Dois minutos. Às 9h20min as câmeras de segurança de um comércio em uma rua no bairro Itoupava Norte mostram um carro branco indo em direção a uma casa. Às 9h22min o carro sai da rua e não é mais visto. Por volta das 11h Cleiton* chega em casa e encontra a porta de frente aberta. De dentro da residência onde ele mora com a família há cerca de um ano faltavam três televisores, um videogame e um notebook. No sofá da sala sacolas com tênis, relógios, caixas de som e outros itens estavam separados e denunciavam uma sequência do crime que não chegou a ocorrer.

Continua depois da publicidade

Cleiton é o morador de uma das 487 casas furtadas em Blumenau no primeiro semestre de 2018, segundo dados da Polícia Militar, que revelam um crescimento de 33% nas invasões a residências no último ano. O número contrasta com a redução de 12% na estatística total de furtos na cidade no mesmo período, mostrando que embora menos crimes tenham ocorrido de forma geral, a fatia referente às casas que foram alvos de criminosos cresceu.

Para o delegado Egídio Ferrari, da Divisão de Investigação Criminal (DIC) da Polícia Civil de Blumenau, tratam-se na maioria das vezes de crimes feitos por grupos especializados na invasão de residências, muitas vezes com objetos e carros já encomendados no mercado ilegal:

– Sabemos que muitas vezes esses criminosos entram nas casas por causa do carro. Olham na garagem um veículo que conseguem vender facilmente e cometem o furto ou roubo. Com a oportunidade eles levam também eletrodomésticos e outros pertences na fuga – explica o delegado.

Nos casos mais violentos em casas, quando há ameaça ao morador, a PM também registrou um pequeno aumento de 2017 para 2018 e atendeu 33 roubos nos últimos seis meses, contra 25 no mesmo período do ano passado. Desses casos mais graves, Ferrari destaca que boa parte dos suspeitos já estão presos, mas os órgãos de segurança notam uma reincidência alta entre os criminosos. Para o comandante do 10º Batalhão da PM, tenente-coronel Jefferson Schmidt, é comum ver ladrões com extensas fichas criminais praticando arrombamentos em residências.

Continua depois da publicidade

– Notamos que muitas vezes são recorrentes, e é um tipo de crime que sempre nos preocupa, pois pode colocar a pessoa de bem frente a frente com um bandido e evoluir para um crime maior – destaca.

Da casa de Cleiton os itens levados exemplificam a lista de objetos mais visados pelos ladrões. Conforme o levantamento da PM, televisores são com folga os produtos mais levados de residências furtadas: 17% do total e 186 unidades nos seis meses. Em média, pelo menos uma TV foi furtada por dia na cidade. Na sequência notebooks aparecem como o item mais levado das casas (8%), depois dinheiro, celulares e videogames. A lista tem uma série de produtos curiosos: cinco roçadeiras, quatro motosserras, quatro cachorros e até três passarinhos foram furtadas de casas no primeiro semestre do ano.

Região Norte tem o maior número de furtos

No mapa dos arrombamentos a residências em Blumenau, a região Norte traz o maior volume de crimes e com um aumento percentual significativo em alguns bairros. A Itoupava Central lidera a lista com 14% dos crimes registrados e um crescimento de três pontos percentuais nos últimos dois anos. É seguida pelos bairros Velha, Itoupava Norte e Salto do Norte (que subiu nove posições no ranking de furtos a residências em dois anos).

A Polícia Militar usa as estatísticas para atuar na prevenção com rondas. Além da parte geográfica da situação, os dados também mostram outros padrões dos furtos. A maioria dos furtos são registrados na segunda-feira, provavelmente quando os proprietários chegam em casa após um fim de semana fora e encontram a casa arrombada. Dois terços dos casos ocorrem entre meio-dia e 23h.

Continua depois da publicidade

– Com a operação Viagem Segura nos últimos dois anos nós conseguimos reduzir todos os furtos em Blumenau entre dezembro e fevereiro. Esse aumento nos crimes vem nos meses seguintes – pondera o comandante da PM, tenente-coronel Jefferson Schmidt.

*O nome da vítima foi preservado a pedido do entrevistado e conforme o Guia de Ética e Autorregulamentação Jornalística da NSC Comunicação.

Moradores se organizam contra insegurança e entram no programa Rede de Vizinhos

Na rua onde ocorreu o furto citado no começo da reportagem vários outros moradores também já foram alvo da criminalidade recentemente. No dia seguinte ao furto na casa de Paulo, um vizinho teve o carro levado, além de uma moradora que foi abordada na rua por um assaltante armado. A sensação de insegurança causada pelas ocorrências forçou medidas: câmeras de vigilância, muros altos no lugar das cercas e alarmes geraram um prejuízo aos moradores, que visa combater perdas maiores.

A rua na Itoupava Norte ainda não tem a Rede de Vizinhos – programa da Polícia Militar em parceria com os Conselhos de Segurança (Consegs) –, mas a comunidade se organiza com base no sistema que tem trazido um alívio para moradores de Blumenau. Um dos locais que recentemente aderiu ao programa é o Loteamento Santa Rita, no bairro Fortaleza Alta.

Continua depois da publicidade

Na localidade, os moradores da área predominantemente residencial estavam sentido a insegurança crescer e resolveram se organizar. Aderiram ao programa através do Conseg do bairro, compraram placas e estão se juntando para comprar em lote de câmeras para as ruas e as casas. Através de um grupo no WhatsApp trocam informações sobre tudo que acontece na rua e avisam movimentos estranhos.

– Estamos preocupados com a família. A rede é muito importante para que a gente conheça os vizinhos, tenha uma relação de confiança – conta Nilton César Menschein, morador da região.