A menos de dois meses no cargo, o prefeito de Palhoça, Camilo Martins (PSD), está com a missão de definir o futuro da autarquia Águas de Palhoça, envolvida num esquema de corrupção.

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Camilo não é investigado e sim testemunha da investigação do Ministério Público. Nesta entrevista, dada em seu gabinete na quinta-feira à tarde, ao lado de assessores, o político conta o motivo do almoço que teve com o empresário da Raiz Soluções, Luiz Fernando Oliveira da Silva, o Dentinho, e o ex-secretário de Governo, Carlos Alberto Fernandes Júnior, o Caco.

Diário Catarinense – Constam na investigação depoimentos de policiais que lhe citam em relação a esse almoço no dia 12 com o empresário da Raiz e a diretoria da Águas. O senhor esteve no almoço?

Camilo Martins – Foi assim. Eu estava viajando e como eu tinha feito uma visita em todos os órgãos do município eu também fiz na Águas de Palhoça. E lá eu conheci toda a estrutura, fui apresentado ao proprietário da empresa (Raiz), o Luiz Fernando, logo que assumi. Cheguei e cobrei assim, ‘Ó, o teu atendimento não está bom, não estou gostando disso, daquilo’. Fiz “Ns” questionamentos e falei: ‘Queremos um bom trabalho ao município de Palhoça’. Fiz essa conversa muito brevemente. Ele estava lá, mostrou que ia tentar melhorar. Certo dia me liga o diretor Geovani (Guilherme Probst) da Águas, que é um servidor, dizendo que o Luiz Fernando queria conversar comigo. Daí eu disse para ele, ‘eu estou fora mas tu marca na agenda’. Ele agendou aqui e cumpri minha agenda. Chegou nesse dia, no qual eu tive esse almoço, que estava marcado para o meio-dia no restaurante Tropilha. Acontece que aquilo é uma loucura, eu cheguei lá 13h10min e fiquei até 13h30min. Na realidade cheguei lá estavam várias pessoas.

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DC – O Caco estava também?

Camilo – O Caco foi.

DC – O que vocês trataram?

Camilo – A conversa ficou muito em bate-papo. Daqui a pouco eu tinha um compromisso com um empresário aqui de Palhoça no qual ele ganhou o prêmio da ADVB. Ele estava me aguardando às 13h30min. Cheguei e disse, ‘Giovani, essa reunião, do que se trata?’. Ele diz, ‘Não, essa reunião Camilo, é que o Luiz Fernando quer dizer que vai melhorar o call-center, que vai botar não sei quantas mais pessoas para o atendimento, vai melhorar os carros que tu pediu que fossem plotados com os emblemas da empresa Águas, aquela coisa, informes, vai melhorar isso e aquilo’. Terminou eu disse, ´Ó, eu vou cobrar muito o trabalho, principalmente a questão dos buracos que vocês estão abrindo para fazer novas instalações e estão botando só asfalto frio. Eu não vou aceitar, até logo’. E fui embora.

DC – A renovação do contrato com a Raiz aconteceu nessa sexta-feira?

Camilo – Não. A assinatura eu devo ter assinado no dia 30, uma sexta-feira bem antes desse almoço. Eu cheguei aqui e em 12 dias tinha que definir. Eu tinha três alternativas: ou fazia nova licitação, e eu não tinha tempo hábil para fazê-lo, porque é uma concorrência pública, prazo de edital, leva no mínimo 60 dias… ou eu fazia um contrato emergencial com outra empresa, que o rigor é muito maior. Porque tu vais fazer um regime emergencial se tem uma empresa trabalhando? E eu tinha uma renovação de até seis meses. A gente entrou em contato com a Casan nesse período para ver o que ela poderia demonstrar para o município de Palhoça. Porém, temos uma dificuldade muito grande em Palhoça, o dinheiro que é arrecadado na Águas entra nos cofres como receita do município. E essa receita está sendo contabilizada para o gasto com o pessoal, que o limite máximo é 54%. Nós vamos chegar ao final do ano em 52,8% com gasto de pessoal. Isso não é o Camilo que fez esses aumentos. Foram as administrações passadas. O que acontece, se eu tentasse nessas conversas com a Casan, é impossível, não tinha como fazer. Então não tive outra alternativa. É um serviço essencial, de continuísmo. Eu expus isso num documento, os motivos pelos quais eu estava fazendo essa renovação, esse termo aditivo por mais seis meses. Inclusive determinei que a procuradoria da casa começasse a elaborar ou um novo edital ou uma possível municipalização.

