Os pés apoiados na pedra encharcada pela água fria do rio. O corpo inclinado para trás, com uma mão às costas segurando a corda que te guiará. No campo de visão, o rosto do instrutor dizendo “agora não adianta chamar a mamãe”, e o céu azul desfocado ao fundo. Uma espiada por cima do ombro revela os 55 metros de imensidão onde o rio despenca penhasco abaixo. O som da água ruge lá embaixo, ecoa pelas paredes de pedras altas e verticais na altura equivalente a de um prédio de 15 andares. Agora vai, solta a mão e deixa a corda correr, é hora de descer pelo rapel.

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Estamos no topo da Cachoeira dos Medeiros. Até aqui foram 16 quilômetros pela Estrada Geral da Serrinha, cruzando por rios, pontes e curvas desde o centro de Anitápolis, na Grande Florianópolis. Às margens do rio do Salto, estão três casas simples que formam a Pousada dos Medeiros, administrada por Dalvino e Maria Klok. O casal deixou Florianópolis há um ano e meio para morar no alto do morro, vizinhos da cachoeira, da mata e da natureza.

— Viver aqui é uma paz. Me chamaram de louco quando deixei a cidade. Loucura é viver por lá. Aqui a vida segue mais tranquila e é muito bonita — conta Dalvino Klok. 

Klok explica que o rio do Salto nasce ali perto, cerca de dois quilômetros acima da cachoeira. Como percorre grande parte do caminho coberto pela sombra da mata, o calor do verão não esquenta as corredeiras e a água ainda chega fria, perfeita para refrescar a sensação de abafado que o sol do meio-dia aplica sobre os aventureiros.

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Somos nove adultos que, assim como Dalvino e Maria, deixaram o litoral em busca de contato com uma experiência diferente. Dalvino observa da beira do penhasco a movimentação, não tem vontade de descer a cachoeira de rapel. Mas Maria não hesita diante do convite do instrutor Julio Cesar Faria e se junta ao grupo que aguarda às margens do rio.

Por segurança e também para melhor aproveitar a experiência do rapel, as descidas são lentas e duram cerca de 10 minutos por pessoa. Mas para quem está na corda, os segundos do relógio não passam pela mente e o ponto máximo de emoção dura tempo suficiente para ficar gravado na memória.

Após descer cerca de um metro com os pés apoiados na parede de pedra, mas já com o peso do corpo sustentado pela corda e equipamentos de segurança, chega o momento em que é preciso soltar-se para continuar. A parede de onde vem a água se tornará negativa, isso quer dizer que ficará mais para dentro, formando uma concavidade que você não conseguirá tocar. A partir desse ponto, a sensação é de que não se pode mais voltar, e para seguir o rapel a tensão deve ser superada.

O receio vira curtição. A tensão de tentar controlar a descida se perde e você simplesmente confia. A água bate no rosto e a paisagem, pendurado na metade da cachoeira, é rara. Ao chegar na base, deve-se ter muita atenção com as pedras molhadas, que são extremamente lisas. Depois, a dica é observar a real dimensão da queda d’água. Só lá embaixo se percebe o quanto somos pequenos, escondidos no fundo do buraco cercado de mata, à beira de um rio, em um canto remoto da Serra do Mar, em Santa Catarina.

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Tenha atenção aos itens de segurança

O rapel, em qualquer lugar, só será divertido se houver segurança e se a pessoa que for descer pela corda sentir-se protegida com os equipamentos e os instrutores. O ideal são três pessoas trabalhando para cada uma que faz a atividade. As recomendações básicas são procurar uma operadora qualificada e com experiência nesse tipo de trabalho, e depois observar se são oferecidos capacetes, cadeirinhas, cordas em bom estado e se todos os envolvidos estão usando calçados.

Outro ponto importante é que deve haver sempre duas cordas presas à pessoa que faz o rapel: uma que guia até o final e outra que serve de backup – garantia que, se houver qualquer acidente com alguma das cordas, ela estará ali para sustentar o aventureiro. 

— Todo o começo do rapel é meio complicado para quem não tem muita experiência. É a troca do certo, do contato com o chão, para permanente suspensão na corda. A nossa dica é não olhar para baixo nesse início, depois todos relaxam, curtem o visual e o banho de cachoeira — explica Julio Cesar Faria, instrutor da Ativa Rafiting.

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