A mudança na rotina de moradores de Santa Catarina causada pela pandemia de coronavírus tem atingido também os serviços funerários. Redução do tempo dos velórios e limitação do número de pessoas são algumas das recomendações para evitar o contágio da doença. Ainda assim, o risco de transmissão preocupa profissionais da área.
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Uma nota técnica emitida pelo Ministério da Saúde traz uma série de protocolos para os agentes funerários sobre cuidados no manejo dos corpos. A pasta também orienta que velórios e funerais de pacientes mortos com Covid-19 ou com suspeita da doença sejam evitados. As orientações, publicadas no dia 23 de março, foram atualizadas na nota técnica da Secretaria de Saúde de Santa Catarina sobre os procedimentos para manejo de corpos e funerais durante a pandemia.
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Eduardo D’Ávila, gerente de uma funerária em Florianópolis, afirma que as medidas de precaução têm sido tomadas e que, mesmo quando não se trada de casos de coronavírus, a maioria dos velórios tem tido duração máxima de duas horas. Quando há a confirmação da doença, os velórios não tem sido realizados. De acordo com ele, a medida é adotada pela maioria das funerárias da Capital.
Mesmo assim, Eduardo afirma que o medo de contágio entre os profissionais da área é uma realidade. Ele destaca que a principal preocupação é em relação às mortes não confirmadas pela doença.
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— A gente está tomando todas as precauções, mas temos receio. Temos contato com muitos familiares e, além disso, há muitos casos em que os resultados de Covid-19 saem depois que a pessoa já foi sepultada — comenta.
Segundo Paulo Sérgio, diretor de uma funerária e crematório em Criciúma, no Sul catarinense, na cidade os serviços funerários também tem seguido as recomendações e os velórios tem durado em médica cerca de quatro horas, com número de pessoas reduzido.
— É triste para as famílias, porque nesse momento as pessoas querem dividir a dor com outros familiares, com amigos, mas infelizmente os velórios precisam ser mais rápidos e com menos pessoas — comenta.
Recomendações do Ministério da Saúde
As recomendações do Ministério da Saúde para os profissionais que atuam com manejo dos corpos incluem a utilização de equipamentos de proteção individual (EPIs) como gorro, óculos de proteção ou protetor facial, avental impermeável de manga comprida, máscara cirúrgica e botas impermeáveis.
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Sobre os velórios, caso a família opte pela realização, a recomendação é para que a urna funerária permaneça fechada durante todo o velório e funeral, evitando qualquer contato com o corpo do falecido.
Além disso, a orientação é para que não haja aglomeração de pessoas e que seja mantida a distância mínima de, pelo menos, dois metros entre elas. Deve ser evitada ainda a presença de pessoas que pertençam ao grupo de risco para agravamento do coronavírus, como idade igual ou superior a 60 anos, gestantes, lactantes, portadores de doenças crônicas e imunodeprimidos.
O Ministério também orienta que todo óbito confirmado para Covid-19 pelo Serviço de Vigilância do Óbito deve ser notificado imediatamente ao sistema de vigilância local, e destaca que os pacientes mortos com Covid-19 podem ser enterrados ou cremados.
Mortes confirmadas em Santa Catarina
Em Santa Catarina, até o momento, cinco pessoas tiveram a morte confirmada por coronavírus, segundo atualização do Governo do Estado na noite desta quinta-feira (2). Os óbitos foram registrados em hospitais de São José, Joinville, Biguaçu e Criciúma.
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No primeiro caso de óbito, de um idoso de 86 anos que morreu em São José e era morador de Porto Belo, a funerária que cuidou do corpo não sabia que ele era um caso suspeito da doença. O homem morreu na madruga de quarta-feira (25) e foi enterrado em Blumenau, no Vale, na tarde do mesmo dia, mas a confirmação do diagnóstico para Covid-19 saiu somente à noite.
Segundo a funerária que cuidou do corpo, mesmo sem saber sobre a suspeita da doença, as devidas recomendações foram adotadas, como uso de equipamentos de proteção para o manuseio do cadáver. A Secretaria Municipal de Saúde de Blumenau também afirmou que desconhecia que uma pessoa com caso confirmado havia sido sepultada na cidade.
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De acordo com a Diretoria de Vigilância Epidemiológica de Santa Catarina (Dive-SC), a notificação sobre o diagnóstico de coronavírus deve ser feita ao município de residência do paciente. Porém, a Secretaria Municipal de Saúde de Porto Belo, onde o idoso morava, afirmou que soube do caso no dia seguinte ao enterro.
Judiciário receberá declarações por e-mail
A Justiça de Santa Catarina criou uma conta de e-mail para que as secretarias de saúde dos municípios e estaduais encaminhem as declarações de óbitos relativas a casos, suspeitos ou confirmados, do novo coronavírus.
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Com a medida, cabe aos serviços de saúde o envio por meio eletrônico das declarações para o Núcleo IV da Corregedoria-Geral de Justiça. O endereço criado é o cgj.registrodeobito@tjsc.jus.br. Caberá ao Núcleo providenciar a devida distribuição aos cartórios de registro civil competentes para a lavratura dos registros civis de óbito.
A medida atende à determinação da Corregedoria Nacional de Justiça (CNJ) e do Ministério de Estado da Saúde, que prevê procedimentos excepcionais para sepultamento e cremação de corpos durante a situação de pandemia.