Ainda era pequeno quando comecei a ouvir histórias de um tal Tio Marcos, escravo que de tão bom que foi para o povo de Santo Amaro da Imperatriz, ganhou um busto.

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Ouvia também que o único clube negro que resistiu às grandes construções da capital catarinense teria sido o Novo Horizonte, erguido em plena Avenida Beira-Mar Norte. Anos depois, descobri que a inciativa de inaugurar o clube não tinha a ver só com eventos, mas que era também um símbolo de resistência.

Hoje entendo esse período de luta e que uma matriarca se doou em prol dos seus para que a redenção se materializasse. Por isso, este espaço é dedicado à aniversariante Dona Lourdes.

Rainha, obrigado por nos presentear com suas 97 primaveras! Desejo que seus ensinamentos se perpetuem e eleve cada vez mais a luta da sua família e do nosso povo!

“Maria de Lourdes Farias nasceu no dia 26 de setembro de 1921 na cidade de Santo Amaro da Imperatriz. Filha de Domingos Amâncio Vieira e Afra Custódia Vieira, teve oito irmãos e casou-se aos 17 anos com Amantino Farias, juntos formaram família com 16 filhos (quatro já falecidos), 26 netos (um já falecido) e 16 bisnetos. Mudou-se para Florianópolis em 1965 para acompanhar os 13 filhos que estudavam e trabalhavam na Capital.

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Mulher negra e de muita força, sempre se dedicou à família. Sua história como militante da causa negra inicia-se com o legado familiar. Dona Lourdes, como é carinhosamente chamada, casou em 1938 com um dos primos de Marcos Manoel Vieira, o “Tio Marcos”, um escravo nascido no município de São Pedro de Alcântara, que foi homenageado pela sua simplicidade, por sua história de resistência e lutas, mas ao mesmo tempo pacifica, pelo carinho que tinha com todos independente da posição social ou cor.

Devido a esse histórico, em maio de 1985, Dona Lourdes e os filhos foram convidados por historiadores da UFSC para conhecerem o monumento que estava sendo erguido em homenagem ao escravo. Após uma missa seguida de almoço, felizes pelo acontecimento tiveram a iniciativa de fazer um grupo de apoio à causa negra. Em 16 de agosto de 1985, fundaram a Sociedade Novo Horizonte, que tem como principal objetivo fomentar ações que resgatem a cultura afrodescendente.”

E é isso que até hoje Dona Lourdes, aos seus 97 anos, busca promover junto aos filhos, netos e bisnetos:

“Consciência negra é o dia a dia. Nossa etnia festeja a liberdade e não é um dia único, mas tem que ter uma data pra celebrar. Não queremos separar cultura nenhuma, mas valorizar todas. Haverá um dia em que a miséria e a opressão não serão mais do que cicatrizes na história”.

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