Os funcionários do Centro de Atendimento Socioeducativo Provisório (Casep) em Blumenau estão em greve há mais de duas semanas, mas a faixa que anuncia a paralisação não é novidade na frente da unidade que abriga jovens infratores. As ameaças de greve têm se tornado comuns devido à uma principal reclamação dos funcionários: o atraso nos salários. O último pagamento feito pelo Estado à ONG que administra o centro foi dia 5 de janeiro. Desde então contas atrasaram, funcionários não receberam e a unidade foi obrigada a paralisar as atividades, com a transferência dos 18 adolescentes para outras cidades.
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Adolfo Luiz Moniz de Andrade é um dos educadores do Casep que têm se revezado no plantão que a administração manteve na unidade. Por ser um local do Estado, é obrigatório que ao menos uma pessoa faça a segurança do espaço, mesmo com a paralisação. Das 18h às 6h desta terça-feira ele era o único a circular nos corredores do Casep de Blumenau. Sem receber há dois meses, conta que consegue se manter somente graças à um segundo emprego, numa empresa de alarmes:
_ Os atrasos começaram em maio do ano passado. Desde lá fui obrigado a procurar outro emprego para me manter. Eu moro sozinho, mas outros colegas aqui precisam sustentar família. Sem saber quando o salário vai chegar é difícil. Com o atraso destes meses alguns já precisaram parar a faculdade ou sofreram ameaças de até perderem a casa por não poderem pagar aluguel_ conta.
O histórico também dificulta a manutenção de funcionários pelo Casep. Segundo Adolfo, muitos pedem demissão logo que os salários começam a atrasar, enquanto outros nem aceitam a vaga por saberem da frequência dos problemas no pagamento.
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Sem receber o repasse há meses, a ONG Opção de Vida deixou de ter condições de pagar as contas do Casep. A internet já foi cortada e os veículos não podem mais abastecer. Contas de água e luz também atrasaram e as entregas de comida já não vêm mais. Na cozinha, sobraram frutas amassadas da última remessa que a unidade recebeu, na semana passada, e na geladeira, alguns restos da pouca comida que sobrou. Mesmo em greve, os funcionários estavam mantendo o cuidado básico com os internos, com alimentação e higiene, mas a escassez fez com que todas as celas ficassem vazias.
Sem comida para os detentos, os educadores que trabalham no Casep também ficam com poucas opções. A alimentação deles é feita na mesma cozinha e depende da comida que parou de chegar.
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