A Fundação 25 de Julho iniciou no último mês um projeto de rastreamento dos produtos de agricultores da região de Joinville certificados pela entidade. Com ele, o consumidor vai conhecer o passado do que está comprando. Informações sobre o produtor, a localização e o processo realizado vão estar disponíveis em um site, ainda em desenvolvimento. E tudo isto poderá ser verificado antes de passar pelo caixa.

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Para acessar os dados, basta baixar um aplicativo leitor de código QR no celular ou tablet e aproximar o aparelho da imagem do código que vai ser impressa no rótulo. A expectativa é de que o rastreamento seja concluído em até um ano.

Atualmente, 35 produtores são certificados e comercializam 14 itens, como geleias, melado e musse. Eles podem ser identificados no comércio pelo rótulo da embalagem, que contém as inscrições da Fundação 25 de Julho e da Associação Joinvilense de Agroindústrias Artesanais Rurais (Ajaar). Isto significa que são empreendedores capacitados e seus processos são monitorados quanto ao atendimento à legislação.

Segundo o presidente da Fundação 25 de Julho, Valério Schiochet, o rastreamento faz parte de um projeto mais amplo da Fundação 25 de Julho e da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de SC (Epagri) para tornar a agricultura um negócio rentável a ponto de conter o êxodo rural.

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A sensibilização do consumidor faz parte do processo. Não há números exatos sobre a redução da atividade agrícola, mas as entidades percebem que a permanência das famílias no campo é uma maneira de preservar a cultura e o meio ambiente.

Exemplo de resistência

Primeira a participar do rastreamento da Fundação 25 de Julho, a família Goudard é um exemplo de resistência e empreendedorismo. O casal, um filho e três funcionários são responsáveis pela produção mensal de 18 toneladas de aipim descascado e outras 22 toneladas de produto in natura.

Em outubro do ano passado, Vilson Goudard comprou uma máquina de descascar aipim que equivale ao trabalho de quatro profissionais. Segundo ele, está muito difícil encontrar mão de obra. Por isso, quando acabar o financiamento do equipamento de R$ 30 mil, vai economizar nos custos.

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O filho Leandro, de 21 anos, prefere o campo ao lugar da indústria, mas é uma exceção entre os jovens que iniciam a carreira.

-O poder público acordou tarde. Hoje, existem crédito e orientação, mas deviam ter conseguido segurar a nossa geração. Quando começamos, o sacrifício era grande. Muitos desistiram do campo, e a maioria dos jovens agora vai embora aos 18 anos. Várias propriedades são usadas como chácaras e não para atividade produtiva-, diz a esposa Lilian.

Empreendedorismo rural

Para tentar virar o jogo, o poder público apoia-se em treinamento e na criação da cultura do empreendedorismo, para incentivar o agricultor a realizar beneficiamentos para tornar a atividade lucrativa. Um exemplo típico em Joinville é a venda de aipim descascado e embalado.

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O aipim representa a quarta maior produção de alimentos do município (20.400 quilos). No entanto, apresenta o menor custeio de produção e a maior renda bruta entre as principais culturas, de R$ 20,4 milhões ao ano. Isto se deve, em parte, ao beneficiamento. O preço in natura varia de R$ 0,80 a R$ 1 por quilo. Já o aipim descascado é vendido por até R$ 3.

Valério Schiochet reconhece que não é possível avançar estando à margem do conhecimento. Por isso, outros dois projetos devem ser iniciados nos próximos meses. O primeiro está ligado à oferta de serviço de internet no meio rural e treinamento para que o agricultor se beneficie de vários serviços online, necessários à gestão do negócio. O outro é ocupar antigas escolas agrícolas desativadas próximas às áreas de plantio como centros de capacitação.

Opinião: Osmar Vanderlinde (técnico da Epagri em Joinville)

A rastreabilidade de produtos agrícolas é um mecanismo que permite identificar a origem do produto desde o campo até o consumidor, podendo ter sido, ou não, transformado ou processado. Por isso a importância de se garantir a qualidade e a segurança do alimento aos consumidores, que a cada dia são mais exigentes em qualidade e sanidade.

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Diante do mercado que cresce em dimensão e exigências, indicadores como “qualidade da massa e sabor” e “padrão de raízes” do aipim tendem a aumentar suas importâncias.

Com o objetivo de fomentar este processo de qualidade, a Epagri, há três anos, vem desenvolvendo trabalhos de pesquisa com cultivares de aipim de mesa por meio da estação experimental da Epagri de Urussanga, com apoio dos escritórios municipais do órgão, para recomendar aos produtores rurais cultivares que atendam às melhores características de produtividade, qualidade de raízes, de massa, de sabor e cozimento.