A multidão se reuniu nas ruas do bairro operário de Okmeydani, onde a vítima morava, e gritou frases hostis ao primeiro-ministro, em situação frágil por um escândalo de corrupção a poucas semanas das eleições municipais de 30 de março.
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– A polícia do AKP (Partido da Justiça e da Democracia, no poder) assassinou Berkin Elvan, gritava a multidão.
– Quantos jovens têm que morrer para que Erdogan renuncie?, questionou Atilla Izmirlioglu, um aposentado que compareceu ao local.
– Meu único desejo é que acabem com este fascismo sem derramar uma gota de sangue, completou.
Mais de 250 pessoas foram detidas na terça-feira à noite durante as violentas manifestações em várias cidades turcas para denunciar a morte do adolescente de 15 anos.
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Milhares haviam se reunido de forma espontânea em várias cidades do país depois da morte, horas antes, de Elvan, que estava em coma há 269 dias.
O jovem foi gravemente ferido na cabeça por uma bomba de gás lacrimogêneo durante os protestos contra o governo em junho de 2013.
Durante a cerimônia, e com o apoio da multidão, o caixão, envolto em um pano vermelho e com uma foto do adolescente, de confissão alevi (uma minoria muçulmana), avançou lentamente até o cemitério do bairro.
Paralelamente, milhares de manifestantes reunidos nesta quarta-feira em Ancara e Izmir (oeste) para homenagear o adolescente foram dispersados com gás lacrimogêneo e canhões de água pela polícia turca.
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Reunidos em uma praça no centro da cidade, os manifestantes gritavam palavras de ordem contra o governo e tentavam bloquear o tráfego. As forças de ordem reagiram lançando gás lacrimogêneo, constatou um fotógrafo de AFP.
Pelo menos dois manifestantes ficaram feridos e muitos outros foram detidos pela polícia.
– O Estado assassino deve prestar contas, podia ser lido em um dos cartazes dos manifestantes.
Em pontos de ônibus, os manifestantes colaram cartazes do primeiro-ministro Erdogan, apresentando-o como o retrato do robô assassino de Berkin Elvan: perigoso e agressivo.
Em Izmir, metrópole ocidental à margem do Mar Egeu, várias centenas de manifestantes se reuniram convocados por sindicatos e fizeram um minuto de silêncio em memória a Berkin Elvan.
A polícia interveio quando eles invadiram a sede da administração local, segundo informações da rede de televisão NTV.
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Uma mulher teve uma perna quebrada por um jato de água lançado pela polícia e vários outros manifestantes foram hospitalizados depois de inalarem gás, de acordo com a rede.
Elvan é a vítima mais recente da repressão das manifestações iniciadas na praça Gezi de Istambul. A morte elevou a sete o número de manifestantes falecidos durante os eventos que deixaram mais de 8.000 feridos. Um policial também morreu nos protestos.
A família de Berkin afirmou ter visto o adolescente pela última vez em 16 de junho, quando ele saiu do apartamento de um bairro operário no centro de Istambul para comprar pão.
De acordo com testemunhas, o jovem foi atingido por uma bomba de gás lacrimogêneo utilizada pela polícia durante as manifestações contra a “guinada autoritária” e “islamita” do governo do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan, no poder desde 2002.
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Analistas já haviam antecipado que o funeral do jovem em Istambul poderia virar uma grande mobilização contra o governo.
Depois de permanecer em silêncio na terça-feira, o governo reagiu nesta quarta-feira ao falecimento do jovem com o porta-voz Bülent Arinç.
– É muito triste que um criança tenha perdido a vida em um incidente na rua. A Turquia está de luto desde ontem, lamentou.
Tudo isto acontece a menos de três semanas das eleições municipais de 30 de março, no momento em que o governo de Erdogan enfrenta um escândalo de corrupção sem precedentes.
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