com um tiro na cabeça em um carro na BR-280 em fevereiro de 2020. Ele havia sido indiciado por fraude processual e posse ilegal de arma em agosto de 2019, porque a arma utilizada no crime era dele e não era regularizada.
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À polícia, ele alegou ter jogado a arma no Canal do Linguado, em São Francisco do Sul, mas não quis mostrar o local exato para colaborar nas buscas. Leosmar estava respondendo pelo crime em liberdade quando foi morto — segundo a Polícia Civil, foi encontrado com as mãos amarradas dentro do próprio carro. A Polícia Civil ainda não informou se o inquérito já apurou as motivações do crime mas, a princípio, não teria ligação com a morte de Gabriella.

Protestos com flores para Gabriella
Desde a noite em que Gabriella morreu e durante todas semanas seguintes, o fato gerou mais repercussão do que a maioria das mortes recentes que ocorreram em Joinville. A foto da moça sorrindo acompanhada pela dor e pelos protestos da família e dos amigos, que chegaram a distribuir flores em frente ao Fórum de Joinville como forma de pedir justiça, deixaram a cidade em alerta sobre os crimes de violência de gênero.
Ao mesmo tempo, ainda há dúvidas sobre a razão para o disparo: se foi acidental, como afirmava Leonardo, ou se teria sido feminicídio, como defendeu a Polícia Civil após a conclusão do inquérito criminal, em agosto de 2019.
Leonardo está detido no Presídio Regional de Joinville desde que se entregou à polícia, 17 dias após a morte de Gabriella. De acordo com os advogados de defesa, não há comprovações no processo que indiquem conflitos na relação do casal. Desde o início do processo, a defesa trabalha com tiro acidental e busca a desclassificação do crime de feminicídio.
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O feminicídio é considerado um crime hediondo e leva a uma pena mais alta do que o homicídio simples. Em um assassinato sem este qualificador, a pena varia de 6 a 20 anos, enquanto no feminicídio, a pena mínima é de 12 anos e a máxima pode chegar a 30 anos. Para ser considerado feminicídio, deve existir violência doméstica e familiar envolvida no crime.
— A defesa trabalha com as provas que estão dentro do processo. Eles não tinham nenhuma base de conflito ou de ciúmes doentio, como vêm sendo veiculado equivocadamente. Na verdade, o que tem provado é que eles eram um casal em perfeita harmonia, perfeita comunhão — ressalta um dos advogados, Jonathan Moreira dos Santos.
Já para o advogado de acusação, Marco Marcucci, os relatos testemunhais de amigos e pessoas próximas à Gabriella comprovam que a jovem morreu em função do gênero, uma das características do feminicídio. Há relatos de como ela mudou o comportamento após o início da relação.
— Isso é ponto pacífico para acusação. Não há pontos obscuros quanto ao teor – afirma Marcucci.
Tentativas de deixar a prisão
A defesa de Leonardo realizou dois pedidos de habeas corpus em 2019. O primeiro foi em 26 de agosto destinado ao Tribunal de Justiça de Santa Catarina. Dentre os itens citados no habeas corpus estava a apresentação voluntária do jovem à Delegacia de Homicídios (DH) depois do crime. O pedido foi negado em 29 de agosto.
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Já o segundo, teve negativa publicada em 20 de novembro pelo Supremo Tribunal de Justiça (STJ). A defesa havia feito o pedido de revogação da prisão preventiva, ou a aplicação de medidas cautelares de custódia, alegando que o acusado colaborou nas investigações.
— Foi veiculado que a defesa estaria se aproveitando da situação de saúde dele, mas deixamos claro que o argumento de defesa nesse habeas corpus não é a condição de saúde do Leonardo, mas os requisitos que ele preenche para aguardar o julgamento em liberdade — avalia o advogado Pedro Wellington Alves da Silva.