Deise teve a casa arrombada e perdeu boa parte dos aparelhos eletrônicos. Índio saiu para viajar e, no retorno, encontrou um prejuízo estimado em R$ 15 mil. Já Itamar se considera um cara de sorte, porque ao esbarrar com a porta de casa quebrada, descobriu que os ladrões tinham furtado ¿apenas¿ o botijão de gás. Todos possuem imóveis na Praia da Pinheira, em Palhoça, e nos últimos meses se tornaram vítimas de um problema antigo na comunidade: os furtos e arrombamentos em residências.
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O baixo efetivo policial e a inexistência de um sistema de monitoramento eletrônico de segurança pública na região, assim como o alto número de residências de veraneio, são apontados por moradores e policiais como raízes do problema.
De acordo com o único agente de Polícia Civil que atua na Pinheira, e prefere não se identificar, são registrados em média dois boletins de ocorrências (BOs) semanais por furtos em casas, tanto de moradores como de veranistas.
— Esta semana ainda não tivemos nenhum — comentou, na manhã desta quarta-feira.
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Em 24 de junho, porém, duas casas — a de Deise Oliveira e de Itamar Alves — foram furtadas na mesma rua, a 2004, em um intervalo de minutos.
— Na minha rua, os furtos são ainda mais frequentes porque existem muitas casas de veraneio — explica Deise, que mora em Capoeiras, região continental de Florianópolis, vai a Pinheira todo fim de semana, e agora paga duas vezes para ter segurança:
— Uma para o Estado, em impostos, e outra para uma empresa de vigilância do bairro, que faz as rondas — reclama.
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Meses antes, o comerciante Índio Guerra Machado, 57 anos, voltou de viagem e soube que sua casa e a de um vizinho tinham sido furtadas.
— Levaram quase tudo, desde objetos eletrônicos, como TV e microondas, até ferramentas de trabalho de minha oficina de bicicletas. A Pinheira está abandonada, você nunca vê rondas da polícia e até para registrar a ocorrência é difícil, porque a delegacia fecha às 18h e só reabre no dia seguinte de manhã — conta.
Mesmo quem ainda não passou pelo problema, como o aposentado Lothar Carlos, 70, que se mudou em definitivo para a Pinheira há um ano, credita o fato de não ter sido vítima de ladrões à ¿sorte¿.
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— Para ser sincero, eu acho que estamos com sorte, porque realmente o policiamento na Pinheira é fraco, para não usar outra palavra — disse.
Delegada diz que furtos são ¿típicos¿ nesta ¿época¿ do ano
A realidade da segurança pública na Pinheira é dividida em durante e após a temporada de verão, entre dezembro e março. Nos meses mais quentes do ano, com a praia apinhada de turistas e o reforço enviado pelo Governo do Estado através da Operação Veraneio, as ocorrências de furtos caem cerca de 80%, revela a delegada regional de Palhoça, Beatriz Dias dos Reis.
Ao término do verão, turistas e policiais vão embora, e os furtos em residências se tornam ¿típicos¿ na Pinheira, segundo palavras da delegada Beatriz. Ela justifica o aumento nas ocorrências porque além da diminuição do efetivo, muitas residências estão vazias e sem nenhum morador fixo na vizinhança.
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— Nesses casos, a própria vítima só descobre o furto semanas depois, e esse lapso de tempo entre a ocorrência e a comunicação atrapalha as investigações — avalia Beatriz, para quem o problema se agrava devido à ausência de testemunhas dos crimes e de câmeras de monitoramento para flagrar as ações de ladrões.
— Além da falta de filmagem, temos uma viatura da Polícia Civil e um policial — observa.
SSP/SC reconhece baixo efetivo
Apesar de não ser um número oficial, a Prefeitura de Palhoça estima que cerca de 4.800 pessoas moram na Pinheira, uma pequena concentração urbana do município de aproximadamente 150 mil habitantes. Apenas 10 câmeras de monitoramento funcionam em toda a cidade, número que não atende nem as necessidades da área central do município, admite a Prefeitura.
— Aqui na Pinheira, quando vamos investigar crimes temos que buscar ajuda em câmeras de monitoramento de casas ou estabelecimentos comerciais, porque não existe nenhuma câmera pública na região — conta o único agente da delegacia local.
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A assessoria de imprensa da Polícia Militar não revelou o efetivo da corporação na Pinheira, mas disse possuir duas bases, duas viaturas e o Pelotão de Patrulhamento Tático atuando no local.
Já a Secretaria de Segurança Pública do Estado, através de sua assessoria de imprensa, admite o problema do baixo efetivo, explica que 711 novos policiais militares e 363 policiais civis estão sendo formados, revela que eles iniciam os trabalhos entre o final de 2016 e início de 2017, mas reconhece que mesmo após a entrada dos reforços o problema do efetivo policial em Santa Catarina não estará resolvido.