DC – Qual foi o valor da renovação para a Raiz até o final do ano?

Camilo – Ela recebe por mês. São três contratos de um total de quase R$ 900 mil/mês. Já estava previsto no orçamento até o final do ano.

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DC – Três dias depois do almoço houve as prisões. O senhor se sentiu traído?

Camilo – Eu assumi o governo, estava conhecendo essa estrutura, eu fui lá a pedido de um servidor dos quadros da Águas que eu tinha pedido serviço de qualidade. Demonstrou, fizeram a agenda, eu fui lá, rapidamente foi a conversa e saímos de lá, chega segunda-feira estoura essa situação. Primeiramente eu queria saber o que estava acontecendo. Saía muito na imprensa que foi contratação sem licitação. Não foi. Havia licitação executada pelo prefeito Ronério. Essa licitação foi concorrência pública no qual a empresa que hoje encontra-se nessa situação foi a vencedora, foi homologada e houve uma renovação.

DC – Em algum momento teve suspeita sobre essa empresa?

Camilo – Em momento algum. Eu fui cobrar a qualidade nos serviços. Eu fui lá no dia que eu fiz a visita. Em virtude daquela cobrança eu acredito que ele pediu esse almoço para dizer que iria melhorar os trabalhos.

DC – Qual a sua relação com o empresário da Raiz?

Camilo – Eu não conhecia ele, nunca tinha visto.

DC – E com o pai do Caco (Carlos Fernandes, que também foi preso)?

Camilo – O pai do Caco eu sabia quem era ele, mas também sei quem era o seu Carlos Alberto Fernandes, mas também nunca tive contato. O Carlos Alberto Fernandes Júnior (Caco) eu sabia que ele participou das administrações anteriores. Na eleição do ano passado a gente ficou sabendo que ele queria ser candidato no partido. Teve a candidatura no Ivon, daí não houve a convenção, eles brigaram, onde eu fui mais conhecê-lo assim, saber quem era. Fui ter uma ligação com ele somente após, quando eu assumi aqui, no qual veio a montagem do governo, onde o PSDB veio fazer parte do meu governo e ele foi indicado pelo partido.

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DC – Como o senhor vê hoje a empresa Raiz?

Camilo – Logo após os fatos fizemos a exoneração do secretário de Governo, o afastamento do servidor que é efetivo, que lá estava, do Allan, e determinamos a abertura de sindicância e auditoria, para daí sim tomar posição com esse contrato. Tem que ter muito critério, porque todo contrato tem que ser respeitado. Uma decisão precipitada pode dar prejuízo muito maior ao município.

DC – O senhor se sente de alguma forma atingido com essas prisões e as suspeitas?

Camilo – Pelo que estou tendo conhecimento, mais pela imprensa, é que uma investigação que já vem da administração do Ronério, em novembro de 2012, onde teve algumas escutas, aquela coisa, e ela estoura na minha administração. Me sinto assim, de certa forma, indignado com toda a situação. Porque tão logo que eu assumi estourou essa bomba. Hoje a impressão que passa é que parece que é o Camilo que está envolvido. Não, é um serviço que eu peguei e não tinha outra alternativa se não renovar e todo mundo depende da água. Há uma possibilidade muito grande e quem sabe de o município tocar aquela Águas, sem terceirização.

DC – Com relação ao fato, o senhor acredita que possa mesmo ter havido a corrupção, alguém levando vantagem para ter essa renovação?

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Camilo – Tem uma investigação em tramite. Vamos aguardar as investigações. Não posso aqui dizer se houve ou não houve. Nunca fui procurado por ninguém para falar desse assunto, só fui quando desceu o documento da secretaria de Administração dizendo, ‘Ó, vence no dia 30 de junho o contrato de renovação, tu tens que tomar uma posição’. A procuradoria fez o parecer favorável.

DC – O senhor foi ouvido em que condição pela investigação?

Camilo – Como testemunha. Inclusive conversei com o promotor Alexandre Graziotin e ele me falou isso. Quero dizer à população que estamos trabalhando muito e é uma situação que a gente sente um prejuízo maior ao município, um escândalo desse, mas que vamos tomar a melhor decisão referente à Águas de Palhoça. Hoje temos a tarifa menor da Grande Florianópolis, os serviços não são de excelente qualidade, mas são bons e vamos reverter esse quadro, principalmente em relação ao esgoto e água tratada.