A segunda fuga da história do regime fechado da Penitenciária Industrial de Joinville, ocorrida segunda-feira de manhã, acendeu a luz amarela no Departamento de Administração Prisional (Deap) do Estado.

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Uma sindicância foi aberta para descobrir como dois presos conseguiram escapar pelo portão principal da unidade nas caixas que são usadas para o transporte de carga entre a prisão e uma das 18 empresas que têm linhas de produção na penitenciária.

Fábio Ferreira da Cruz, 27 anos, e Rafael Cardoso da Silva, 23 anos, cumpriam pena por homicídio e estavam presos há um ano e meio. Se somadas as penas dos dois, eles deveriam ficar mais de 50 anos na cadeia.

Por enquanto, só há uma certeza: as caixas em que eles se esconderam não foram vistoriadas segunda-feira de manhã e, por isso, eles conseguiram escapar. Já do lado de fora, eles exigiram que o motorista do caminhão parasse perto dos trilhos que cortam a zona Sul. E sumiram, a pé.

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– Essas caixas devem ser vistoriadas antes de serem lacradas e há uma série de procedimentos antes da saída. Abrimos uma investigação para apurar quem, efetivamente, contribuiu para a fuga, com dolo ou com culpa -, disse o diretor da prisão, Richard Harrison Chagas.

A investigação, segundo o diretor, envolve os agentes prisionais e todos os outros presos que estavam no espaço chamado de quadrante, que representa uma linha de produção dentro dos pavilhões.

– Os presos trabalham seis horas por dia em cada um dos quadrantes. As embalagens que vão para as empresas são vistoriadas. O fato é que a embalagem não foi vistoriada. Os outros apenados que estavam na unidade também vão responder por participação -, disse.

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A principal dúvida é como os presos conseguiram entrar nas caixas sem serem vistos. Há 18 empresas com unidades de montagem e produção dentro da Penitenciária, onde trabalham 385 presos. Pelo menos 20 caminhões circulam todos os dias no pátio da prisão. As empresas instaladas no local pagam um salário mínimo aos trabalhadores e 25% ficam para a unidade prisional utilizar em melhorias, infraestrutura e segurança.

Dupla conhecida pela violência

Fábio Ferreira e Rafael Cardoso têm histórico de violência, mortes, prisões e fugas. Fábio deveria cumprir 36 anos de prisão e Rafael, 24. Em março do ano passado, o Tribunal do Júri de Joinville condenou Fabio e outro homem por um dos assassinatos mais violentos dos últimos anos na cidade.

Os dois mataram Julio César dos Santos, de 24 anos, que pagou com a vida uma dívida de drogas. Fábio foi acusado de homicídio qualificado, associação ao tráfico, destruição de cadáver, furto qualificado, corrupção de menor e falsa identidade. Os dois mataram Julio em março de 2010. Eles o renderam, o amarraram, deram uma surra nele e tentaram enforcá-lo. Em seguida, cortaram seu pescoço.

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O corpo de Julio foi enrolado em um lençol e colocado no porta-malas do próprio carro, para depois ser levado para um matagal, no bairro Itinga, onde foi queimado dentro do veículo.

Mais tarde, a polícia chegou a considerar que a morte foi encomendada por integrante do Primeiro Grupo Catarinense (PGC), organização criminosa que age nas cadeias de Santa Catarina.

Rafael foi preso em 2010 acusado de tráfico de drogas e participação no assassinato dos irmãos Juliano e Isak Domingos.

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Os corpos foram abandonados em um matagal entre Balneário Barra do Sul e Araquari. Em setembro de 2011, ele fugiu com outros três presos do Presídio Regional de Joinville. E acabou capturado em uma casa em São Francisco do Sul.

Segunda vez dentro de caixas

Esta foi a segunda fuga da história do regime fechado da unidade. No fim de novembro do ano passado, um detento saiu da mesma maneira: escondendo-se em uma das caixas. Desde 2005, quando a penitenciária foi inaugurada, houve outras saídas, mas todas do regime semiaberto, em que o preso tem contato com a rua.

A direção do Deap considerou a saída preocupante porque a penitenciária é uma prisão nova e tem rígidos procedimentos de segurança. O diretor Leandro Lima também determinou a abertura de uma sindicância para apurar o que falhou segunda-feira.

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A PM montou barreiras e fez buscas pelos bairros da zona Sul, mas nenhum dos presos foi capturado até a noite de segunda-feira.

O juiz João Marcos Buch, responsável pela Corregedoria do Sistema Prisional de Joinville, expediu um mandado de prisão para a recaptura dos dois segunda-feira à tarde.

– É preciso apurar se houve falha e eu, pessoalmente, não meço esforços. O Deap precisa dedicar uma atenção ao caso, mas não só isso. Tem de dedicar uma atenção forte a todas as unidades prisionais -, disse o magistrado.

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Segundo ele, a fuga de segunda-feira pela manhã é uma situação isolada que não afeta o trabalho de ressocialização posto em prática na penitenciária.

– Há um trabalho realizado ali que é modelo, e esta fuga não deve ter qualquer influência.

Fábio Ferreira da Cruz

Rafael Cardoso da Silva