Quando a direção do Teatro Bolshoi concordou com o projeto de instalação de uma filial de sua escola no Brasil, uma das promessas era de que, em breve, a cidade teria um Teatro Municipal para abrigar as grandes apresentações dos alunos, além de garantir que os formados pela instituição pudessem permanecer em Joinville, já que teriam um palco onde novas companhias poderiam se apresentar.
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Passados 20 anos, os espetáculos mensais que a Escola Bolshoi apresenta continuam no Teatro Juarez Machado, em um palco pequeno demais para as montagens completas de balés e com plateia para apenas 500 pessoas; e momentos especiais como o aniversário da instituição — assim como as noites de abertura e de gala do Festival de Dança — dependem da adaptação da arena multiuso do Centreventos Cau Hansen.
— Todas as vezes em que ocorre o jubileu da escola e os diretores do Teatro Bolshoi de Moscou vêm a Joinville, eles perguntam sobre o teatro. Todo prefeito e todo governador prometeu, e nada aconteceu — lamenta Pavel.
Ely Diniz, do Festival de Dança, concorda com a demanda. Segundo ele, um teatro semelhante ao do CIC, de Florianópolis, ou ao da Scar, em Jaraguá do Sul, é fundamental para a evolução artística do Festival, do Bolshoi e da cidade.
— Hoje temos um grande palco, o do Centreventos, mas ele tem um problema de acústica, de conforto para o público. Precisamos de um palco com a qualificação que uma companhia de dança precisa. Passou da hora de Joinville ter um teatro, mas essa ideia nunca nem chegou ao papel, mesmo depois de várias reuniões feitas em diferentes gestões — diz Ely.
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A construção de um Teatro Municipal para Joinville faz parte dos planos de governo do prefeito Udo Döhler, eleito em 2013 e reeleito em 2016, da mesma forma que fez parte dos planos dos últimos prefeitos da cidade nas últimas duas décadas. Para o gerente de turismo da Secretaria de Cultura e Turismo de Joinville, Douglas Hoffmann, a viabilização da construção de um prédio para chamar de teatro não é complexo: a grande dificuldade dos governos é garantir a administração de uma grande unidade de cultural.
— O problema é que temos que planejar a manutenção posterior para que depois esse teatro não fique abandonado. Percebemos isso em outras cidades, onde o teatro não tem uma gestão público-privada. Precisamos entender essa demanda e depois como será administrada — afirma.
Joinville também tem outras companhias e profissionais que mantém a produção durante o ano inteiro. Falta, no entanto, a valorização destes artistas para manter acesa a chama desta arte pela cidade, para além das paredes da Escola Bolshoi e em outros meses além dos 12 dias de Festival em julho.
— Os grupos existem, a produção acontece, mas muito vinculado às escolas de dança. Joinville tem muitas escolas e grupos de dança, só que falta visibilidade para estas produções destes outros artistas que estão na cidade produzindo — avalia a bailarina Letícia de Souza, que atua como conselheira municipal de dança, representando a sociedade civil diante da Prefeitura de Joinville.
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Ela também aponta a recente burocratização dos mecanismos de incentivo municipais, o que desestimulou as companhias que, em muitos casos, não foram nem mesmo classificadas para a análise do projeto pela banca avaliadora dos editais de apoio à cultura de Joinville. Isso, somado à ausência de um curso superior em dança — pedido feito desde os anos 1980 e que chegou a ser protocolado pela Udesc em 2005 e confirmado pelo Governo do Estado em 2013 — leva a produção de dança em Joinville a ficar estagnada.
— A dança em Joinville não é entendida como uma área de conhecimento. Enquanto isso, as pessoas vão trabalhar dentro de escolas, porque não conseguem se dedicar ao fazer artístico — afirma a bailarina.

Marca traz retorno financeiro, mas limitado a época do ano
Quando representantes do turismo de Joinville vão a outras cidades e estados brasileiros, a dança é a principal referência citada pelos moradores destes lugares quando o nome do município é informado. A marca da dança também tem sido uma das principais bandeiras da Secretaria de Cultura e Turismo de Joinville na divulgação da cidade que, em 2016, virou oficialmente a "Capital Nacional da Dança" em lei federal sancionada pelo então presidente Michel Temer.
— Temos dados do Ministério do Turismo de que o turista gasta, em média, R$ 350 por dia durante o Festival de Dança em Joinville. Então, quando você tem dez dias de lotação máxima na rede hoteleira, fora os aluguéis por aplicativo, e estamos falando em 10 mil pessoas por dez dias com este consumo médio na cidade. Isto retorna em forma de imposto direto para o município e na forma de mão de obra — analisa o gerente de turismo Douglas Hoffmann.
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Ele conta que há moradores da cidade que ainda criticam o investimento no evento (que é mantido por patrocínios diretos e indiretos — via Lei de Incentivo à Cultura — e por recursos próprios, e recebe da prefeitura apenas a isenção do aluguel do Centreventos Cau Hansen e de outras unidades de cultura).
— Já recebemos críticas de que “o Festival de Dança não afeta o meu bairro”, mas há muitos moradores dos bairros que trabalham para o evento, tem uma renda maior neste período, e acabam consumindo mais no supermercado ou na loja do bairro, e isso afeta a cadeia econômica local também — afirma.
Para Hoffmann, o potencial da marca da Cidade da Dança ainda pode ser melhor explorado e, neste caso, ele aponta a iniciativa privada como espaço para que o turismo de Joinville cresça neste sentido. Apesar de Joinville ter outros grandes eventos de lazer e cultura, como a Festa das Flores, o Festival de Corais e o festival de piano Pianístico, é o Festival de Dança que faz com que a cidade receba o maior número de turistas, além destes garantirem o maior tempo de permanência na cidade.
— Já tivemos esta conversa com o sindicato porque acreditamos que deveria existir um investimento um pouco mais forte na iniciativa privada, e tornar isso uma referência. Temos estudos de caso como Viena, que se transformou na cidade da música, e de Buenos Aires, que tem o tango como referência. Joinville poderia ter restaurantes que oferecem ao turista um jantar com uma apresentação de dança — exemplifica Hoffmann.
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