José* dirige oito horas por dia um ônibus de 1997. Durante a jornada convive com o barulho do motor, janelas rangendo e a fumaça do escapamento. O assento é desconfortável. Reclama da sujeira no interior do carro, uma mistura de pó com óleo que fica impregnada em partes do painel e da lataria. No final do dia sente dor na coluna e nas pernas. Daniela Gomes Plácido, atendente de telemarketing, pega quatro ônibus diariamente. Em alguns dias, volta para casa “numa lata de sardinha”, como ela mesmo define. Mês passado, durante um temporal, retornou com pingos d’água caindo sobre seu ombro, pois chovia em cima de seu assento.
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>Seterb quer cobrar multa de R$ 20 milhões na Justiça
Histórias como estas são comuns no transporte público de Blumenau, que está com pelo menos 27% da frota vencida. São veículos com 12, 14, até 17 anos de uso – o prazo estipulado no contrato de concessão é de no máximo 10 anos para os modelos comuns e 12 para os articulados. No fim de novembro de 2013, o Seterb multou o Consórcio Siga justamente pela falta de renovação dos ônibus. Quatro meses se passaram e somente 16% do total foram substituídos. Sem ver resultado prático, a autarquia afirma que vai cobrar a multa. Na semana passada, o primeiro passo para a cobrança foi dado com a notificação do consórcio.
Conforme o relato de trabalhadores, os veículos quebram com frequência. Num único dia até três deles deixam funcionários e passageiros na mão. São situações estressantes, como a vivida por um motorista de um articulado, que preferiu não se identificar. Ele precisou esperar o reboque por duas horas para tirar da rua das Palmeiras o veículo que dirigia.
– Imagina você com um veículo daquele tamanho e todo o trânsito te xingando por causa disso. Não é nada fácil.
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De acordo com Ari Germer, presidente do Sindicato dos Empregados nas Empresas Permissionárias do Transporte Coletivo Urbano de Blumenau, o estresse é o principal problema de saúde sofrido pela categoria:
– Um carro que volta e meia quebra ou tem falhas deixa o profissional nervoso, pois ele não consegue cumprir com o itinerário no tempo que é estipulado. Isso afeta o psicológico de qualquer um – afirma.
O presidente do Seterb, Sérgio Chisté, é categórico. Afirma que o uso de ônibus com seis, sete anos a mais do que o permitido não será mais tolerado.
– O papel do Seterb é de fiscalizar. Até então nunca tinha sido aplicada multa pelo descumprimento do contrato, que determina uma vida útil dos veículos.
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Assistente técnico de uma empresa que fabrica ônibus, Roberto de Oliveira explica a importância da manutenção dos ônibus:
– Ela é fundamental para a vida longa do ônibus. Se não cuidar, mesmo os novos podem durar menos do que o previsto. Além de tudo é importante para a segurança tanto do motorista quanto do passageiro.
* O nome foi trocado a pedido do entrevistado.
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