O pensador francês Edgar Morin foi o palestrante desta segunda-feira no ciclo de altos estudos Fronteiras do Pensamento. Vestindo um terno azul risca de giz e com um cachecol marron amarrado ao pescoço, Morin apresentou suas próprias propostas para o futuro – um futuro que, para ele, não deve passar unicamente pelo desenvolvimento econômico, como outras tentativas anteriores de revolução, incluindo a soviética que ele um dia apoiou:

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– Chega de tudo girar em torno do desenvolvimento, é preciso uma política de humanidade simbiótica que reconheça cada nação e cultura. – falou.

Antes de Morin subir ao palco, foi exibido um vídeo de 30 minutos com outro dos palestrantes previstos para este ano no Fronteiras, o sociólogo polonês Zygmunt Bauman, que precisou desmarcar a vinda a Porto Alegre mas recebeu uma equipe do Fronteiras em sua casa na Inglaterra para gravar um depoimento a ser exibido. Morin assistiu à palestra gravada pelo colega de um assento na segunda fila do auditório lotado, concordando às vezes com um sorriso e com um aceno de cabeça. Em duas ocasiões, retirou um papel do bolso para anotar tópicos a desenvolver mais tarde inspirados nas palavras de Bauman.

Morin anotou quando Bauman referiu-se à necessidade de uma democracia global adaptada à era digital que pudesse honrar a invenção ancestral das democracias nacionais.

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– Eu estou velho demais para isso, mas vocês, os mais jovens, têm a tarefa de criar uma nova democracia para este mundo, global, como nossos antepassados inventaram a democracia dos estados nacionais – disse Bauman.

Morin também anotou quando Bauman referiu-se ao “profético” ensaio de Freud O Mal-Estar na Civilização e ao fato de que todas as sociedades civilizadas negociam um pouco de liberdade em troca de segurança – ou segurança em troca de liberdade, situação que Bauman identifica na sociedade contemporânea. E puxando o fio do “mal-estar” lembrado por Bauman, Morin criticou a noção contemporânea de “bem-estar” muito associada à aquisição material, conclamando a uma mudança de noção, não de bem-estar, mas de bem-viver – sempre passando, claro, por uma mudança na educação para o futuro, tema central de muitos de seus livros.

– Precisamos reformar a educação totalmente: o verdadeiro educador ensina a enfrentar os problemas da vida e a enfrentar incertezas – disse.

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