Consumidores acostumados a ter à disposição pouco mais de duas centenas de produtos das marcas Sadia e Perdigão nas prateleiras das maiores redes varejistas do país estarão atentos à uma reunião desta quarta-feira em Brasília.
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O mercado espera que nesta reunião o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) decida pela fusão das empresas na BRF Brasil Foods, que se consolidaria como a maior empresa de Santa Catarina, líder no segmento de aves, suínos e industrializados de carne no país e uma das cinco maiores destes segmentos no mundo.
O vice-presidente de secretaria da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (Faesc), Enori Barbieri, teme que as medidas restritivas que a BRF pode ser obrigada a adotar para ter a fusão aprovada adiem os investimentos planejados pela empresa no Estado.
– A empresa estava prevendo novas plantas industrias em SC a curto prazo, para ampliar a produção. Os planos levavam em conta os diferenciais do Estado, especialmente a excelência da condição sanitária. Mas agora, com a possibilidade de perder mercado com estas restrições, estes investimentos podem não acontecer – destaca Barbieri.
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Caso isso aconteça, esta seria a segunda vez, em poucos anos, que ampliações projetadas de grande porte deixariam de ser feitas. A crise financeira de 2008 adiou, por tempo indeterminado, os planos da Sadia de investir quase R$ 1 bilhão em Mafra em diferentes fábricas e estruturas.
O dirigente da Faesc destaca ainda que unidades da empresa como a de Lages, que produz pizzas da Perdigão, poderão entrar na lista das fábricas a serem vendidas ou desativadas caso a marca tenha que sair do mercado.
Para o presidente da Associação Catarinense de Avicultura (Acav), Clever Pirola Ávila, a fusão das empresas trará uma certa “fortaleza” para SC.
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– Ficaremos com uma empresa muito mais forte, que nascerá da fusão como uma das cinco maiores dos segmentos em que atua no mundo. Há quem tema a concentração exagerada de mercado, mas tenho certeza que o Cade terá bom senso e que eles chegarão a um acordo que permitirá a fusão.
Ainda na opinião de Ávila, as medidas de restrição divulgadas até agora seguem uma linha coerente e podem ser adequadas. Ele destaca como positiva a ação do Cade em seguir negociando uma saída para que o processo termine com uma aprovação, sem desconsiderar o respeito à livre concorrência.
Os especialistas divergem sobre o impacto que a fusão das empresas fundadas em SC poderá ter para o mercado e para o bolso dos consumidores. Para o vice-presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo (Ibevar), Eduardo Terra, a retirada da marca Perdigão de alguns segmentos, a venda de marcas secundárias e de cadeias produtivas poderá ser boa a curto e a médio prazo.
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– Quando sai do mercado um competidor com um share (fatia) razoável, outras empresas atuam com muita agressividade comercial para ganhar aquele espaço. Isso pode se refletir em ofertas e preços mais baixos – acredita, referindo-se à saída da marca Perdigão.
Passada essa fase de disputa acirrada pelo espaço deixado por uma das marcas premium da BRF, no médio prazo, a tendência é que a concorrência diminua. Mas de acordo com Terra, isso pode não acontecer, porque daria tempo de outros competidores entrarem no mercado para disputar estes mesmos segmentos. Ele cita a Nestlé e a Unilever como exemplos de empresas que poderiam estrear nestes negócios.
– Essa janela de oportunidade pode fazer com que projetos engavetados por grandes empresas saiam das gavetas. Só vejo pontos positivos para o consumidor.
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A coordenadora institucional da Associação de Consumidores Proteste, Maria Inês Dolci, vê a possibilidade da fusão com mais reticência. Para a especialista, o consumidor não deverá ser beneficiado com a saída da marca Perdigão de alguns segmentos do mercado e nem com a venda de outras marcas para concorrentes da BRF.
– Dificilmente teremos uma redução de preços, porque vai reduzir a oferta de produtos no mercado. Nossa preocupação é com a falta de concorrência e de preços para a escolha do consumidor – salienta.
A coordenadora do Proteste disse que a associação vai acompanhar com atenção os desdobramentos da possível fusão e monitorar os segmentos que poderão ser afetados com a operação.
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