Os furtos de fios em Santa Catarina causaram um prejuízo médio mensal de R$ 517.399,50 para a Celesc no primeiro semestre deste ano, período em que a companhia de energia elétrica teve 1.230 ocorrências deste tipo. A empresa calcula ter um custo de R$ 2.523,90 para cada episódio.

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Os dados foram levantados pela Celesc a pedido NSC Total, na mesma semana em que a presidência do grupo se reuniu com o secretário de Segurança Pública de Santa Catarina, Paulo Cezar Ramos de Oliveira, acompanhado de figuras do comando das polícias Civil e Militar catarinenses, para desenhar estratégias contra esse tipo de crime, cada vez mais evidente no estado.

O tema preocupa também empresas de telefonia e prefeituras em Santa Catarina. Em Florianópolis, o crime já causou apagão neste ano no principal cartão-postal da cidade, a ponte Hercílio Luz, e em um trecho de um quilômetro da rodovia que leva ao aeroporto internacional da Capital, na SC-401 Sul.

Disparada de 182% em dois anos

Entre os registros gerais, envolvendo não apenas a Celesc, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) diz que o Estado já teve 2.236 furtos e roubos de fios do começo deste ano ao último dia 27 de junho. Na comparação com o primeiro semestre de 2021, de início da série histórica cedida pela pasta para esses crimes e quando foram registradas 795 ocorrências, houve um aumento de 182%.

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Na metade inicial do ano passado, o balanço foi ainda pior: 2.339 casos. A SSP diz não conseguir levantar dados anteriores a esses, devido a adoção do sistema BO-Integrado em 2020.

A variação identificada pelo governo estadual conflita, no entanto, com os registros próprios da Celesc: a empresa de energia atuante em 280 dos 295 municípios do estado diz que, na comparação com o primeiro semestre de 2021, quando sofreu 1.775 furtos (mais do que o volume total registrado pela SSP naquele mesmo período), houve queda de 31% agora no começo de 2023.

A companhia afirmou, ao NSC Total, que registra as ocorrências junto às autoridades policiais em bloco dentro de um mesmo período, o que pode explicar a diferença.

A reportagem também questionou a SSP se os seus dados iniciais de 2021 podem estar subnotificados, devido a uma eventual adesão gradual ao sistema de registros, mas ainda aguarda retorno. É ao menos consenso entre a Secretaria e a Celesc que o assunto preocupa.

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— Estamos dialogando com todas as forças de Segurança e a Celesc no sentido da importância do papel de cada instituição contra o furto de fiação e de cabos de energia e planejando novas ações que serão intensificadas a respeito — afirmou o secretário Ramos de Oliveira, conforme divulgado pelo governo estadual, após o encontro com a direção da empresa na última segunda-feira (7).

“As ações da Companhia contra esse tipo de crime vão desde a troca dos materiais empregados na rede até ações conjuntas com a Secretaria de Segurança Pública. Em especial, a Celesc atua junto às polícias em ações contra os receptadores e nas investigações para identificação e apreensão dos envolvidos”, comunicou a empresa, em nota enviada à reportagem.

Queda nas receptações

Apesar do aumento no número de furtos e roubos, as autoridades de segurança no estado têm tido dificuldade em responsabilizar quem adquire o material do crime, conforme indicam dados também da própria SSP reunidos a pedido do NSC Total.

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No primeiro semestre de 2021, o Estado registrou dez episódios de receptação dolosa de fiação. Já na metade inicial deste ano, só houve uma ocorrência a mais do que isso — a última foi de um empresário de sucata de Erval Velho, no Meio-Oeste, pego com quase uma tonelada de fios da Celesc.

O auge das receptações nesse intervalo de tempo ocorreu no segundo semestre de 2021, com 46 registros. Desde então, o número passou a cair semestralmente: foram 36 no começo de 2022, 20 no fim daquele mesmo ano, e os 11 registros da primeira metade de 2023.

A SSP afirma responder a isso com o reforço das atividades: “[…] as forças de Segurança realizam ações de prevenção e repressão a furtos e roubos de fios e inclusive esses trabalhos estão sendo intensificados. As ações policiais são constantes e integradas entre as Polícias Civil e Militar e órgãos municipais, assim como o monitoramento na área de inteligência”, escreveu, à reportagem.

Florianópolis no escuro

Em Florianópolis, a prefeitura intensificou em agosto a periodicidade da Operação Fio Desencapado, que fiscaliza o comércio de sucatas, para tentar fechar o cerco contra receptadores.

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Agora já são feitas fiscalizações semanais nos estabelecimentos que vendem cobre, material utilizado na fiação, após as autoridades locais terem reconhecido que o furto de cabos tem sido tema constante na cidade, com semáforos e trechos de iluminação recorrentemente no escuro devido ao crime.

No primeiro semestre de 2023, a Capital foi a cidade catarinense com maior número de furtos de fiação (255), segundo apontam os dados da SSP cedidos à reportagem. O caso mais simbólico desse período foi o da ponte Hercílio Luz, em março, quando foram levados 1.120 metros de cabos por criminosos alheios a câmeras de segurança e a uma base da PM instalada em uma das cabeceiras do local.

Em maio, um trio foi flagrado tentando repetir o crime. Naquele mês, o Ministério Público estadual (MP-SC) decidiu pedir um plano conjunto de segurança para o local do governo Jorginho Mello (PL), responsável pela ponte, e da gestão Topázio Neto (PSD), que assumiu a iluminação funcional do trecho.

O reforço na Operação Fio Desencapado, agora em sua 12ª fase, veio também após um encontro das forças de segurança municipais com a Celesc e companhias de telefone. Em 11 fases anteriores, a iniciativa havia sido apreendido mais de quatro toneladas de fios de origem irregular ou não comprovada.

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— Estamos unindo todas as entidades prejudicadas pelo furto de fios para que juntos consigamos pensar em estratégias e ter medidas cada vez mais eficientes para combater esse crime, que é um dos mais incidentes em Florianópolis — disse o secretário de Segurança e Ordem Pública da Capital, Araújo Gomes, à época da reunião, conforme divulgado pela prefeitura.

A gestão Topázio diz também planejar mudanças na legislação. No mês passado, ela divulgou ter encomendado um estudo técnico sobre esse tipo de crime para propor novas regras de controle da venda de cobre para coibir furtos e a receptação do material ilícito.

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